Aquele canta e ri; não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora
Porque não acha bem que o satisfaça.
Os costumes
cristãos, desde que entram em acção, exercem naturalmente sobre a prosperidade
temporal a sua parte de benéfica influência; porque eles atraem o favor de
Deus, princípio e fonte de todo o bem; reduzem
o desejo excessivo das riquezas e a sede dos prazeres, esses dois flagelos que
frequentes vezes lançam a amargura e o desgosto no próprio seio da opulência;
contentam-se enfim com uma vida e alimentação frugal, e suprem pela economia a
escassez do rendimento, longe desses vícios que consomem não só as pequenas,
mas as grandes fortunas, e dissipam os maiores patrimónios.
A Igreja,
além disso, provê também directamente à felicidade das classes deserdadas, pela
fundação e sustentação de instituições que ela julga próprias para aliviar a
sua miséria; e, mesmo neste género de benefícios, ela tem sobressaído de tal
modo, que os seus próprios inimigos lhe fizeram o seu elogio.(..) (Carta Encíclica “Rerum Novarum” nºs 15-16)
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Hoje em dia,
os homens aspiram a libertar-se da necessidade e da dependência. Mas uma
semelhante libertação começa pela liberdade
interior que eles devem saber encontrar, defronte aos seus bens e aos seus
poderes;(…) De outro modo, está bem
claro, as ideologias mais revolucionárias não têm como resultado senão uma
mudança de patrões; instalados por sua vez no poder, estes novos patrões
rodeiam-se de privilégios, limitam as liberdades e instauram novas formas de
injustiça.
Além disso,
muitos chegam hoje a pôr-se o problema do modelo mesmo de sociedade. A ambição
de várias nações, na competição que as opõe e as arrasta, é a de chegarem a
atingir o poderio tecnológico, económico e militar; tal ambição opõe-se,
portanto, à criação de estruturas, em que o ritmo do progresso seria regulado
em função de uma maior justiça, em vez de acentuar as diferenças e de criar um
clima de desconfiança e de luta que continuamente compromete a paz. (Carta Apostólica “Octogésima Adveniens” nº 45)
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Comentário: o
Papa Leão XIII, no difícil tempo do seu pontificado em que o problema da
exploração do operariado não encontrava no empregador a caridade mútua que animou os primeiros cristãos, beneficiários
directos da doutrina do fundador da Igreja, ao chamar a atenção do homem para
estes bons costumes, exorta-o contra a ambição sem freio que não raro o leva ao desejo excessivo das riquezas e a sede dos
prazeres, a que chama com clareza: esses dois flagelos que frequentes vezes lançam a
amargura e o desgosto no próprio seio da opulência, porquanto, como adverte S. Paulo, os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na
perdição. (1 Tim 6, 9)
A ambição é, assim, uma das pragas da vida
humana revelada sempre quando o homem não se sente satisfeito e vive na procura
ansiosa de mais haveres, fazendo da sua acção um novo “Tonel das Danaides”,
esquecidos de Deus, princípio e fonte
de todo o bem, que como diz o Papa levou as Igrejas particulares locais a colmatar os desvios sociais duma
sociedade mercantilizada - através das IPSS, Misericórdias e afins - onde tem
sobressaído de tal modo, que os seus próprios inimigos lhe fizeram o seu
elogio.
Pelo fluir dos tempos esta nova atitude da Igreja
enquanto motor espiritual da sociedade - mesmo para os não crentes - levou o
homem ao desejo de uma nova liberdade interior,
mas este desiderato, pode não ser conseguido
se não houver - como diz Paulo VI , na “Octogésima Adveniens” - um amor
transcendente para com o outro homem.
Ao
chamar a atenção para a mudança de
patrões, o Papa deixou bem claro
que a ambição destes integrada nas ideologias
mais revolucionárias - que ainda existem no nosso tempo - podem conduzir o
homem a ver-se confrontado não só com o patrão individual secularizado e falho
do sentido da caridade mútua ou, com o colectivo social de um patrão sem
rosto imbuído desse mesmo atropelo, tantas vezes acrescido da falta do amor transcendente que
enforma na linha da caridade cristã o verdadeiro sentido da palavra ambição.
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