Portugal
Avivo no teu rosto o rosto que
me deste,
E torno mais real o rosto que te
dou.
Mostro aos olhos que não te
desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu
destino
Que de antemão conheço:
Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da
fortuna,
Achar sem nunca achar o que
procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no
passado.
Miguel Torga, in 'Diário X'
Se o homem português se desse ao cuidado de estudar a História dos seus maiores e na memória deles realçasse o seu próprio sentido de brio nacional era ele o mais beneficiado, para num arroubo de patriotismo apontar a quem o não desfigura aqueles que o têm desfigurado, esquecidos que Portugal sendo como Miguel Torga o vê na sua liberdade poética algo que se renova por si mesmo - criatura da tua criatura - essa qualidade retemperadora faz que o Poeta num arroubo patriótico deseje parecer-se com ele, perfilado na sua liberdade, que ele imagina espelhada no mar português, onde ondulo e permaneço - como ele diz numa afirmação peremptória - para nos deixar a mensagem de ser necessário permanecer por cima das vagas que o mundo tem, ainda que na aventura de uma qualquer ilusão se façam ouvidos surdos para certas coisas, que apontam razões do tempo e da fortuna.
Para o Poeta o sonho tem de continuar - por vezes, até, sem se encontrar o que se procura - e, ainda, que exilado dentro de alguns sonhos desfeitos, mesmo assim, porque é urgente permanecer, só resta subir e assentarmo-nos na gávea do futuro, onde ele imagina Portugal mais alto que no seu próprio passado.
O poema "Portugal" deixa-nos assim, a interpretação de, para além de tornarmos mais real o nosso rosto - depois de o termos olhado o rosto de Portugal, que é o reflexo da sua História - ser preciso permanecer, ainda que envoltos na bruma em que o destino, por vezes, nos deixa encobrir.
Ondulo e permaneço, diz Miguel Torga.
Com Portugal não é de agora o ondular que que ele sentiu, como hoje, nós o sentimos - ou seja a desfiguração da sua identidade - mas é urgente mostrar aos olhos de quem nunca tal fez, os olhos daqueles que o têm feito.
É desse modo que tem de ser o sentido do nosso permanecer.
Miguel Torga fez a sua parte.
Para o Poeta o sonho tem de continuar - por vezes, até, sem se encontrar o que se procura - e, ainda, que exilado dentro de alguns sonhos desfeitos, mesmo assim, porque é urgente permanecer, só resta subir e assentarmo-nos na gávea do futuro, onde ele imagina Portugal mais alto que no seu próprio passado.
O poema "Portugal" deixa-nos assim, a interpretação de, para além de tornarmos mais real o nosso rosto - depois de o termos olhado o rosto de Portugal, que é o reflexo da sua História - ser preciso permanecer, ainda que envoltos na bruma em que o destino, por vezes, nos deixa encobrir.
Ondulo e permaneço, diz Miguel Torga.
Com Portugal não é de agora o ondular que que ele sentiu, como hoje, nós o sentimos - ou seja a desfiguração da sua identidade - mas é urgente mostrar aos olhos de quem nunca tal fez, os olhos daqueles que o têm feito.
É desse modo que tem de ser o sentido do nosso permanecer.
Miguel Torga fez a sua parte.
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