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sábado, 21 de maio de 2016

Uma lembrança de Bocage



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Que eu me lembre em 2005 não se homenageou oficialmente a memória de Manuel Maria Barbosa l'Hedois du Bocage, ou o poeta Bocage, como a História da Literatura Portuguesa deu a conhecer ao público aquele que foi um eminente homem da poesia nacional.

Infortunadamente, viveu numa época de crise nacional extremamente penosa, com uma economia frágil e com o ouro que vinha do Brasil a esvair-se no luxo à rédea solta duma corte gastadora a que acrescia a delapidação do erário público que se sumia nas despesas da marinha e do exército, e nas quais o Estado subvertendo as reformas do Marquês de Pombal se afundava, esquecido de um povo indigente a sofrer da sua impotência política.

Foi pensando neste povo - de que ele fazia parte e se sentia acorrentado pelo poder instituído - que num brado de amor à Liberdade presa nos desvarios da corte e, dos que, perto dela a serviam que o seu estro destemido, num certo dia deixou escrito para a posteridade estes dois sonetos que são um hino de amor às classes sofredoras que mantinham os luxos e asfixiavam a Liberdade, cujos ecos, embota ténues pela censura estatal, apesar de tudo, iam chegando a Portugal.

Liberdade, onde estás? 
Quem te demora

Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!


Liberdade querida e suspirada

Liberdade querida e suspirada,
Que o Despotismo acérrimo condena;
Liberdade, a meus olhos mais serena,
Que o sereno clarão da madrugada!

Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por gozar-te a face amena;
Liberdade gentil, desterra a pena
Em que esta alma infeliz jaz sepultada;

Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação da humanidade,
Cujo semblante mais que os astros brilha;

Vem, solta-me o grilhão da adversidade;
Dos céus descende, pois dos Céus és filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!

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Pensando em tudo isto - e na ausência que entre nós, não raro, se faz hoje dos grandes vultos da História de Portugal, que modestamente - eu que apenas me represento a mim mesmo - lembro a notícia de 1905 da revista "O Occidente" que não deixou passar em branco o centenário da more do Poeta, fazendo através de um seu colaborador - Ramos Coelho - a homenagem merecida àquele que foi o vulto maior da poesia portuguesa do seu tempo.

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