Custava subir a ladeira, Senhor.
Sobre os Teus ombros os teus
inimigos
haviam posto uma Cruz bem
pesada... pesada demais
para quem já havia caído duas
vezes!
Houve,no entanto, no percurso
ignominioso
a que Te condenaram,
mais este momento de paragem
para gáudio e galhofa de uma
multidão ululante.
Foi o momento da Tua terceira
queda,
quando já se avistava, a duzentos
passos
a lareira do Gólgota, onde alguns
soldados
esperavam ansiosamente a Tua
chegada
e Te viram cair, vergado ao peso
do madeiro
e contigo a Cruz que carregavas e
se havia de tornar
o instrumento maior da Salvação.
Ao ver-Te extenuado, os soldados
puseram-se a fazer contas
sobre o tempo que ainda irias
gastar
nos tais duzentos passos... tal o
cansaço que mostravas!
Era, então, meio-dia e nas mentes
dos teus verdugos
perpassou, até, o medo de não
chegares ao fim...
e, como era hábito, tudo teria de
ficar resolvido
antes do por do sol.
Foi, quando, mais uma vez,
raivosamente,
veio o incentivo cruel: Anda,
levanta-Te... rei dos judeus...
está o dia já a meio!
E Tu, Senhor, num esforço colossal
ergueste os ombros
e a Cruz desprendeu-se do chão,
e avançaste devagar, mas decidido a
caminho do Calvário.
Tu bem sabias que era um cálice
que terias de beber
e que tudo teria de ser cumprido
escrupulosamente...
estava escrito, Senhor... e Tu
sabias!
Por isso Te ergueste e de olhos
bem abertos
começaste a caminhar, contando os
passos
a encurtar a distância, por entre
os risos de todos aqueles
que já viam bem perto o momento de
desmistificar
a crença que havias espalhado
entre o povo
que quem Te via, via em Ti o
próprio Deus...
o Deus, que afinal, ia morrer
entre dois ladrões!
Senhor:
Ao meditar nesta Tua terceira
queda, nas dores que sofrias
e no modo com Te ergueste,
penso nas vezes em que fico parado
no meio do caminho
sem me apetecer ir mais à frente,
sentindo-me morto de cansaço...
e me deixo vencer daquele sentimento
que
retarda a vontade de prosseguir.
É nesses momentos que penso em Ti.
Na Tua força, vendo a duzentos
passos a morte
e, no entanto, caminhaste.
Ajuda-me, Senhor, a seguir sempre
em frente
e, sempre contigo no pensamento...
mesmo naquele momento
em que sinta perto de mim
o fim da vida!
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