VELHO MOTIVO
Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e
digo,
pensando em ti, como se foras
Ela!
O que eu servira para viver
contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto
amigo,
em torturar-me a ausência se
desvela!
E vou sofrendo a minha pena
amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob
pastor!
Raquel não era dele, e sempre a
via,
enquanto que eu não vejo, noite
e dia,
aquela que me tem por seu senhor!
António Sardinha
in, Chuva da
Tarde
A analogia que existe nos dois sonetos, bem longe de desmerecer o de António Sardinha, dá-lhe nos contornos poéticos como ele tratou o tema a arte de quem tendo presente o de Camões, tal facto não o ter inibido de tecer para Jacob - ele mesmo - uma tortura maior que a sofrida pelo pastor Jacob camoniano, porquanto, embora a não tivesse alcançado, todos os dias alimentou o seu sonho, vendo Raquel, enquanto no "Velho Motivo" o Poeta lamenta-se de não ver noite e dia aquela de quem ele era o seu senhor, deixando bem patente o lirismo como ele tratou este belo tema que em Camões se tornou famoso e em António Sardinha se tornou um exemplo da arte poética que a sua morte precoce ceifou.
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