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terça-feira, 8 de abril de 2014

A dignidade de ser mulher



 (…) Em diversos países está sendo objecto de constante procura e, por vezes, mesmo de reivindicações enérgicas, um estatuto da mulher, o qual faça cessar a efectiva discriminação existente e estabeleça relações de igualdade nos direitos e de respeito pela sua dignidade. Não falamos, obviamente, daquela falsa igualdade que negasse as distinções estabelecidas pelo mesmo Criador e que estivesse em contradição com o papel específico e, quantas vezes capital, da mulher no coração do lar e, também na sociedade. A evolução das legislações deve, ao contrário, orientar-se no sentido de proteger a sua vocação própria e, ao mesmo tempo, de reconhecer a sua independência, enquanto pessoa, e a igualdade dos seus direitos a participar na vida cultural, económica, social e política. (Carta Apostólica “Octogésima Adveniens” do Papa Paulo VI ao Cardeal Maurício Roy, Presidente do Conselho dos Leigos e da Pontifícia Comisão “Justiça e Paz”, no 80º aniversário da Encíclica “Rerum Novarum”)


Comentário: O texto que se reproduz faz parte do nº 13 da “Carta Apostólica” e é antecedido duma reflexão do Papa Paulo VI sobre a juventude quanto às suas aspirações de renovação, a que se segue o texto dedicado à mulher, quanto ao estabelecimento de relações de igualdade, conforme o preceituado pela doutrina católica, não daquela falsa igualdade que se podem situar a partir  da publicação em 1960 do livro “O Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir e assumido pelo movimento feminista - marcadamente político - que advoga que a hierarquização dos sexos é uma construção social e não a uma questão biológica, e em última análise, afirmam que a condição da mulher na sociedade foi uma construção da sociedade patriarcal.

Sem se negar que existe razão quanto aos maus tratos sofridos pela mulher, como a que adveio com o advento do capitalismo, mormente com a Revolução Industrial em que ao adquirir postos de trabalho se sentiu explorada, isso - que foi uma realidade e uma nódoa social -  não implica que se queira de uma forma intelectual e teórica desnaturalizar a ideia da diferença entre os géneros, que é entendível quanto aos direitos, mas não assim, quanto à natural diferenciação natural, algo que não é considerado pelo feminismo, porque agem no sentido de modificar a concepção de que a mulher não é mais frágil que o homem.

Eis, porque, Paulo VI chama a atenção para a falsa igualdade contraposta à Criação e, em consequência - assinala com esmero o seguinte - em contradição com o papel específico e, quantas vezes capital, da mulher no coração do lar e, também na sociedade, como está a acontecer no tempo que passa, onde a mulher encontrou a carta de alforria, que a faz participar activamente na construção da sociedade, a par da dignidade que é dada ao homem, pela participação empenhada da sua acção, de acordo com a nova concepção da sociedade, mas longe dos estafados feminismos que tenderam, como o fim, colocar a mulher contra o homem,

Jacques Leclercq (1891-1971), no seu livro: “A Família”, sobre este assunto aborda-o do seguinte modo: Todos os seres humanos são iguais, com uma igualdade de natureza que lhes confere a mesma nobreza, o mesmo direito de alcançarem o seu fim próprio e de utilizarem os meios necessários para o conseguirem, para concluir num passo adiante: Mas esta igualdade fundamental combina-se com uma desigualdade acidental: desigualdade de dons da natureza (…) e isto pressupõe, apenas - o que é visível quanto à morfologia do ser  único e irrepetível, enquanto obra-prima da Criação.

E depois, acrescenta esta asserção.
O ser humano encontra-se na terra para cumprir uma missão; cada qual deve ocupar o seu lugar na obra do género humano, obra de progresso humano ou de civilização. Cada qual deve ocupar o lugar correspondente à sua capacidade. Tanto a mulher como o homem. Cada mulher como cada homem.
Temos, assim, que o pensador espiritualista ao afirmar, convictamente, que a sensibilidade da mulher está acima da do homem e, como tal, lhe está destinado um desempenho da máxima importância familiar e social - o que é uma evidência natural pelo facto de ter em grau superior  a inteligência ligada àquela qualidade congénita - este facto que lhe faz apurar a intuição, pode intuir-se, não passou  despercebido ao Papa Paulo VI no texto a que fazemos referência, levando-o a exortar o poder legislativo, quanto è necessidade de proteger a sua vocação própria e, ao mesmo tempo, de reconhecer a sua independência, enquanto pessoa, e a igualdade dos seus direitos a participar na vida cultural, económica, social e política.

Não valem, portanto, como norma os feminismos virulentos, mas, o amor, filho da assunção natural das diferenças, que afinal, complementam os dois seres - homem e mulher - e lembrar como fecho, os dois últimos versos do famoso poema de Victor Hugo:  “O Homem e a Mulher”, que nos dizem que o homem está colocado onde termina a terra / a mulher, onde começa o céu.
E, assim, exaltemos a mulher que pela sua natureza é a matriz de todos os homens, tornando-se senhoras do Ó e senhoras da expectação, bem parecidas com Nossa Senhora, Mãe de Jesus.

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