Sempre o homem procurou, com o seu
trabalho e engenho, desenvolver mais a própria vida; hoje, porém, sobretudo graças à ciência e à técnica, estendeu o seu
domínio à natureza inteira, e continuamente o aumenta; e a família humana,
sobretudo devido ao aumento de múltiplos meios de comunicação entre as nações, vai-se descobrindo e organizando
progressivamente como uma só comunidade espalhada pelo mundo inteiro.
Acontece assim que muitos bens que o homem noutro tempo esperava sobretudo das
forças superiores os alcança hoje por seus próprios meios.
(nº 33 do cap. III, da Constituição “Gaudium et Spes”
de Sua Santidade o Papa Paulo VI)
de Sua Santidade o Papa Paulo VI)
Nota: os sublinhados são nossos
Comentário
Neste documento fulcral do Vaticano II é deste modo que começa o Papa Paulo VI a ajuizar sobre “A actividade Humana no Mundo” apondo-lhe, logo após o texto acima reproduzido, três interrogações que devem ser interiorizadas e respondidas pelo desenrolar da vida, com ou sem a acção cristã do homem: qual o sentido e o valor desta laboriosa actividade? Que uso fazer de todas estas coisas? Qual o fim dos esforços individuais e colectivos? Cumpre, assim, ao homem na individualidade da sua acção e ao colectivo social que o acolhe responder a todas elas, o que não podendo ser feito neste breve comentário, cabem, contudo, respostas breves às questões formuladas. Tomem-se por base as palavras do Génesis inscritas no mandato de “submeter a Terra” (Gn 1, 27-28).
Concluiremos, que desde então, o
homem procurou, com o seu trabalho e engenho, desenvolver mais a própria vida, não sendo despicienda a afirmação de que
os pais coevos da Criação e todas as criaturas sucedâneas, (homem ou mulher) ao
mergulharem nesta primeira ordem, a pouco e pouco se deram conta dela ter ganho
uma abrangência universal, decorrendo daí o direito e o dever do seu exercicio
na procura de lhe dar o sentido e o valor desta
laboriosa actividade, enquanto actividade nobre, ao constituir uma dimensão
fundamental da existência humana sobre a face da Terra, que não é, apenas uma
decorrência da Fé se tivermos na devida conta os primeiros trabalhos cometidos
ao homem: Abel foi pastor de ovelhas e
Caim foi lavrador.
Quando Paulo VI nos deixou a segunda
questão: Que uso fazer de todas estas coisas - e aqui radicam a Fé e as Ciências - urge que lhe sejam dadas
respostas não evasivas, mas nobilitadoras da permanência adulta da criatura
perante o mundo que a cerca, porquanto, a natureza do trabalho humano deve ter implicações verdadeiras e até modificadoras
da organização social. donde o uso que é feito do produto laboral não pode
deixar de ter o destino de ser útil a todo os homens, dada a universalidade da
ordem dada por Deus ao submeter a Terra pelo poder do homem - imagem da força
criativa de Deus - e não este à matéria que lhe dá forma mas sem lhe
ter o poder da alma.
Mas, porque o trabalho conduz à necessidade de
organizar e modelar a ordem social, ainda que esta nasça de um imperativo material, para que
seja atingida a sua função social tem de
levar dentro a ordem moral - a sua alma - tornando-o, por isso, um auxiliar
indispensável na educação do próprio homem e do colectivo que o cerca.
Por fim, a terceira questão: Qual
o fim dos esforços individuais e colectivos? Todo o trabalho humano, pelo
que já se expendeu, tem de ter uma dimensão social, partindo da acção tantas
vezes ignorada de um só - pessoa ou nação - para se fundir como um metal precioso no
cadinho do tecido global, num desejo em que, o trabalho para outros é fazer algo para alguém, entretecido no
intercâmbio de relações e dos encontros que se geram. Por fim, uma sociedade
mais justa, a partir das nações na multiculturalidade que as informa, como diz
o texto do Vaticano II, vai-se descobrindo e organizando
progressivamente como uma só comunidade espalhada pelo mundo inteiro.
Mas esta jamais existirá se lhe
faltar a mais valia do coração humano centrado em Deus, o que nos leva a
reflectir sobre a afirmação de Henryk Sienkiewicz: para onde quer que o homem contribua com o seu trabalho deixa também
algo do seu coração, algo que é indispensável, porque esta comunidade tem de ser o reflexo das
pequenas comunidades familiares que procuram no trabalho os fundamentos
agregadores, porque, na busca da perfeição não podem dispensar as almas que
vivem nos corações do homem e da mulher.
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