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sábado, 26 de abril de 2014

Afonso da Maia


Afonso da Maia é o senhor da Casa do Ramalhete, em “Os Maias”, de Eça de Queirós.
Homem um pouco baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes (...) lembrava um varão esforçado das idades heróicas.

Era nele, o velho herdeiro e no neto Carlos, a que estava reduzida a família de “Os Maias” que encontrava na sua grande honestidade e princípios puros, um carácter de eleição que tendo vivido as mudanças políticas do século XIX, apadrinhara um liberalismo de princípios sadios, o que não evitou, apesar disso, que tivesse sido considerado de jacobino – e apelidado de Marat -  pelo pai que o desterrou para Santa Olávia, a quinta da família, nas margens do rio Douro, até que, pedido o perdão das tropelias, o pai, acedeu ao desejo que ele tinha de visita a Inglaterra, para onde abalou e onde se manteve até à morte do progenitor.

Deslocando-se a Lisboa por esse infausto acontecimento, conheceu e veio a casar  com D. Maria Eduarda Runa, uma senhora dessa Lisboa miguelista em que ele zurzia – lembrando-se dos seus velhos ideais que não aceitavam a teoria do rei absoluto – até que num certo dia viu a sua casa ser arrombada e rebuscada, pelo juiz de fora a procurar papéis e armas escondidas, devido ao seu conhecido desprezo pela aristocracia e pelo governo de Portugal, que havia, na época, sufocado o liberalismo nascente. 
Afonso da Maia, representa no livro de Eça, uma das alas mais liberais  e descontentes da nobreza que se vira forçada ao exílio, no seu caso, em Inglaterra, para onde regressou com a mulher e o seu filho, Pedro, desprezando el-rei D. Miguel e os seguidores do absolutismo reinante.

Regressado, por fim, a Portugal, fica viúvo, e é com desgosto que dá conta do liberalismo que se instalara no País – uma doutrina criadora de castas entre homens da mesma ideia – facto que a sua alma recta não aceitava, o que o leva a abandonar os seus ideais políticos e sonhos de juventude.
Ganhara nesta luta íntima uma forte resistência e é, assim, que na sua vida privada deixa transparecer a sua fortaleza moral ao resistir ao casamento do filho, Pedro, com Maria Monforte, sabendo estar à altura dos acontecimentos quando esta foge para Itália, levando como amante um napolitano e resistindo ao consequente suicídio de Pedro.
Afonso da Maia, avô extremoso toma então a seu cargo a educação do neto, Carlos. Com remorsos pela educação que dera ao filho, tenta redimir-se no neto, formando-lhe o carácter por forma a que ele enfrentasse a vida e os seus problemas, o que não sucedera com Pedro.

Pela pena de Eça, o ancião assume-se sempre como uma figura patriarcal que aprecia o seu sossego e intimidade, sempre pronto a ser esmoler e sem recusar uma ajuda que se torne necessária. Apenas se sente dobrado quando se dá conta da desgraça do neto, quando este se apaixona e se torna amante de Maria Eduarda, filha do napolitano e de Maria de Monforte, sua mãe, cometendo incesto com aquela irmã que todos julgavam morta.

Este passo doloroso foi definitivo. Atingiu mortalmente o velho ancião que havia já resistido a tantos desgostos, a começar na juventude pelo seu sonho de um liberalismo de rosto humano que não encontrou e, depois, sofrendo desgostos pessoais, como o do filho Pedro que o esmagara no viço dos anos e, agora, a infelicidade do neto que o esmaga no fim da sua velhice.

Afonso da Maia retracta um tipo da nobreza abastada, caridosa mas desaponta do mundo. De grande amor à Pátria, apesar de distanciado do poder, possui uma saudável moral, parecendo, no entanto, dar mostras de agnosticismo. Mas é, nesta atitude, que nele estava a diferença entre o catolicismo de sacristia e o verdadeiro, que no seu caso nada tinha a ver com o medo de Deus, mas, sim, com o respeito pelos seus companheiros de jornada. É por isto, que morre desgostoso.


Sendo, embora, uma das mais belas figuras de “Os Maias” Afonso da Maia, cometeu  o pecado de nem sempre ter dirigido  a sua casa com o sentido da sua própria responsabilidade,  passando essa tarefa para um procurador, podendo, por isso, ser apontado como influente na sorte do neto, o que não pouco contribuiu para deitar abaixo o roble humano que ele foi.


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