fac-simle da ilustração e poema "Vôo"publicado
pela revista "O Occidente" de 30 de Janeiro de 1914
A manter a moldura do "fac-simile" - lindíssimo - a leitura do soneto "Võo", fica algo imprecisa e ele bem merece ser lido pela beleza da forma e do sentimento. Por isso, aqui fica como homenagem ao Poeta do Modernismo, colaborador do "Orfeu", de seu nome completo Alfredo Pedro de Meneses Guisado, nascido em Lisboa, na Praça D. Pedro IV. (Rossio).
VÔO
Voei em mim, voei. Meu vôo se
perdeu
Num fatigante abraço. Um beijo
que me deste
Me conduziu a um mundo, a um
mundo de além-Eu.
Onde voei sem ti, onde tu me
perdeste.
Há quantos anos já!... Há
quantos anos foi!...
Lembro-me que lutei co'um vento
de agonia
Uma ilusão perdida, um fenecer
do dia,
E lembro-me que fui da minha
vida herói.
Ó mãe do meu amor sempre p'ra
mim perdida!
Eu sinto-me cansado, eu vivo
numa vida
Onde não canta a Alma, onde não
sei viver!
Quando passaste em mim, um
beijo me deixaste
Na sombra do meu peito, em Dor o
emolduraste...
Ó ilusão de mim! Ó névoa do meu
Ser!
Íntimo. Profundo. Eis aqui plasmado um sentimento lídimo e muito belo. Daqueles que não têm medida que não seja a de quem sente o que escreveu, pertencendo esta poesia àquelas sobre as quais apetece tirar o chapéu e agradecer. Foi o que fiz.
Alfredo Guisado, filho de pais galegos, proprietários do célebre restaurante lisboeta "Irmãos Unidos", local onde se reunia o grupo do "Orpheu", responsável pela introdução em Portugal do Modernismo nas artes e nas letras, pela proximidade - mas sobretudo pela sua arte - não pode fugir ao convívio de literatos como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e pintores, como Amadeo de Sousa Cardoso.
Daí que, tenha colaborado, logo a partir do primeiro número da revista "Orpheu" com uma série de sonetos, que mais tarde vieram a ser incluídos num dos seus livros; "Ânfora".
Lembrança da sua meninice, o BALOIÇO é um soneto encantador, onde perecem estar vivos os momentos vividos na terra natal de Pias, uma aldeia da Província de Pontevedra, em Espanha, onde nasceu em 1891, e que, pelo desenrolar do pensamento, até parece que na cadência como ele o desenvolve, faz baloiçar todos os que têm o prazer de ler a formosura dos versos pouco rebuscados, mas que na sua singeleza nos dão a lembrança dos nossos próprios brinquedos da infância:
BALOIÇO
Na minha quinta, em pequeno,
Tive um inquieto baloiço
Que ainda o vejo sereno
E nele os meus gritos oiço.
Longas horas baloiçava
Meu frágil corpo menino.
E ora subia ou baixava
Num constante desatino.
Nesse baloiço, à distância,
Chama por mim minha infância
E eu chamo p’lo que passou.
E sem haver quem me oiça
O baloiço me baloiça
Entre o que fui e o que sou.
LUME
Apagou-se, por fim, o incerto
lume,
que, em volta do meu ser, ainda
ardia,
e o velho alfange, de inquietante
gume,
cortou o voo que meu sonho erguia.
Apagou-se, por fim, o lume
incerto…
e fiquei-me entre as urzes,
hesitante,
no local que pr’a o além era o
mais perto
e pr’a voltar a mim o mais
distante.
Abandonada, então, essa charneca,
vestida de silêncio, árida e seca,
rodeou-me a minha alma sonhadora.
Afastei-me. Acabei por me perder:
sem poder atingir o que quis ser
e sem poder voltar ao que já fora.
1913 - Rimas da Noite e da Tristeza, Alfredo Pedro Guisado
1914 - Distância, Alfredo Pedro Guisado
1915 - Elogio da Paisagem, Pedro de Meneses
1916 - As Treze Baladas das Mãos Frias, Pedro de Meneses
1917 - Mais Alto, Pedro de Meneses
1918 - Ânfora, Pedro de Meneses
1920 - A Lenda do Rei Boneco, Pedro de Meneses
1921 - Xente d'aldea (em galego), Alfredo Pedro
Guisado/Pedro de Meneses
1927 - As Cinco Chagas de Cristo, Alfredo Pedro
Guisado/Pedro de Meneses
1969 - Tempo de Orpheu, Alfredo Pedro Guisado
1974 - A Pastora e o Lobo e outras histórias. Contos para as
crianças, Alfredo Pedro Guisado
in, Wikipedia
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