Desde a noite radiosa de Belém,
todos os anos que viveste na Tua
Nazaré
haviam sido vividos no influxo
da Graça
enquanto esperavas pela hora do
início da Missão
que havia de cumprir.
Os últimos três anos haviam sido
vividos
com a Tua cabeça a prémio,
cilada após cilada!
E agora tudo estava a chegar ao
fim.
Na Cruz dos condenados,
como se Tu foras um ladrão dos
caminhos,
a Tua respiração era um estertor
e o teu peito dilatava-se
mais e mais, na ânsia do ar que
lhe faltava.
O Teu coração batia apressado
e a febre queimava o Teu Corpo.
Cada estremecimento rasgava
sempre um pouco mais
as tuas santas mãos, de onde
corriam fios de sangue.
A Tua cabeça tombara já para um
dos lados
e os Teus olhos vítreos, que
haviam olhado o mundo
e haviam chorado pelos amigos
e se haviam compadecido
dos mais pobres,
das viúvas,
da mulher adúltera,
e da samaritana,
afogavam-se já numa agonia
funda.
Num dado momento
o teu lado humano, ressentido e
dorido, exclamou:
- Tenho sede...
e um dos soldados, maldosamente,
chegou-te aos lábios ressequidos
um pouco de vinagre.
Foi quando viste aos pés da
Cruz,
a Tua Santa Mãe
e perto dela o discípulo
predilecto.
Foi naquele momento que disseste
as Palavras eternas +que nos
haviam de tornar
filhos adoptivos de Tua Santa
Mãe
e irmãos espirituais de todos os
homens:
- Mulher, eis o teu filho.
e depois, com os olhos fixos em
João:
- Eis a tua Mãe.
A seguir, rendido ao sofrimento
atroz
ergueste a voz ao Céu plúmbeo da
tarde
e disseste:
- Eli, Eli, lemá sabactáni. -
Meu Deus, meu Deus,
porque me abandonaste?
Ao contrário do que pensam os
que não crêem em Ti
Não disseste palavras de
desespero ou de queixa.
Mas tão só, naquela hora final,
apenas lembraste
as teus verdugos,
as palavras antigas do Salmo 21,
que bem conhecias.
Eram então, três horas da tarde
quando a Tua cabeça pendeu de
vez.
A terra inteira tremeu.
As rochas fenderam-se...
o dia de repente escureceu...
e houve coisas de tal modo
extraordinárias
que o Centurião, rendido à Tua
realeza
Não pode conter-se sem dizer:
- Realmente este homem era
justo.
Tarde demais, Senhor!
Tarde demais,
aquele homem que havia comandado
a tropa,
só então compreendeu
que havias trazido um novo
sentido à vida
e em troca Te haviam dado uma
morte cruel...
a mais aviltante de todas as
mortes!
Olha, Senhor:
Há ainda hoje, centuriões como
aquele
que só muito tarde é que
compreendem
quem Tu és!
Ajuda-me, hoje e sempre
a ter por Ti e pela Tua vida
exemplar
um profundo amor.
Ajuda-me a ter a sabedoria
de todos aqueles que não
precisam de grandes sinais
como aconteceu na hora da Tua
morte,
para acreditar na Mensagem que
deixaste
de braços abertos ao mundo
desde o alto da Cruz!
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