A disponibilidade pressupõe sempre a assunção de uma
atitude de quem está no seu posto de vigia humano devidamente atento e pronto a
partir, munido do farnel do amor para o levar a quem dele precise.
A vida do homem tem de ser uma atitude de serviço,
pois como alguém disse, quem não vive para servir – isto é, para estar
disponível – não serve para viver, fazendo desta postura um cartão de
visita que se apresenta aos outros sem tocar o sino a rebate, mas
com a humildade de quem tem consciência, que cada homem perante o seu igual se
deve posicionar na expectativa de ser útil quando o momento se proporciona,
pois só assim, a vida ganha o seu verdadeiro sentido.
Ser humano é ser solidário e só o é quem se mostra
livre para dar, no pressuposto que quem está disponível se assemelha ao atleta
com o pé em cima do risco da partida, atento para não o pisar - entendendo-se
isto, em não hesitar ao primeiro impulso generoso da disponibilidade - porque se o fizer, deixa que se imponha o
egocentrismo feroz que não deixa abrir a flor humana que existe em cada homem.
É preciso estar pronto a partir, em cada dia, para a
aventura do amor, numa viagem, cujo fim desde logo conhecido é saber-se que no
fim da linha está alguém a necessitar de gentileza, algo que não pode – nem
deve - ficar arredia da convivência social sem se correr o risco de afundar sem
proveito o misto do humano e do divino que é um atributo de toda a criatura.
A disponibilidade, exige apenas, a coragem de se
deixar soltar o lado bom que existe e é, em grande parte o que forma o homem e
lhe dá o estatuto de ser superior na Obra da Criação, que lhe reserva como meta
– onde é preciso chegar num dia qualquer - a arte de viver que é o cumprir-se cada um em si mesmo,
empunhando a bandeira da sua história com acções meritórias em prol de uma
vivência no campo do gregário social, destino onde cada um completa a sua humanidade, sendo
deste modo, um avançar conhecendo do caminho a direcção mais importante: aquela
que conduz o coração do homem, na certeza que cada um vive aqui e agora um
destino que se prende a uma realidade escatológica, que é o caminho que o leva
até uma objectividade que o ultrapassa, por estar para além da finitude
temporal de cada destino terreno.
A disponibilidade assim entendida é uma dádiva sem
espera de recompensa, pois só assim ganha sentido tudo quanto está para além
desse desiderato que vai ganhando forma em cada dia, levando a construção do
edifício do Infinito para onde tende a natureza humana, a colocar em cada acção
um tijolo a mais.
A disponibilidade é, neste sentido, um dom que faz o
homem sair de si mesmo e mergulhar no outro, bem dentro da sua própria
história, na convicção serena que todo o
tempo dos seus dias não é, exclusivamente, de sua pertença, por haver desse
mesmo tempo – que ele pode usar, se quiser, para proveito próprio – uma
quota-parte que deve ser dado ao seu companheiro.
Difícil é aceitar e fazer isto.
É verdade. Vivemos um tempo ingrato em que a
materialidade das condutas humanas, tem por norma, o entravar o princípio
formoso da disponibilidade, um bem humano que não pode ser abandonado, pelo
facto de ser um factor importante no concerto das sociedades, onde cada um deve
deixar a migalha, por mais pequena que seja, do seu amor disponível a favor do
outro.
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