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quarta-feira, 18 de maio de 2016

"Os Cinco Sentidos"

in, Google Earth (Povoação de Rochas de Baixo)

Os Cinco Sentidos (Rochas de Baixo)

Os nossos sentidos
Já tos vou distinguir
Com palavras excelentes,
- Escuta, amor, se queres ouvir.

O primeiro era ver
Tua boquinha a falar.
Que linda cara para beijos,
Se os quisesses aceitar.

Segundo era ouvir,
Gosto de ouvir novas tuas,
Trago-te no pensamento
Muito mais do que tu cuidas.

Terceiro era cheirar,
Tu cheiras mesmo a rosa
Oh que lindos olhos tens!
Oh que cara tão formosa!

O quarto era gostar,
Que gostos posso eu ter,
Ausente do teu amor
Mais me valia morrer.

O quinto apertar
As tuas mãos com as minhas.
Havemos de ir à igreja
Trocar nossas palavrinhas.

Jaime Lopes Dias (1966), Etnografia da Beira
2ª edição, vol. V, Lisboa

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Rochas de Baixo é uma povoação da Freguesia de Almaceda (Castelo Branco), bem conhecida de Jaime Lopes Dias, sendo natural da região o conceituado autor da "Etnografia da Beira" de cujo labor literário, profundamente enraizado nas coisas e nas gentes beirãs ele bem conheceu e das quais, como aconteceu com esta poesia popular "OS CINCO SENTIDOS" que ele recolheu naquela povoação, nos deu um retrato fiel da alma popular.

Cantigas simples de gente simples, mas profundamente rica nas suas modas com que abrilhantavam os velhos descantes e bailes populares de que costumavam preencher a paragem da faina da lavoura, aos Domingos - Dias Santos de Guarda - religiosamente respeitados, o povo desta e outras povoações das Beiras davam largas às poucas alegrias do tempo difícil que então se viveu, sem no entanto, terem deixado morrer o que de mais lídimo havia nos seus corações de heranças que vinham de longa data.

"OS CINCO SENTIDOS" - lendo as quadras simples - deixam entrever um pré-namoro onde, para completar o "ramalhete" não falta a promessa de casamento. 
Era, assim que no tempo, de um modo que deixou raízes era costume o "arrastar da asa" àquela que se queria para companheira da vida. 

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