Ao desconcerto
do Mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o Mundo concertado
Luís de Camões
Quando lemos o maior dos nossos Poetas o sentimento que fica é que, parece que o tempo parou à nossa volta e todos os nossos sentidos se fixam no ritmo musical de vibra de cada palavra e, sobretudo, na lucidez da mensagem.
Luís de Camões não teve a sorte do destino.
Qualquer biografia o confirma, parecendo até, que a única sorte que teve, salvando o dom inaudito com que Deus o fadou para fazer dele um dos maiores Poetas da Humanidade, foi não ter visto Portugal cair nas mãos filipinas - pois morreu em 1580 - e, desse modo, o País que ele cantou como nunca mais ninguém o fez, politicamente morreu com ele nesse mesmo ano em que a Espanha tomou conta do Reino de Portugal.
O pequeno poema "Ao desconcerto do Mundo" é uma alegoria ao seu estado de alma e não deixa de ser comovente a sua leitura, como se, por uma sorte madrasta só para ele andasse o Mundo concertado... como, parece, continua a andar com certas pessoas que, mais ou menos, todos conhecemos,
O mestre do nosso português tão bem recordado...um belíssimo poema, uma belíssima análise. E um magnífico momento de leitura, de pausa, de entrega aos nossos silêncios mais retemperadores...Muito Bom!
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