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sábado, 26 de abril de 2014

Os ventos da História



Os acontecimentos, antigamente impensáveis de acontecer e que na actualidade enchem os media nacionais e internacionais de notícias alarmantes sobre a falta de segurança que se sente, no individual e no colectivo dos grupos, sociedades e nações.

Os conflitos não estão apenas latentes mas em franca ebulição pela acção de terroristas que agem congregados e com o poder de mobilizar povos inteiros para aquilo que eles chamam de "guerra santa", contra a qual os meios das nações mais poderosas se estão a tornar impotentes, pela ausência de uma guerra convencional.
As grandes nações tornaram-se fragilizadas e vulneráveis.
A História age, por vezes, contra a corrente dos mais fortes, pois quando estes se sentiam seguros na exploração dos mais pequenos - o que foi um erro tremendo! - tudo corria de feição, porque parecia próprio dos pequenos não terem voz para se fazerem ouvir.

Este estado de coisas não podia durar indefinidamente. 
Os mais pequenos estão a tomar consciência da sua situação de injustiça. Só que os meios violentos, utilizados para reclamarem um lugar de dignidade neste mundo, poderão não servir ninguém, mas destruir a todos.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada com tão boas intenções pela ONU, poderia constituir essa plataforma comum de entendimento. Mas todos sabemos que uma boa parte das suas normas são sistematicamente desconhecidas e violadas por aqueles que detêm o poder. Enquanto o homem não for visto como um fim, para ser considerado apenas um meio para alguns poderosos, será difícil conseguir o acordo necessário para a formulação de normas básicas para uma ética mundial. 

Hoje tornou-se evidente que esta sociedade civilizada e detentora do progresso, que tem tudo quanto se refere a bens materiais, que dificilmente pode alimentar utopias, convencida de que tudo está ao seu alcance, confiada no prodigioso desenvolvimento técnico-científico, afinal esta sociedade parece ter dado início a um processo de implosão que a poderá conduzir ao seu próprio aniquilamento.

H. Küng analisa o que se passa com a única super potência da actualidade e afirma: "A crise da principal potência ocidental é já uma crise moral de todo o ocidente, incluindo a Europa: desmoronamento das tradições, de um sentido global da vida, de critérios éticos absolutos e de carência de novos fins, com todos os danos psíquicos que daí derivam". E mais adiante: "O ocidente encontra-se perante um vazio de sentido, de valores e normas, que não só afecta aos indivíduos, como também constitui um problema político de enorme grandeza".

H. Küng pretende então que se adopte um conjunto de valores de âmbito universal, que permita um consenso social e que respeite o homem como fim em si mesmo. Isto fundamentaria uma ética autonômica de consenso, aceite por crentes e não crentes. Mas como chegar a este consenso sem a referência a algo de absoluto? Poderá ser o homem esse absoluto? Dada, no entanto, a sua consciência de carente, de limitado, o homem não pode ser esse absoluto, pois busca fora de si a sua razão de ser e a sua realização. Então, diz Küng, só as religiões podem fundamentar o incondicional no Incondicional Absoluto, que é Deus. Desta forma a ética deixa de ser autónoma, de precisar de consensos, já que deve referir-se ao Absoluto. 
Há aqui, como se vê, uma contradição.
Por outro lado, todas as religiões fazem, por sua própria natureza, referência ao Absoluto. 

Isto obriga a colocar o problema da verdade, não entre religião e religião, mas também dentro de cada uma das religiões, como diz Küng, porque todas correm o risco de se afastar da verdade, como a própria história o demonstra. O critério para discernir a verdade em cada uma das religiões seria a realização do humano. 

Assim, um Absoluto que não respeite o humano, que sacrifique a vida do homem e que premeie quem destrua a própria vida ou a vida dos outros não é verdadeira. Não haverá aqui mais uma contradição, na medida em que o Absoluto encontraria a sua justificação no não absoluto? Não, porque é a nossa compreensão do Absoluto que precisa de encontrar justificação no não absoluto. Por outras palavras: a ideia de um deus que desprezasse a sua criação, que tivesse criado a vida para depois premiar aqueles que se empenhassem em a destruir não pode ser verdadeira.
 Isto pode ser justamente um critério de verdade.
Mas será então possível encontrar princípios aceites por todos, para um diálogo ecuménico, que garanta o entendimento e a paz entre os homens e entre as nações?



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