Vede,
Veneráveis Irmãos, por quem e por que meios esta questão tão difícil demanda
ser tratada e resolvida. Tome cada um a tarefa que lhe pertence; e isto sem
demora, para que não suceda que, adiando o remédio, se tome incurável o mal, já
de si tão grave.
Façam os governantes uso da autoridade
protectora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos
seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses
pelas vias legítimas; e, visto que só a religião, como dissemos no princípio, é
capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se todos de que a primeira coisa a
fazer é a restauração dos costumes cristãos, sem os quais os meios mais
eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco aptos para produzir
salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua acção jamais faltará por qualquer
modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver. Carta
Encíclica “Rerum Novarum” nº 35
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Com efeito ao
fim do século XIX, em consequência de um novo género de economia, que se ia
formando, e dos grandes progressos da indústria em muitas nações, aparecia a
sociedade cada vez mais dividida em duas classes : das quais uma, pequena em
número, gozava de quase todas as comodidades que as invenções modernas fornecem
em abundância; ao passo que a outra, composta de uma multidão imensa de
operários, a gemer na mais calamitosa miséria, debalde se esforçava por sair da
penúria, em que se debatia.
Com tal
estado de coisas facilmente se resignavam os que, nadando em riquezas, o
supunham efeito inevitável das leis económicas, e por isso queriam que se
deixasse à caridade todo o cuidado de socorrer os miseráveis; como se a
caridade houvesse de capear as violações da justiça, não só toleradas, mas por
vezes até impostas pelos legisladores. Ao contrário só a duras penas o
toleravam os operários, vítimas da fortuna adversa, e tentavam sacudir o jugo
duríssimo: uns, levados na fúria de maus conselhos, aspiravam a tudo subverter,
os outros, a quem a educação cristã
demovia desses maus intentos, estavam contudo firmemente convencidos de que
nesta matéria era necessária uma reforma urgente e radical.
O mesmo pensavam todos os católicos,
sacerdotes ou leigos, que, impelidos por uma caridade admirável, já de há muito
trabalhavam em aliviar a miséria imerecida dos operários, não podendo de modo
nenhum persuadir-se de que uma diferença tão grande e tão iníqua na
distribuição dos bens temporais correspondesse verdadeiramente aos desígnios
sapientíssimos do Criador. Carta
Encíclica “Quadragésimo Anno” in, cap. “Sua Ocasião”
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Comentário: Compassivamente
debruçado sobre as miseráveis condições do operariado, se o Papa Leão XIII faz a sua defesa e denúncia no
dealbar do séc. XIX, quanto aos deveres dos
ricos e patrões, quarenta anos depois, o Papa Pio XI vem acentuar, a
malfeitoria social instalada no plano da economia em que os progressos sentidos
numa nova indústria florescente, ainda assim, não soube dividir equitativamente
os bens materiais, pela continuação de uma classe dominante e absorvente das mais valias em
detrimento de uma outra, imensa de
operários, a gemer na mais calamitosa miséria, debalde se esforçava por sair da
penúria, em que se debatia.
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