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terça-feira, 8 de abril de 2014

A nobreza do exercício político


(…) A Igreja que, em razão da sua missão e competência, de modo algum se confunde com a sociedade nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é ao mesmo tempo o sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana. No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autónomas. Mas, embora por títulos diversos, ambas servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens. E tanto mais eficazmente exercitarão este serviço para bem de todos, quanto melhor cultivarem entre si uma sã cooperação, tendo igualmente em conta as circunstâncias de lugar e tempo. Porque o homem não se limita à ordem temporal somente; vivendo na história humana, fundada sobre o amor do Redentor, ela contribui para que se difundam mais amplamente, nas nações e entre as nações, a justiça e a caridade. Pregando a verdade evangélica e iluminando com a sua doutrina e o testemunho dos cristãos todos os campos da actividade humana, ela respeita e promove também a liberdade e responsabilidade política dos cidadãos. (nº 76 da Constituição “Gaudium et Spes”) Nota: os sublinhados são nossos.


Comentário: Subordinado ao tema  “A Importância da  Boa Vontade”, Albert Einstein em “in, Discurso-1948”, num dado passo declarou: (…) devemos estar hoje claramente conscientes do peso que uma pequeníssima justificação e uma boa vontade honesta podem exercer sobre os acontecimentos na vida política. Mas, independentemente disso, e independentemente do nosso destino, podemos estar certos de que sem os esforços incansáveis daqueles que estão preocupados com o bem-estar da humanidade como um todo a maioria da espécie humana estaria muito pior do que se encontra realmente agora.
O grande cientista acusado de ateísmo e, até, de lançar dúvidas sobre Deus, não deixou de seguir nesta prelecção um pensamento religioso ao proferir estas palavras onde deixou entrever o quanto as linhas da religião e da ciência são complementares uma da outra. Eis, porque,a Igreja saída do Vaticano II ao assumir-se como sinal e salvaguarda da transcendência da pessoa humana, encaminha os seus fiéis para que sintam nas palavras de Einstein - e noutras semelhantes de ontem ou de hoje - um clarão espiritual em cima da sombra que passa.

Efectivamente, se nos lembramos das palavras do cientista, ele disse: sem os esforços incansáveis daqueles que estão preocupados com o bem-estar da humanidade como um todo, a maioria da espécie humana estaria muito pior do que se encontra realmente agora, o que faz haver nestas palavras ressonâncias de Deus, porquanto, sem a boa vontade honesta que vista por qualquer ângulo tem sempre ressaibos do Evangelho se for posta ao serviço da política, esta a quem cabe gerir a res publica como a Igreja, a quem cabe a difusão da doutrina dos Evangelhos, têm caminhos independentes e autónomos mas são convergentes em relação ao bem do homem.

 Mas isto não acontece se ao invés da boa vontade, imperarem a desordem e a imoralidade sem respeito pela dignidade humana, porque o que resulta é o abastardamento da sociedade e, com ele, a falta de amor pelo progresso caldeado no cadinho onde se “misturam” os homens de boa vontade que gerem a política e aqueles que gerem os destinos da Igreja, porque - como diz o Texto do Vaticano II, ambas as realidades servem a vocação pessoal e social dos mesmos homens.
Era extremamente urgente que os homens do nosso tempo, sobretudo, os políticos tomassem consciência destas verdades para deixarmos de dar alguma razão a Eça de Queirós que em 1867 no jornal “Distrito de Évora” dizia que em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.

Há honrosas e gratificantes excepções a esta asserção azeda, todos o sabemos, mas falta percorrer, ainda, muito caminho. Assim, que os homens não se limitem, como diz o texto a viver, somente, a ordem temporal, mas que todos vivam sobre o amor do Redentor para que a justiça e a caridade - e a moralidade -  caminhem juntas nos campo políticos e, deles saiam como emanação natural para o comum dos cidadãos, na certeza que há-de ser no exercício da boa vontade que temos - sociedade civil e Igreja- de definir os caminhos da liberdade e responsabilidade política dos cidadãos.

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