Numa leitura recente em "O Astrolábio" - Órgão informativo da Igreja apostólico-romana do meu Concelho - os meus olhos despertaram-me para a leitura de um excerto da "Epístola a Diogneto" sob o título: OS CRISTÃOS NO MUNDO.
A “Epístola a Diogneto” é um carta de autor anónimo do século II que se dirige a um tal Diogneto procurando explicar-lhe quem são os cristãos e como vivem, num tempo em que não eram muito conhecidos e eram perseguidos(...)
A “Epístola a Diogneto” é um carta de autor anónimo do século II que se dirige a um tal Diogneto procurando explicar-lhe quem são os cristãos e como vivem, num tempo em que não eram muito conhecidos e eram perseguidos(...)
Quem foi Diogneto, a personagem a quem foi endereçada esta carta?
Ao certo ninguém sabe.
Ao certo ninguém sabe.
Silêncio absoluto durante séculos, ele perdurou até à descoberta do manuscrito em 1436 em Constantinopla, fazendo parte de outros que lhe foram endereçados, segundo se pode antever por alguém que se interessava pelo Cristianismo que ia recebendo adeptos espalhados pelo Império Romano, sendo um testemunho importante das perseguições que os cristãos sofriam e pelo amor como amavam o Filho de Deus.
Este documento considerado uma jóia de raro valor da literatura das primícias cristãs, vai continuar a esconder pelos séculos fora o seu destinatário, havendo, contudo, quem pense ver nele o tutor romano de Marco Aurélio - Diognetus - que lhe tinha afeição pelos seus conselhos educacionais, mas também, e com mais afinco, o destinatário recai sobre Cláudio Diogenes que exerceu o cargo de Procurador de Alexandria, no virar do século II para o seguinte.
Pelo seu interesse histórico-literário, na íntegra, a "Epístola a Diogneto", ou simplesmente - CARTA - abarca doze capítulos.
Exórdio
Excelentíssimo Diogneto.
1. Vejo que te interessas em
aprender a religião dos cristãos e que, muito sábia e cuidadosamente te informaram
sobre eles: Qual é esse Deus no qual confiam e como o veneram, para que todos eles
desdenhem o mundo, desprezem a morte, e não considerem os deuses que os gregos
reconhecem, nem observem a crença dos judeus; que tipo de amor é esse que eles
têm uns para com os outros; e, finalmente, por que esta nova estirpe ou género
de vida apareceu agora e não antes. Aprovo este teu desejo e peço a Deus, o
qual preside tanto o nosso falar como o nosso ouvir, que me conceda dizer dental
modo que, ao escutar, te tornes melhor; e assim, ao escutares, não se arrependa
aquele que falou.
Refutação da idolatria
2. Comecemos. Purificado de todos
os preconceitos que se amontoam em sua mente; despojado do teu hábito
enganador, e tornado, pela raiz, homem novo; e estando para escutar, como
confessas, uma doutrina nova, vê não somente com os olhos, mas também com a
inteligência, que substâncias e que forma possuem os que dizeis que são deuses
e assim os considerais; não é verdade que um é pedra, como a que pisamos; outro
é bronze, não melhor que aquele que serve para fazer os utensílios que usamos;
outro é madeira que já está podre; outro ainda é prata, que necessita de alguém
que o guarde, para que não seja roubado; outro é ferro, consumido pela
ferrugem; outro de barro, não menos escolhido que aquele usado para os serviços
mais vis? Tudo isso não é de material corruptível? Não são lavrados com o ferro
e o fogo? Não foi o ferreiro que modelou um, o ourives outro e o oleiro outro?
Não é verdade que antes de serem moldados pelos artesãos na forma que agora
têm, cada um deles poderia ser, como agora transformado em outro? E se os
mesmos artesãos trabalhassem os mesmos utensílios do mesmo material que agora
vemos, não poderiam transformar-se em deuses como esses? E, ao contrário, esses
que adorais, não poderiam transformar-se, por mãos de homens, em utensílios
semelhantes aos demais? Essas coisas todas não são surdas, cegas, inanimadas, insensíveis,
imóveis? Não apodrecem todas elas? Não são destrutíveis? A essas coisas chamais
de deuses, asseris, as adorais, e terminais sendo semelhante a elas. Depois,
odiais os cristãos, porque estes não os consideram deuses. Contudo, vós que os
julgais e imaginais deuses, não os desprezais mais do aqueles? Por acaso não
zombais deles e os cobris ainda mais de injúrias, vós que venerais deuses de pedra
de barro, sem ninguém que os guarde, enquanto fechais à chave, durante a noite,
aqueles feitos de prata e de ouro, e de dia colocais guardas para que não sejam
roubados? Com as honras que acreditais tributar-lhes, se é que eles têm
sensibilidade, na verdade os castigais com elas; por outro lado, se são
insensíveis, vós os envergonhais com sacrifícios de sangue e gordura. Caso
contrário, que alguém de vós prove essas coisas e permita que elas lhe sejam
feitas. Mas o homem, espontaneamente, não suportaria tal suplício, porque tem
sensibilidade e inteligência; a pedra, porém, suporta tudo, porque insensível.
Concluindo, eu poderia dizer-te outras coisas sobre o motivo que os cristãos
têm para nãos submeterem a esses deuses. Se o que eu disse parece insuficiente
para alguém, creio que seja inútil dizer mais alguma coisa.
Refutação do culto judaico
3. Por outro lado, creio que
desejais particularmente saber por que eles não adoram Deus à maneira dos judeus.
Os judeus têm razão quando rejeitam a idolatria, de que falamos antes, e
prestam culto a um só Deus, considerando-o Senhor do universo. Contudo, erram
quando lhe prestam um culto semelhante ao dos pagãos. Assim como os gregos
demonstram idiotice, sacrificando a coisas insensíveis e surdas, eles também,
pensando em oferecer coisas a Deus, como se ele tivesse necessidade delas,
realizam algo que é parecido a loucura, e não um ato de culto. “Quem fez o céu
e aterra, e tudo o que neles existe”, e que provê todo aquilo de que
necessitamos, não tem necessidade nenhuma desses bens. Ele próprio fornece as
coisas àqueles que acreditam oferece-las a ele. Aqueles que creem oferecer-lhe
sacrifícios com sangue, gordura e holocaustos, e que o enaltecem com esses atos,
não me parecem diferentes daqueles que tributam reverência a ídolos surdos, que
não podem participar do culto. Os outros imaginam estar dando algo a quem de
nada precisa.
O ritualismo judaico
4. Não creio que tenhas
necessidade de que eu te informe sobre o escrúpulo deles a respeito de certos
alimentos, a sua superstição sobre os sábados, seu orgulho da circuncisão, seu
fingimento com jejuns novilúnios, coisas todas ridículas, que não merecem
nenhuma consideração. Não será injusto aceitar algumas das coisas criadas por
Deus para uso dos homens como bem-criadas e rejeitar outras como inúteis e
supérfluas? Não é sacrílego caluniar a Deus, imaginando que nos proíbe fazer algum
bem médio de sábado? Não é digno de zombaria orgulhar-se da mutilação do corpo
como sinal de eleição, acreditando, com isso ser particularmente amados por
Deus? E o fato de estar em perpétua vigilância diante dos astros e da lua, para
calcular os meses e os dias, e distribuir as disposições de Deus, redividir as
mudanças das estações conforme seus próprios impulsos, umas para festa e outras
para luto? Quem consideraria isto prova de insensatez e não de religião? Penso
que agora tenhas entendido suficientemente por que os cristãos estão certos em
se abster da vaidade e do engano, assim como descomplicadas observâncias e das
vanglórias dos judeus. Não creias poder aprender do homem mistério de sua
própria religião.
Os mistérios cristãos
5. Os cristãos, de fato, não se
distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes.
Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum
modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao
talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum
ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras,
conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à
roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem
dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de
tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros.Toda pátria estrangeira é
pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos geram filhos,
mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão-na
carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no
céu; obedece-mas leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam
a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso,
condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e
enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados
e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados
justos; são injuriados, bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são
punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a
vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são
perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio.
A alma do mundo
6. Em poucas palavras, assim como
a alma está no corpo, assim estão os cristãos no mundo. A alma está espalhada
por todas as partes do corpo, e os cristãos estão em todas as partes do mundo.
A alma habita no corpo, mas não procede do corpo; os cristãos habitam no mundo,
mas não são do mundo. Alma invisível está contida num corpo visível; os
cristãos são vistos no mundo, mas sua religião invisível. A carne odeia e
combate a alma, embora não tenha recebido nenhuma ofensa dela, porque esta a
impede de gozar dos prazeres; embora não tenha recebido injustiça dos cristãos,
o mundo os odeia, porque estes se opõem aos prazeres. A alma ama a carne e os
membros que a odeiam; também os cristãos amam aqueles que os odeiam. A alma
está contida no corpo, mas é ela que sustenta corpo; também os cristãos estão
no mundo como numa prisão, mas são eles que sustentam o mundo. Alma imortal
habita em uma tenda mortal; também os cristãos habitam como estrangeiros em moradas
que se corrompem, esperando a incorruptibilidade nos céus. Maltratada em
comidas e bebidas, a alma torna-se melhor; também os cristãos, maltratados, a
cada dia mais se multiplicam. Tal é o posto quedes lhes determinou, e não lhes
é lícito dele desertar.
Origem divina do cristianismo
7. De fato, como já disse, não é
uma invenção humana que lhes foi transmitida, nem julgam digno observar com
tanto cuidado um pensamento mortal, nem se lhes confiou a administração de mistérios
humanos. Ao contrário, aquele que é verdadeiramente senhor e criador de tudo, o
Deus invisível, ele próprio fez descer do céu, para o meio dos homens, a
verdade, a palavra santa e incompreensível, e e colocou em seus corações. Fez
isso, não mandando para os homens, como alguém poderia imaginar, algum dos seus
servos, ou um anjo, ou algum príncipe daqueles que governam as coisas
terrestres, ou algum dos que são encarregados das administrações dos céus, mas
o próprio artífice e criador do universo; aquele por meio do qual ele criou os
céus e através do qual encerrou o mar em seus limites; aquele cujo mistério
todos os elementos guardam fielmente; aquele de cuja mão o sol recebeu as
medidas que deve observar em seu curso quotidiano; aquele a quem a lua obedece,
quando lhe manda luzir durante a noite; aquele a quem obedecem as estrela que
formam o séquito da lua em seu percurso; aquele que, finalmente, por meio do
qual todo foi ordenado, delimitado e disposto: os céus E as coisas que existem
nos céus, a terra e as coisas que existem na terra, o mar e as coisas que existem-no
mar, o fogo, o ar, o abismo, aquilo que está no alto, o que está no profundo e
o que está no meio. Foi esse que Deus enviou. Talvez, como alguém poderia
pensar, será que o enviou para que existisse uma tirania ou para infundir-nos
medo e prostração? De modo algum. Ao contrário, enviou-o com clemência e
mansidão, como um rei que envia seu filho. Deus o enviou, e o enviou como homem
para os homens; enviou-o para nos salvar, para persuadir, e não para violentar,
pois em Deus não há violência. Enviou-o para chamar, e não para castigar;
enviou-o, finalmente, para amar, e não para julgar. Ele o enviará para julgar,
e quem poderá suportar sua presença? Não vês como os cristãos são jogados às
feras, para que reneguem o Senhor, e não se deixam vencer? Não vês como quanto mais são
castigados com a morte, tanto mais outros se multiplicam? Isso não parece obra
humana. Isso pertence ao poder de Deus e prova a sua presença.
A Encarnação
8. Quem de todos os homens sabia
o que é Deus, antes que ele próprio viesse? Quererás aceitar os discursos
vazios e estúpidos dos filósofos, que por certo são dignos de toda fé? Alguns
afirmam que deles é o fogo - para onde irão estes, chamando-o de deus? - Outros
diziam que é água. Outros ainda que é dos elementos criados por Deus. Não há
dúvida de que se alguma dessas afirmações é aceitável, poderíamos também
afirmar que cada uma de todas as criaturas igualmente manifesta Deus. Mas todas
essas coisas são charlatanices e invenções de charlatães. Nenhum homem viu, nem
conheceu a deus, mas ele próprio se revelou a nós. Revelou-se mediante a fé,
unicamente pala qual é concedido ver a Deus. Deus, Senhor e criador do
universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem, não só se mostrou
amigo dos homens, mas também paciente. Ele sempre foi assim, continua sendo, e será: clemente, bom, manso e verdadeiro. Somente ele é bom. Tendo concebido
grande e inefável projeto, ele o comunicou somente ao Filho. Enquanto o
mantinha no mistério e guardava sua sábia vontade, parecia que não cuidava de
nós, não pensava em nós. Todavia, quando, por meio de seu Filho amado, revelou
e manifesto o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu-nos junto todas
as coisas: não só participar de seus benefícios, mas ver e compreender coisas
que nenhum de nós teria jamais esperado.
A economia divina
9. Quando Deus dispôs todo em si
mesmo juntamente com seu Filho, no tempo passado, ele permitiu que nós,
conforme a nossa vontade, nos deixássemos arrastar por nossos impulsos desordenados,
levados por prazeres e concupiscências. Ele não se comprazia com os nossos
pecados, mas também os suportava. Também não aprovava aquele tempo de
injustiça, mas preparava o tempo atual de justiça, para que nos convencêssemos
de que naquele tempo, por causa de nossas obras, éramos indignos devida, e
agora, só pela bondade de Deus, somos dignos dela. Também para que ficasse
claro que por nossas forças era impossível entrar no Reino de Deus, e que
somente pelo seu poder nos tornamos capazes disso. Quando a nossa injustiça
chegou ao máximo e ficou claro que a única retribuição que poderiam esperar era
castigo e morte, chegou o tempo que Deus estabelecera para manifestar a sua
bondade e o seu poder. Oh imensa bondade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não
nos rejeitou, nem guardou ressentimento contra nós. Pelo contrário, mostrou-se
paciente e nos suportou. Com, misericórdia tomou para si os nossos pecados e
enviou o seu Filho para nos resgatar: o santo pelos ímpios, o inocente pelos
maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal
pelos mortais. De fato, que outra coisa poderia cobrir nossos pecados, senão a
sua justiça? Por meio de que poderíamos ter sido justificados nós, injustos e
ímpios, a não ser unicamente pelo Filho de Deus? Oh doce troca, oh obra
insondável, oh inesperados benefícios! A injustiça de muito é reparada por um
só justo, e a justiça de um só torna justos muitos outros. Ele antes nos
convenceu da impotência da nossa natureza para ter a vida; agora mostra-nos o
salvador capaz de salvar até mesmo impossível Com essas duas coisas, ele quis
que confiássemos na sua bondade e considerássemos nosso sustentador, pai,
mestre, conselheiro, médico, inteligência, luz, homem, glória, força, vida, sem
preocupações com a roupa e o alimento.
A essência da nova religião
10. Se também desejas alcançar
esta fé, primeiro deves obter o conhecimento do Pai. Deus, com efeito, amou os
homens. Para eles criou o mundo e a eles submeteu todas as coisas que estão
sobre aterra. Deu-lhes a palavra e a razão, e só a eles permitiu contemplá-lo.
Formou-os à sua imagem, enviou-lhes o seu Filho unigénito, anunciou-lhes o
reino do céu, e o dará àqueles que o tiverem amado. Depois de conhece-lo, tens ideia
da alegria com que será preenchido? Como não amará aquele que tanto te amou?
Amando-o, tu te tornarás imitador da sua bondade. Não te maravilhes de que um
homem possa se tornar imitador de Deus. Se Deus quiser, o homem poderá. A
felicidade não está em oprimir o próximo, ou em querer estar pro cima dos mais
fracos, ou enriquecer-se e praticar violência contra os inferiores. Deste modo,
ninguém pode imitar a Deus, pois tudo isto está longe de sua grandeza. Todavia,
quem toma para si o peso do próximo, e naquilo que é superior procura
beneficiar o inferior; aquele que dá aos necessitados o que recebeu de Deus, é
como Deus para os que receberam de sua mão, é imitador de Deus. Então, ainda
estando na terra, contemplarás porque Deus reina nos céus. Aí começarás a falar
dos mistérios de Deus, amarás e admirarás os que são castigados por não querer
negar a Deus. Condenarás o erro e o engano do mundo, quando realmente
conheceres avida no céu, quando desprezares esta vida que aqui parece morte, e
temeres a morte verdadeira, reservada àqueles que estão condenados ao fogo eterno,
que atormentarás até o fim aqueles que lhe forem entregues. Se conheceres este
fogo, ficarás admirado, e chamarás de felizes aqueles que, com justiça,
suportaram o fogo passageiro.
O discípulo do Verbo
11. Não falo de coisas estranhas,
nem busca coisas absurdas. Discípulo dos apóstolos, torno-me agora mestre das
nações e transmito o que me foi entregue para aqueles que se tornaram
discípulos dignos da verdade. De fato quem foi retamente instruído e gerado
pelo Verbo amável, não procura aprender com clareza o que o mesmo Verbo
claramente mostrou aos seus discípulos? O Verbo apareceu para eles,
manifestando-se e falando livremente. Os incrédulos não o compreenderam, mas
ele guiou os discípulos que julgou fiéis, e estes conheceram os mistérios do
Pai. Deu enviou o Verbo como graça, para que se manifestasse ao mundo.
Desprezado pelo povo, foi anunciado pelos apóstolos a acreditado pelos pagãos.
Desde o princípio e apareceu como novo e era antigo, a agora sempre se torna
novo nos corações dos fiéis. Ele é desde sempre, e hoje é reconhecido como
Filho. Por meio dele, a Igreja se enriquece e a graça se multiplica,
difundindo-se nos fiéis. Essa graça inspira a sabedoria, desvela os mistérios e
anuncia os tempos, alegra-se nos fiéis, entrega-se aos que a buscam, sem
infringir as regradas fé nem ultrapassar os limites dos Padres. Celebra-se
então o temor da lei, reconhecesse a graça dos profetas, conserva-se a fé dos
evangelhos, guarda-se a tradição dos apóstolos e a graça da Igreja exulta. Não
contristando essa graça, saberás o que o Verbo diz por meio dos que ele quer e quando
quer. Com efeito, quantas coisas foram levadas a vos explicar com zelo pala
vontade do Verbo quino-lhas inspira! Nós vos comunicamos por amor essas mesmas
coisas que nos foram reveladas.
A verdadeira ciência
12. Atendendo e ouvindo com
cuidado, conhecereis que coisas Deus preparam para os que o amam com lealdade.
Transformam-se em paraíso de delícias, produzindo em si mesmos uma árvore fértil frondosa, ornados com toda a variedade de frutos. Com efeito, neste
lugar foi plantada a árvore da ciência e a árvore da vida; não é a árvore da
ciência que mata, e sim a desobediência. Não é sem sentido que está escrito: No
princípio Deus plantou a árvore da ciência da vida no meio do paraíso,
indicando assim a vida por meio da ciência. Contudo, por não tê-la usado de
maneira pura, os primeiros homens ficaram nus por causa da sedução da serpente.
De fato, não há vida sem ciência, nem ciência segura sem verdadeira vida, e por
isso as duas árvores foram plantadas uma perto doutra. Compreendendo essa força
e lastimando a ciência que se exercita sobre a vida sem a norma da verdade, o
Apóstolo diz: “A ciência incha; o amor, porém, edifica.” De fato, quem pensa
que sabe alguma coisa sem a verdadeira ciência, testemunhada pela vida, não
sabe nada: é enganado pala serpente, não tendo amado a vida. Aquele, porém, que
sabe com temor e procura a vida, planta na esperança, esperando o fruto. Que a
ciência seja coração para ti; a vida seja o Verbo verdadeiramente compreendido.
Levando a arvora dele e produzindo fruto, sempre colherás o que é agradável
diante de Deus, o que a serpente não toca, nem se mistura em engano; nem Eva é
corrompida, mas reconhecida como virgem. A salvação é mostrada, os apóstolos
são compreendidos, a Páscoa do Senhor se adianta, os círios se reúnem,
harmoniza-se com o mundo e, instruindo os santos, o Verbo se alegra, pelo qual opai
é glorificado. A ele, a glória pelos séculos. Amém.
A "Epístola a Diogneto" foi e continua a ser um testemunho de fé viva.
Assim ela invada cada ser humano e possa remover os vacilantes, pois ela contém o verdadeiro sentido de uma crença que é "o sal da terra", e que continua no nosso tempo - enquanto força viva e vivida a mostrar a alma do Mundo que neste velho documento, segundo se crê, de origem laica, na sua singeleza e profundidade é um exemplo que devia ser mais difundido, porque tudo passa menos o Grande Mistério de Deus, que devia ter guarida em todos os homens, de acordo com a ciência espiritual que o remetente tinha e dela deu conta a Diogneto.
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