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domingo, 15 de fevereiro de 2015

Dar na linha da caridade!





Pierre Blanchard num dos capítulos do seu livro: "A SANTIDADE E O NOSSO TEMPO"  a que deu o título interrogativo:" A Caridade, Realidade ou Ilusão?" afirma que J. P, Sartre ao concluir uma longa análise sobre a linha psicológica da generosidade que faz parte do seu livro: "L'Être et le Néant"  (IV parte) tece, sobre o tema, a seguinte opinião: "Dar é escravizar" algo que pela sua acutilância, senão mesmo, fracturante do ponto de vista expressivo, leva Pierre Blanchard a perguntar-se se, quando damos, estamos realmente a roubar a outrem aquilo que ele mais aprecia - a sua liberdade?

Mas, poder-se-á levar à letra aquela afirmação de Sartre, conhecida como é a sua vida e a sua obra enfeudada ao existencialismo doutrinário?
Pessoalmente, penso que não, porque a fazer-se fé naquela sua afirmação quando na pura linha da caridade - que é amor pelo outro - quando se dá uma oferta, seja ela qual seja, desde que ela represente um acto de simpatia, é lícito pensar que na nossa dádiva vai implícito um modo de dominar o outro, escravizá-lo, como nos diz aquele filósofo?

Cuidado com afirmações destas e com tais filosofias.
E evidente que ao longo da História dos homens e dos povos isto aconteceu. 
Deu-se para impor domínio, como foi o caso da colonização ao considerar os povos colonizados como raças inferiores ao colonizador, mas esta época passou e Sartre (1905-1980) que a não viveu, exagerou, porquanto, a caridade autêntica - e só essa é que interessa - não dá para por o outro ao seu serviço, nem tal pode ser admitido no nosso tempo, como já o não foi no tempo em que Sartre Viveu.

Sartre generalizou, e este é um modo imperfeito de por a questão da caridade, porque dar, quantas vezes é libertar o outro, dando-lhe com a dádiva - com retornou ou sem ele - um modo de o tornar mais livre de um qualquer contratempo e, portanto, dar desse modo é uma prova de amor de que é exemplo a tragédia,  Bérenice de Racine, quando esta, que deu o nome à peça teatral, diz a Tito: Vê-me mais vezes e não me dês nada, o que nos leva a pensar que o dar, como neste caso - apenas a visita -  era uma libertação da amargura de não ver o seu amado.

Pierre Blanchard termina este capítulo por chamar à colação Antoine de Saint-Exupéry ao dizer que ele deu o testemunho da verdadeira doutrina e manteve a possibilidade do encontro e da comunicação, isto é, da caridade, acrescentando esta coisa extraordinária: Só no universo afectado pelo pecado, é que o próximo é obstáculo. Se o homem se abre para o amor de Deus, opera-se nele uma transmutação miraculosa: torna-se um valor.

É por isso, que Saint-Exupéry em a "Cidadela" exclama o seguinte: Senhor, ligai-me à àrvore a que pertenço. Não faço sentido se estou só. Que o outro se apoie em mim e eu no outro!"

Há dias, o Papa Francisco, na criação dos novos cardeais, ao falar da caridade, disse, apoiado-se em S. Paulo, que ela  «não falta ao respeito, não procura o seu próprio interesse», o que convida o servidor da Igreja a descentralizar-se e a situar-se no único verdadeiro centro que é Cristo; da caridade que «não se irrita, não leva em conta o mal recebido» e que nos liberta do perigo de reagir impulsivamente, dizer e fazer coisas erradas; e sobretudo do risco mortal da ira retida, «aninhada» no interior, que nos leva a ter em conta os malefícios recebidos; da caridade que «não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade»



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