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domingo, 15 de maio de 2016

O meu velho moinho

Um pedaço do Mapa Escolar da Porto Editora de 1962

A minha aldeia - que linda é! - fica aninhada entre as Serras da Gardunha e da Malcata
 e, ainda, recebe os ares sadios que sopram do alto da Serra da Estrela

Recordo-me...

Na Ribeira que percorre a todo comprimento a minha aldeia, traçando nela um fio de água cristalino ainda lá está o velho moinho que conheci na minha infância, hoje desabituado de moer o grão de milho que deu pão aos meus avós e a minha mãe e a mim mesmo das vezes que a visitava nas chamadas "férias grandes".

Num dia - já longe - ao lembrar as antigas visitas da minha infância, num dos passeios que dei por aquelas bandas, calcorreando uma das levadas de onde o via de cima, dei comigo a olhar o "velho moinho" que deixou de moer por falta de braços da antiga e desprezada lavoura dos ondulantes milheirais que eu adorava ver na minha infância, e num impulso de saudade rabisquei um poema que depois burilei com a arte que me foi possível.

Aconteceu isto em 1998.

Fica aqui o poema como recordação daquele passeio campestre, do qual sinto ainda hoje, o perfume das madressilvas, das giestas e a visão dos silvedos com as suas amoras pretas a convidar à sua apanha e à qual não me fiz rogado.


AO MEU MOINHO

Lembrando o "Moinho do Poço" da Ribeira de Praçais, junto ao qual no poço profundo cavado na rocha e no solo pela queda da água da Ribeira - foi nesse "niagara" pequenino - que muitas gerações aprenderam a nadar.


Recordo-me bem da tua graça
Meu lindo e velho moinho
De pedra tosca e simples traça
Coberto de um pó branquinho
Como se fosse uma manta!

 Ainda te vestes de era
Com um donaire que encanta
Quando chega a Primavera!

Estás às claras de quem passa,
Bem no fundo... no teu ninho.
Mas ao ver-te, hoje, na cor baça
O meu olhar que te enlaça
Lembra-se do velho moinho!

Dantes... era noite e dia.
O teu rodízio era uma asa...
Sempre de roda se ouvia!
Lá dentro a tua mó moía
E dava pão à minha casa.
Benzia-o a minha avó
E a sua mão de santinha,
Tinha a força da tua mó
E a brancura da farinha!

Tudo está longe e perdido..
Ó meu moinho de outrora!
Como tenho vivo o sentido
De um tempo que foi embora!

Mas o álamo vive, ainda,
E o sussurro da cachoeira
Tem a mesma canção linda
Ao borbulhar na ribeira...
E continua a haver juncais
E madressilvas onde moras!
E há giestas e silvas tais
Que dão enormes amoras!

Mas tu perdeste a canção
Que acordou muitas auroras
Em tempos que já lá vão!

 - Porque foi que a perdeste
Se há perfumes no caminho?
- Porque foi que emudeceste
Meu lindo e velho Moinho?


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