in, revista "O Occidente" de 20 de Outubro de 1906
De seu nome de baptismo António de Macedo Papança foi
agraciado com o título nobiliárquico de 1ºVisconde e depois 1ºConde de Monsaraz
em 1890 pelo rei D. Carlos, que assim quis distinguir este advogado, político,
par do Reino e poeta, natural de Reguengos de Monsaraz, (Alentejo) cuja obra
literária de pendor naturalista demonstra um nacionalismo sadio que ele viveu e
sentiu nas charnecas e nos montados da sua terra, onde o povo, o divinal
crepúsculo dos horizontes e as vistas dos sobreiros e das giestas em flor lhe
deram a inspiração graciosa do lirismo alentejano que lhe guarda um lugar de
destaque entre os seus mais lídimos representantes
O Conde de Monsaraz foi um palaciano e um lavrador e como
prova da sua poesia naturalista que ele soube encontrar nas coisas e pessoas da
sua terra deixou como um pai extremoso, em forma de recado - ou ralhete amigo -
este exemplo dirigido às Moças de Bencatel, uma localidade vizinha da sua terra
natal.
Ó moças de Bencatel,
não vos zangueis se vos ralho:
muito amor, pouco trabalho;
pouco trigo,muito mel;
- fiai-vos no que vos digo
e não fiqueis mal comigo,
ó moças de Bencatel -
para vós, para a lavoura,
tomai tento, melhor fora
muito trigo, pouco mel.
Vejo terras de pousio,
que andaram sempre lavradas,
todas cobertas de flores;
mais quando chegar o frio
e passarem os calores,
e as chaminés apagadas
e as camas sem cobertores,
mal irá às namoradas
e pior aos lavradores.
Funçanatas e derriços.
cantigas e pasmaceiras,
fazem fugir aos serviços
e faltar às sementeiras:
eis porque estão os cortiços
abarrotados de mel
e estão desertas as eiras,
ó moças de Bencatel.
Como abelhas, as cantigas,
por entre moitas e brejos,
fabricam favos de beijos
nas bocas das raparigas,
e os mocetões das aldeias,
sem canseiras nem cuidados,
largam ancinhos e arados
para crestar as colmeias...
Ó moças de Bencatel,
vós tendes as bocas cheias...
Acautelai-vos , senão
haveis de ficar sem mel,
sem maridos e sem pão!
in, «Musa Alentejana»
Com outro pendor, mas bem demonstrativo da sua poesia regional
de usos e costumes do seu tempo, O SENHOR MORGADO é um outro exemplo acabado da
sua lira que bem merece a nosso apreço, tendo em conta que naquele tempo o
"morgado" sendo o dono do então chamado "morgadio", era a
figura que contrariava o empobrecimento das famílias devido as partilhas
sucessivas e, desse modo, era o ramo principal que mantinha operante o estatuto
económico-social de um dado pedaço de terra.
Foi assim, que o viu e cantou o Conde de Monsaraz:
O senhor morgado
Vai no seu murzelo,
Todo empertigado.
É um gosto vê-lo,
Próspero anafado,
Véstia alentejana,
Calça de riscado:
Homem duma cana!
Vai, todo se ufana
De ir tão bem montado
E ela na janela...
Seja Deus louvado!
O senhor morgado
Vai nas próprias pernas,
Todo bambeado;
Tem palavras ternas
Para cada lado.
Quando passa, sente
Que é temido e amado;
Fala a toda a gente,
Topa um influente:
“Sou um seu criado...”
Eleições á porta,
Seja Deus louvado!
O senhor morgado
Vai na sege rica
Todo repimpado:
Ai que bem lhe fica
O chapéu armado,
E a comenda ao peito,
E o espadim ao lado!
Que homem tão perfeito!
Deputado eleito,
Muito bem votado,
Vai para o Te-Deum,
Seja Deus louvado!
Deixou-nos uma preciosa obra literária de onde ressaltam os
seguintes livros:
Crepusculares, 1876;
Catarina de Ataíde, 1880;
Telas Históricas: I - O Grande Marquês;
Telas Históricas: II - A Lenda do Jesuitismo, 1882;
Obras de Macedo Papança, Conde de Monsaraz; Poesias,
1882-1891;
Do último Romântico, Páginas Soltas, 1892;
Benvinda (poema dramático em 5 actos), 1903;
Musa Alentejana, l908;
Lira de Outono (colectânea póstuma), 1952;
Obras (3 vols.), 1957-1958
Bem haja o Papança, um grande e compadecido português. Pema que não jaja muitos como ele.
ResponderEliminarFantastico PAPANÇA,
ResponderEliminarAcordo, homem FANTÁSTICO O PAPANÇA o que nos deixou
ResponderEliminar