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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

As virtudes humanas e sociais da "Gaudium et Spes".



Superação da ética individualista

30. A profundidade e rapidez das transformações reclamam com maior urgência que ninguém se contente, por não atender à evolução das coisas ou por inércia, com uma ética puramente individualística. O dever de justiça e caridade cumpre-se cada vez mais com a contribuição de cada um em favor do bem comum, segundo as próprias possibilidades e as necessidades dos outros, promovendo instituições públicas ou privadas e ajudando as que servem para melhorar as condições de vida dos homens. Mas há pessoas que, fazendo profissão de ideias amplas e generosas, vivem sempre, no entanto, de tal modo como se nenhum caso fizessem das necessidades sociais. E até, em vários países, muitos desprezam as leis e prescrições sociais. Não poucos atrevem-se a eximir-se, com várias fraudes e enganos, aos impostos e outras obrigações sociais. Outros desprezam certas normas da vida social, como por exemplo as estabelecidas para defender a saúde ou para regularizar o trânsito de veículos, sem repararem que esse seu descuido põe em perigo a vida própria e alheia.

Todos tomem a peito considerar e respeitar as relações sociais como um dos principais deveres do homem de hoje. Com efeito, quanto mais o mundo se unifica, tanto mais as obrigações dos homens transcendem os grupos particulares e se estendem progressivamente a todo o mundo. O que só se poderá fazer se os indivíduos e grupos cultivarem em si mesmos e difundirem na sociedade as virtudes morais e sociais, de maneira a tornarem-se realmente, com o necessário auxílio da graça divina, homens novos e construtores duma humanidade nova.

in, "Gaudium et Spes" 
(Documento do Concílio Vaticano II promulgado em 7 de Dezembro de 1965)


Lemos o nº 30 deste documento da Igreja Católica e o que se vê retratado é uma chamada de atenção aos Governos democráticos da Nações para assumirem, ainda que no laicismo das suas actuações, o cumprimento de acções que os levem a colocar o homem-social em primeiro lugar, porquanto  dever de justiça e caridade cumpre-se cada vez mais com a contribuição de cada um em favor do bem comum, segundo as próprias possibilidades e as necessidades dos outros, palavras que bem podiam  e deviam fazer parte de um qualquer programa governativo - falando de Portugal - se não fora a ausência deliberada como acontece em esquecer as recomendações humanas e sociais da nova Igreja Católica que quer fazer o seu caminho - embora e muito bem separada do poder político - mas a quem cumpre a defesa do homem por um imperativo divino que lhe está cometido. pelo seu Fundador.

Se nem sempre foi assim, e neste ponto  já se fez mea culpa, parece que está chegado o tempo de se olhar a Igreja Católica com uma parceira indispensável no equilíbrio social que a todo o custo tem de ser procurado, pelo que aos políticos conscientes se impõe como leitura profícua este preclaro documento do Concílio Vaticano II.

Convirá, porventura, dizer que a  "Gaudium et Spes" - Alegria e Esperança - faz parte de outras grandes Mensagens publicadas pela Igreja, um processo iniciado com a publicação da Encíclica "Rerum Novarum" (1891) a que se seguiram: "Quadragesimo Anno" (1931); "Mater et Magistra" (1961); "Pacem in Terris"(1963); "Ecclesiam Suam" (1964); Populorum Progressio"(1967) e "Octogesima Advenieens"(1971), todos eles significativos em matéria de cunho social, o primeiro ao findar o século XIX e os restantes ocupando os três primeiros três quartéis do século XX.

Foi a resposta da Igreja Católica a um tempo que tendo tido a sua génese no Iluminismo e na Revolução Francesa (1789-1799) baseada naquele movimento filosófico cujo ocaso ocorreu em 1800 - com aquele movimento revolucionário triunfante - mas que foi a sua fonte inspiradora e que não cessou de debitar o seu anticlericalismo por todo o século XX, tendo movido uma perseguição tenaz, difamatória e dessacralizadora levada a cabo por forças liberais e radicais ateístas contra a Igreja Católica a que se associaram a heresia das correntes do agnosticismo, que por fim - e como resposta - deram origem ao primeiro Concílio Vaticano I (1869-1870).

Neste afã a Igreja institucional não esteve isolada, porque a par da sua resposta de adaptação social a um mundo diferente em favor dos desprotegidos ou marginalizados estiveram presentes individualidades, como: como: Frédéric Antoine Ozanam, fundador da Sociedade de São Vicente de Paulo,(1833); J. Cardjin, fundador da da Juventude Operária Católica (JOC (1924); Eduardo Bonin, fundador do Movimento dos Cursilhos de Cristandade (1930), apenas para citar estes três esforçados obreiros da transformação da sociedade,


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