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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Moysés - Um poema de Simões Dias



in,  "Peninsulares"


Simões Dias (José) - (1844-1899) foi um Poeta beirão natural da terra linda da Benfeita (Arganil) onde concluiu a Instrução Primária tendo por professor um velho liberal - que lhe deu as novas luzes do ciclo que despertava na sociedade portuguesa - tendo, depois disso, estudado Latim e cedendo à família que o desejava clérigo, passou pelo Seminário de Coimbra e respectiva Universidade na Faculdade de Teologia que terminou em 1867-1868, sem contudo, pela idade muito jovem tivesse sido ordenado o que lhe permitiu, contrariando os familiares, não ter recebido - quando foi possível - as ordens sacerdotais, tendo-se dedicado à causa pública, em Lisboa, na Secretaria da Justiça, em Viseu como professor de Oratória Poética e Literatura e depois domo deputado às Cortes, onde foi um brilhante orador, tendo de permeio dado largas ao seu pendor literário de que deixou uma obra de grande valor.

O livro "Peninsulares" é um feixe de poesias agrupadas em quatro Capítulos: Elegias, Canções, Odes e Poemas. "Moysés" ocupa o número XXXIV das suas Elegias, que tendo perdido a característica epitafista da cultura grega,  tomou, entre nós, na corrente moderna onde Simões Dias se reviu, o tom terno e às vezes, triste, a roçar a lamentação de não se alcançar aquilo que era pretendido.

Valendo-se da sua sólida formação teológica Simões Dias enlaça neste poema o facto bíblico de Moisés não ter entrado na Terra Prometida ao ter posto - como se sabe -  em dúvida a saída de água da rocha como lhe tinha prometido dito por Deus, para depois de tal facto ter acontecido com a água que jorrou da rocha da dúvida, ter ficado atónito e como diz o Poeta um estranho vulto, em pé, aturdido, para ali morrer nos serros de Moab, tendo à vista a terra de Canaã, onde corria leite e mel.

Numa semelhança poética - usando tal liberdade literária - Simões Dias dirige-se ao seu sonhado encanto - a mulher que ele sonhava alcançar como a que Deus lhe destinara - e num lamento ter dito: tal qual sem alcançar-te, onde parece notar-se alguma descrençaapesar disso, ficou latente um anseio de vida longa para ele e para o seu sonhado encanto - a quem, ternamente, declaravai morrer a teus pés meu derradeiro olhar.

É crível que a "Terra Prometida"  - àquele "Moisés", que era ele mesmo - fosse a sua primeira mulher, a terna Guilhermina Simões da Conceição que ele viu morrer aos 24 anos de idade e lhe deixou uma imensa saudade

No seu poema a frase: vai morrer a teus pés meu derradeiro olhar, deixa subentendido que ele iria morrer primeiro e que os seu último olhar seria para a esposa, mas Deus não lho permitiu, levando-a no fulgor da existência e deixando-o a olhar a distância de uma vida que ainda lhe restava viver, mas longe da sua Guilhermina - a sua "Terra Prometida" - onde mal chegou a entrar.

O que encanta nesta poesia - Moysés - é o poder criativo como o Poeta consegue esconder as suas próprias emoções em elegias como esta, que são um hino de amor e onde  Simões Dias, de certo modo, se pareceu com o velho condutor do povo hebreu.

O Poeta, é hoje, um vulto quase esquecido das Letras Portuguesas - o que não admira, porque Portugal prima por estes esquecimentos - mas é, na sua terra e no concelho de Arganil um dos seus filhos mais dilectos, um daqueles raros homens cuja memória ficou escrita na pedra dura das suas montanhas de xisto.


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