Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães
choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosse nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor,
Deus ao mar o perigo e o abismo
deu,
mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
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Repetimos muitas vezes as palavras que fazem parte da segunda estrofe deste poema de cunho nacionalista de Fernando Pessoa: Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena, para com esta afirmação designarmos as dificuldades que a vida tantas vezes nos oferece, provando, assim, que ao citar esta frase e outras do mesmo jaez que vamos buscar aos poetas, o que fazemos - sem cuidarmos de o fazer - é que estamos a render homenagem àqueles vultos que tiveram a arte e o engenho de nos deixar caminhos abertos por onde as nossas ideias podem penetrar, decididas e firmes, por irem beber a fontes do pensamento credíveis e às quais acorremos, para dizer sobre nós, o que eles disseram de si para si mas com destino aos outros.
Esta é a magia do criador, poeta ou não, porque antes da grande massa do povo que lhes "rouba" as frases, estiveram eles a desbravar caminhos, que podem muito bem ser metas, como esta de Fernando Pessoa, sentindo-se na pele dos navegadores portugueses que dobraram para além o Cabo Bojador, a que no tempo se deu o nome do Cabo do Medo.
E assim, tudo vale a pena se a alma não é pequena, quando é preciso vencer o medo e seguir adiante.
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