SE EU FOSSE UM PADRE
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções.
Não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas.
Rezaria seus versos, os mais belos
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se
aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!
Mário Quintana
Poesias - 1
Mário Quintana
Poesias - 1
Além de poeta, Mário Quintana foi um pensador e como tal, este poema é um pensamento em que, a sua fina sensibilidade artística toda ela é um cântico à fina flor da Poesia, que pode até não falar de Deus, nem do Anjo Rebelado, mas é pela sua beleza, como esta, algo que leva o homem a Deus, a quem ele rezava fora dos compêndios doutrinais, mas em versos - os mais belos - daqueles que lhe embalaram os seus primeiros tempos de menino, não tendo qualquer rebuço de dizer que a poesia purifica a alma... mesmo quando, como ele diz noutro pensamento poético:
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
Eis aqui, na presença distante das estrelas, o mesmo sentido da sua reza a Deus, em que a subtileza da forma e a ideia do divino continua presente, porque ele sabia que um belo poema, mesmo sem citações de profetas e das suas celestiais promessas encaminham o homem - mesmo sem ser padre - para a distância das estrelas, onde está a morada de Deus.
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