Paquete "Santa Maria"
No nº 1 da apresentação da revista "PORTUGAL COLONIAL" editado em Março de 1931, o seu Director, Henrique Galvão, publica um editorial que, visto agora à distância de 85 anos, é um paradigma de como, tal como disse, num célebre soneto, Luís de Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Vale a pena a leitura e ter em conta o seu autor, assim como vale a pena pensar no génio do Poeta, que séculos antes viu como é volúvel o comportamento dos homens - o que não é um mal por provar que ser inteligente como é - adquire comportamentos vanguardistas consoante a evolução da leitura que faz dos tempos - como aconteceu com Henrique Galvão, que de apoiante de Sidónio Pais - um reformista - o foi de Salazar que lhe confiou a responsabilidade pela secção colonial da Exposição do Mundo Português, em 1940 e, depois, participa e organiza a Administração das Colónias, vindo a ser governador da Huila, e acrescentando a tudo isto a faina de escritor de livros sobre a vida colonial.
Mas tudo isto não bastou que não se viesse a afastar da ditadura de Salazar por volta dos anos 50 que lhe valeu a prisão política e a expulsão da vida militar, até à sua fuga hospitalar e a sua ida para a Venezuela, onde em 1959 escreve a famosa "CARTA ABERTA A SALAZAR", um documento rude e sarcástico sobre o chamado "Estado Novo", até que em 1961 se torna o principal instigador do assalto ao paquete "Santa Maria" que ele rebaptiza de "Santa Liberdade" em ordem à "Operação Dulcineia" virada contra o regime.
É por tudo isto, porque, mudam~se os tempos, mudam-se as vontades, que a leitura do editorial de 1931 da revista "PORTUGAL COLONIAL" não deixa de ser um documento histórico de como, aos homens que fazem do pensamento uma escola evolutiva dos tempos, é merecida a sua aprendizagem, porque, e voltando a Camões, todo o tempo é composto de mudança...
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