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domingo, 13 de dezembro de 2015

Não. Não sou quem julgais!


Leitura do Evangelho segundo São Lucas (3, 10-18)

Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?». Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo». Vieram também alguns publicanos para serem baptizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescrito». Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele baptizar- vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova»..
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Esta foi a leitura do Evangelho do III Domingo do Advento (ano C) do dia 13 de Dezembro de 2015.

Desde que tomei consciência, era já adulto, e isto aconteceu com a lufada de ar fresco que recebi do Concílio Vaticano II -  convocado em 25 de Dezembro de 1961, inaugurado a 11 de Outubro de 1962 e terminado a 8 de Dezembro de 1965 - desde então, quando a leitura dos Evangelhos começaram a ganhar outra luz nas minhas sombras, ao tomar conhecimento deste texto de S. Lucas, a beleza ética do seu comportamento humano clareou em mim, aquilo que hoje mesmo ouvi, pela voz do meu Prior no decorrer da homilia - ou seja, ter repudiado que fosse tomado pelo Messias esperado - o que constituiu e consolidou o que era na minha antiga percepção bíblica: um motivo de exaltação da figura de S. João Baptista, pelas seguintes razões:

  • "O Precursor", como é conhecido, era parente de Jesus e filho de Isabel, prima de Nossa Senhora que ela um dia visitou - estando ambas grávidas - tendo subido a ladeira de Ain-Karim, onde morava Isabel para a ajudar, estando ela prestes a dar à luz.
  • Relatam os Livros Sagrados que S. João Baptista rejubilou no ventre de sua mãe quando esta ouviu de Maria a sua saudação e a frase imorredoira: Bendita és tu entre a mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
  • Todo o Mistério está aqui condensado: S. João Baptista nasceu para anunciar ao mundo que o Messias esperado estava no meio dos homens, e tudo havia acontecido naquele dia extraordinário. na Visitação de Maria a sua mãe.
  • E, por isso, na sua vida adulta, ao ter sentido que havia na expectativa do povo a dúvida se não seria ele o Messias, devido à sua acção e pregação, não deixou que o confundissem: Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias...
  • E chamou a atenção, ao povo, para o Espírito Santo, que com Deus e Jesus formam a Trindade Santíssima.
  • E disse-lhes: Aquele que vai chegar é que tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no se celeiro...
  • Estava feito o anúncio pleno da Boa Nova, na Pessoa de Jesus, o Messias.

Foi a partir daqui que há muitos anos entendi, que aquele homem que pregava: quem tem duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma, apesar destes actos de grande humanismo não podia deixar-se confundir, ainda que o pudesse ter consentido.

Mas porque ele era um homem secular, consciente do que lhe competia fazer, ou seja, que apenas lhe cabia a missão de ser o anunciador do Messias, pelo qual, um dia, se alegrou dentro do ventre de sua mãe não podia consentir que a confusão se instalasse.

- Não. Não sou quem julgais!

E fica como reflexão final deste exemplaríssimo texto de S. Lucas uma atitude que devia ser seguida por todos os homens: não se deixarem confundir com méritos que pertencem a outros, pelo que, é nos Evangelhos, por este facto e tantos outros de que estão recheados, que se os homens estivessem mais atentos ás suas Verdades e Ensinamentos, por certo a sociedade seria mais perfeita.

Por isso, que a atitude de S. João Baptista, ante aqueles que julgavam ver nele o Messias esperado há tantos séculos de acordo com a voz dos Profetas, fique neste dia, como uma achega, que possa com o seu exemplo ajudar a tornar mais transparente o mundo de sombras que nos rodeia.


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