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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Um NÃO à indiferença, para um SIM à Paz!

Em Bardia, (Líbia) um grupo de soldados italianos, 
depois da conquista da cidade entrega-se ao exército australiano
(in, Revista "Mundo Gráfico" nº 10 de 28 de Fevereiro de 1941)


A Batalha de Bardia travou-se, vai fazer, entre 3 a 5 de Janeiro do próximo ano, 74 anos do seu confronto de três dias, no decorrer da II Guerra Mundial.

A imagem angustiante, mostra como um só homem armado derrota cinco antagonistas que de braços no ar, rendidos ao poder da força, deixaram ficar no instante fotográfico a tragédia da guerra, a que ninguém pode ficar indiferente, para que imagens trágicas como esta deixem de ter para sempre a sua existência em que o homem se torna, pelo poder da guerra, o carrasco do seu semelhante.

Porque vivemos um tempo complexo - não de guerras declaradas - mas de confrontos "surdos" em muitas partes do Mundo que assiste a eles com a indiferença que se nota em muitas partes da sociedade global, vale a pena ler e meditar no nº 4 da Mensagem do Papa Francisco dedicada à Celebração do XLIX Dia Mundial da Paz de 1 de Janeiro de 2016.

É com esse fito que no nº4 o Papa discorre o seu pensamento sobre o tema: "A paz ameaçada pela indiferença globalizada"  e cujo texto se transcreve ipsis-verbis:


4. A indiferença para com Deus supera a esfera íntima e espiritual da pessoa individual e investe a esfera pública e social. Como afirmava Bento XVI, «há uma ligação íntima entre a glorificação de Deus e a paz dos homens na terra». Com efeito, «sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz».  O esquecimento e a negação de Deus, que induzem o homem a não reconhecer qualquer norma acima de si próprio e a tomar como norma apenas a si mesmo, produziram crueldade e violência sem medida.

A nível individual e comunitário, a indiferença para com o próximo – filha da indiferença para com Deus – assume as feições da inércia e da apatia, que alimentam a persistência de situações de injustiça e grave desequilíbrio social, as quais podem, por sua vez, levar a conflitos ou de qualquer modo gerar um clima de descontentamento que ameaça desembocar, mais cedo ou mais tarde, em violências e insegurança.
Neste sentido, a indiferença e consequente desinteresse constituem uma grave falta ao dever que cada pessoa tem de contribuir – na medida das suas capacidades e da função que desempenha na sociedade – para o bem comum, especialmente para a paz, que é um dos bens mais preciosos da humanidade.

Depois, quando investe o nível institucional, a indiferença pelo outro, pela sua dignidade, pelos seus direitos fundamentais e pela sua liberdade, de braço dado com uma cultura orientada para o lucro e o hedonismo, favorece e às vezes justifica acções e políticas que acabam por constituir ameaças à paz. Este comportamento de indiferença pode chegar inclusivamente a justificar algumas políticas económicas deploráveis, precursoras de injustiças, divisões e violências, que visam a consecução do bem-estar próprio ou o da nação. Com efeito, não é raro que os projectos económicos e políticos dos homens tenham por finalidade a conquista ou a manutenção do poder e das riquezas, mesmo à custa de espezinhar os direitos e as exigências fundamentais dos outros. Quando as populações vêem negados os seus direitos elementares, como o alimento, a água, os cuidados de saúde ou o trabalho, sentem-se tentadas a obtê-los pela força.

Por fim, a indiferença pelo ambiente natural, favorecendo o desflorestamento, a poluição e as catástrofes naturais que desenraízam comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à precariedade e à insegurança, cria novas pobrezas, novas situações de injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e paz social. Quantas guerras foram movidas e quantas ainda serão travadas por causa da falta de recursos ou para responder à demanda insaciável de recursos naturais?


De notar que o Papa Francisco, no exercício do seu alto magistério, começa por anotar que a indiferença para com Deus supera a esfera íntima e espiritual da pessoa individual e investe a esfera pública e social, para chamar a atenção dos homens que é um erro a não abertura franca destes ao transcendente, àquilo que o supera no seu entendimento cognitivo, um motivo que os leva a cair como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe difícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz.

Que o Papa Francisco seja ouvido, para que a tragédia de Bardia - uma entre tantas da II Guerra Mundial - não se repita  e que a indiferença globalizada ceda, em nome da transcedência de Deus, para que o próximo ganhe definitivamente o seu estatuto de irmão e agente interessado na defesa da Paz e do ambiente natural.

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