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segunda-feira, 7 de abril de 2014

A Ambição


Aquele canta e ri; não se embaraça
Com essas coisas vãs que o mundo adora
Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora
Porque não acha bem que o satisfaça.

Bocage

Nota: os sublinhados nos textos do Magistério da Igreja são nossos.

Os costumes cristãos, desde que entram em acção, exercem naturalmente sobre a prosperidade temporal a sua parte de benéfica influência; porque eles atraem o favor de Deus, princípio e fonte de todo o bem; reduzem o desejo excessivo das riquezas e a sede dos prazeres, esses dois flagelos que frequentes vezes lançam a amargura e o desgosto no próprio seio da opulência; contentam-se enfim com uma vida e alimentação frugal, e suprem pela economia a escassez do rendimento, longe desses vícios que consomem não só as pequenas, mas as grandes fortunas, e dissipam os maiores patrimónios.
A Igreja, além disso, provê também directamente à felicidade das classes deserdadas, pela fundação e sustentação de instituições que ela julga próprias para aliviar a sua miséria; e, mesmo neste género de benefícios, ela tem sobressaído de tal modo, que os seus próprios inimigos lhe fizeram o seu elogio.(..) (Carta Encíclica “Rerum Novarum” nºs 15-16)

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Hoje em dia, os homens aspiram a libertar-se da necessidade e da dependência. Mas uma semelhante libertação começa pela liberdade interior que eles devem saber encontrar, defronte aos seus bens e aos seus poderes;(…) De outro modo, está bem claro, as ideologias mais revolucionárias não têm como resultado senão uma mudança de patrões; instalados por sua vez no poder, estes novos patrões rodeiam-se de privilégios, limitam as liberdades e instauram novas formas de injustiça.
Além disso, muitos chegam hoje a pôr-se o problema do modelo mesmo de sociedade. A ambição de várias nações, na competição que as opõe e as arrasta, é a de chegarem a atingir o poderio tecnológico, económico e militar; tal ambição opõe-se, portanto, à criação de estruturas, em que o ritmo do progresso seria regulado em função de uma maior justiça, em vez de acentuar as diferenças e de criar um clima de desconfiança e de luta que continuamente compromete a paz. (Carta Apostólica “Octogésima Adveniens” nº 45)

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Comentário: o Papa Leão XIII, no difícil tempo do seu pontificado em que o problema da exploração do operariado não encontrava no empregador a caridade mútua que animou os primeiros cristãos, beneficiários directos da doutrina do fundador da Igreja, ao chamar a atenção do homem para estes bons costumes, exorta-o contra a ambição sem freio que não raro o leva ao desejo excessivo das riquezas e a sede dos prazeres, a que chama com clareza: esses dois flagelos que frequentes vezes lançam a amargura e o desgosto no próprio seio da opulência, porquanto, como adverte S. Paulo, os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição. (1 Tim 6, 9)

A ambição é, assim, uma das pragas da vida humana revelada sempre quando o homem não se sente satisfeito e vive na procura ansiosa de mais haveres, fazendo da sua acção um novo “Tonel das Danaides”, esquecidos de Deus, princípio e  fonte de todo o bem, que como diz o Papa levou as Igrejas particulares locais a colmatar os desvios sociais duma sociedade mercantilizada - através das IPSS, Misericórdias e afins - onde tem sobressaído de tal modo, que os seus próprios inimigos lhe fizeram o seu elogio.

Pelo fluir dos tempos esta nova atitude da Igreja enquanto motor espiritual da sociedade - mesmo para os não crentes - levou o homem ao desejo de uma nova liberdade interior, mas este desiderato,  pode não ser conseguido se não houver - como diz Paulo VI , na “Octogésima Adveniens” -  um amor transcendente para com o outro homem.

 Ao chamar a atenção para a mudança de patrões, o Papa deixou bem claro que a ambição destes integrada nas ideologias mais revolucionárias - que ainda existem no nosso tempo - podem conduzir o homem a ver-se confrontado não só com o patrão individual secularizado e falho do sentido da caridade mútua  ou, com o colectivo social de um patrão sem rosto imbuído desse mesmo atropelo, tantas vezes  acrescido da falta do amor transcendente  que enforma na linha da caridade cristã o verdadeiro sentido da palavra ambição. 


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