Privei de perto, profissionalmente, com um descendente do poeta Bulhão Pato e. hoje, lembrado-o - por vezes, infelizmente, é muitas vezes, sob o peso da morte que nos lembramos dos que foram nossos companheiros em cima do chão da vida - recordei-me do amigo que Deus lá tem e do seu amor ao seu celebrado ascendente, de que ele falava sempre com o enlevo próprio da estima familiar que lhe merecia a insigne memória do célebre autor da "Paquita".
Foi o bastante para me levar a vasculhar o acervo dos meus velhos alfarrábios até descobrir na velha e conceituada revista "O Occidente" a homenagem póstuma ao poeta, feira pela revista que deixo aqui, na gravura e na captação do texto escrito, como recordação ao ilustre homem de letras que foi Bulhão Pato e, com muita saudade, lembrando o meu velho companheiro de profissão, homem que muito estimei mas que a vida e a distância física separou de um convívio regular.
Gravura da revista "O Occidente" de 30 de Agosto de 1912
Explicitação da nota (1) inserta no texto
"Paquita" foi o seu livro de poesia mais celebrado.
Iniciou a sua carreira literária em 1850 como o livro "Poesias de R.A. de Bulhão Pato" a que se seguiu "Versos de Bulhão Pato" em 1862 e em 1886, o poema "Paquita", todos eles merecedores de grandes encómios por parte de Alexandre Herculano, tendo-se-lhe seguido em 1867 as "Canções da Tarde"; em 1870, as "Flores Agrestes"; em 1871 as "Paisagens" - em prosa - em 1873, os "Cânticos e Sátiras", em 1881 o "Mercador de Veneza" a que se seguiram outras publicações, como "Sátiras", Canções e Idilios" e o "Livro do Monte" de grande impacto na imprensa da época, como a revista "O Occidente" de 15 de Dezembro de 1896.
Esta intrusão em Bulhão Pato, fruto da amizade que o destino proporcionou com um seu familiar, foi uma escavação no passado, mas se constituiu para mim um exercício de proveitosa leitura, foi feita com a "enxada" que possuo e, com ela, fui ao mais fundo da história que pude fazer.
Se ela for proveitosa para quem tiver a paciência de a ler, penso que a lembrança do homem que nasceu em Bilbau e onde sua mãe, fruto das desavenças políticas do tempo faleceu "cravada de balas", fazendo que seu pai retirasse em 1837 para Portugal para ser educado no Colégio do Quelhas e, depois, no Colégio dos Nobres, escolas educacionais que muito ajudaram a desenvolver o literato que havia em Bulhão Pato, a ponto de fazer dele um amigo de grandes e ilustres escritores, como Almeida Garrett, Rebelo da Silva e Latino Coelho e Alexandre Herculano que lhe prefaciou o livro "Paquita" que começa assim, a primeira sextilha, com a grafia do tempo:
Vale a pena, só por estes seis versos que nos dão a imagem poética do que ele esceveu ir em busca do Livro e lê-lo, na certeza que não haverá ninguém que goste de poesia escorreita que o ponha de lado sem chegar ao fim
Fica feito o convite.
Canto primeiro
Virgem d' olhos azues, pallida e
triste,
Se esta palavra—adeus— banhada
em pranto
Nalgum lance cruel já
proferiste;
Se impia mão te roubou ao doce
encanto
Do teu primeiro affecto para
sempre,
Virgem d' olhos azues, ouve este
canto.
Vale a pena, só por estes seis versos que nos dão a imagem poética do que ele esceveu ir em busca do Livro e lê-lo, na certeza que não haverá ninguém que goste de poesia escorreita que o ponha de lado sem chegar ao fim
Fica feito o convite.
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