- Quem governa Portugal?
Há, apenas, uma resposta:
- Os partidos derrotados nas eleições do dia 4 de Outubro de 2015!
- ????!!!...
Daqui vejo um pedaço do mundo e se o vejo desajeitado, sofrendo a mágoa duma realidade melhor que desejei, estou consciente de não ter sido um destruidor assumido, embora admita a omissão de o não ter ajudado a erguer como devia, sugerindo estas afirmações que os dois modos contrários do meu agir reflectem a minha desatenção humana, dando-me a certeza que a ela só escapam os homens fadados para destinos superiores
Pesquisar neste blogue
terça-feira, 31 de maio de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
"O Meu Condado" - Um soneto de António Nobre
O MEU CONDADO
No campo azul da alada fantasia
Edifiquei outrora, por meu mal,
Castelos de oiro, esmalte e
pedraria,
Torres de lápis-lázuli e coral.
N´uma extensão de léguas, não
havia
Quem possuísse outro domínio
igual:
Tão belo, assim tão belo, parecia
O território de um senhor
feudal...
Um dia (não sei quando, nem dei
d´onde),
Um vento agreste de indiferença e "spleen"
Lançou por terra, ao pó que tudo
esconde,
O meu condado — o meu condado,
sim!
Porque eu já fui um poderoso
conde,
Naquela idade em que se é conde
assim...
Sempre que leio - e quantas vezes o tenho feito! - este soneto do poeta António Nobre, cuja vida foi um ar que passou, fico a pensar na elegia que o compõe palavra a palavra, que mais não são que o relicário profano onde ele guardou a sua vida, na idade em que se é conde assim, ou seja, quando a mocidade almeja condados de extensão de léguas e que se desejam percorrer no fulgor dos sonhos que a todos é concedido ter.
António Nobre foi um plebeu, todos o sabemos, mas foi um "conde" a que a curta vida retirou a possibilidade de ser "rei", mas não é por este facto que no aspecto literário da sua poesia triste, não tivesse merecido os dois títulos: o de "conde" porque o desejou ser e disso nos fala neste soneto e o de "rei", porque em muitas composições fez reinar a sua palavra nas certezas que nos deixou da sua vida breve, aqui e ali plasmada com a agudeza de quem sabia que tinha de ser assim cumprida.
"O Meu Condado" é disso um retrato, pois ele diz a fechar o soneto:
Um dia (não sei quando, nem dei d´onde),
Um vento agreste de indiferença e "spleen"
Lançou por terra, ao pó que tudo esconde,
O meu condado — o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso conde,
Naquela idade em que se é conde assim...
- A quantas vidas isto não tem acontecido?
- Quantos "Condados" a vida tem derrubado, mas sem ter dado aos que os perderam o modo de o poder ter dito com a expressão que António Nobre lhe pode dar?
Eis, porque, a Poesia está de parabéns por este "Condado" que suscitou na alma de António Nobre, e fez que ele ficasse na Literatura Portuguesa como um momento daquela verdade que faz do poeta um cultor de sentimentos alegres ou tristes.
Posso perguntar?
- Porque razão, António Costa se "arranjou" com o Partido Comunista Português (PCP) e Bloco de Esquerda (BE) se, como era de prever lhe iam pedir contas do apoio concedido?
"Um fraco Rei faz fraca a forte gente"
Captado com a devida vénia de "PENSADOR"
................................................................................................................
Do justo e duro Pedro nasce o
brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
in, Lusíadas - Canto III -
estrofe 138
No verso quinto desta estrofe, alude Luís de Camões à invasão de Portugal em 1369 pelo rei Henrique II da Castela, estando o rei D. Fernando de Portugal a gozar o seu ócio em Santarém, enquanto, surdamente se iam completando os dias que desembocaram na crise de 1383 a 1385, resolvida com a ascensão ao trono do Mestre da Avis, D. João I.
Em traços largos - e muito largos - é este o encadeamento histórico, cuja génese mereceu a Luís de Camões o verso imorredoiro: Que um fraco Rei faz fraca a forte gente.
Não se julgue, porém, que este verso do épico não tem actualidade, porque a tem pelas cedências e reversões de medidas sócio-económicas a que temos assistido por parte de um governo - por ele mesmo constituído à sombra de uma Constituição que o permitiu - e que faz gala em mimosear o povo com a brincadeira "das vacas que voam"... se para tanto for preciso ter arte e engenho... só que, corremos o risco de continuar correcto no tempo que passa o verso de Luís de Camões: Que um fraco Rei faz fraca a forte gente... e isto é possível, porque as palavras dos génios são intemporais!
- Qual a saída?
É simples: que haja alguém em Portugal que provoque novas eleições e delas - de um partido ou de uma coligação pré-constituída antes do acto eleitoral saia um governo legitimado pelo voto popular - e, como tal, possa actuar e ser forte... sem cedências factuais que é aquilo a que estamos a assistir, por demais!
domingo, 29 de maio de 2016
IX Domingo do Tempo Comum - 29 de Maio de 2016 (Ano C)
Irmãos: Paulo, apóstolo, não da parte dos homens, nem por
intermédio de um homem, mas por mandato de Jesus Cristo e de Deus Pai que O
ressuscitou dos mortos, e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da
Galácia: Surpreende-me que tão depressa tenhais abandonado Aquele que vos
chamou pela graça de Cristo, para passar a outro evangelho. Não que haja outro
evangelho; mas há pessoas que vos perturbam e pretendem mudar o Evangelho de
Cristo. Mas se alguém – ainda que fosse eu próprio ou um Anjo do Céu – vos
anunciar um evangelho diferente daquele que nós vos anunciamos, seja anátema.
Como já vo-lo dissemos, volto a dizê-lo: Se alguém vos anunciar um evangelho
diferente daquele que recebestes, seja anátema. Estarei eu agora a captar o
favor dos homens ou o de Deus? Acaso procuro agradar aos homens? Se eu ainda
pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.
.....................................................................................
Não é por acaso que se diz que "a Igreja é mãe e mestra", pois como se pode inferir da leitura deste Domingo, S. Paulo - o mais lídimo convertido à pregação de Jesus - ao dirigir-se aos habitantes da Galácia - uma província romana que ocupava a parte central do que agora conhecemos com Ásia Menor, também conhecida como Anatólia onde se situa a parte asiática da Turquia - recomendava-lhes que não se deixassem corromper por um evangelho diferente daquele que nós vos anunciamos, o que propunha àquela antigo povo escravizado pelos romanos, é que se mantivessem atentos à Verdade revelada.
Infelizmente, a Galácia do tempo do Apóstolo, concluímos pelas suas palavras, era um povo suceptível à aceitação de outros evangelhos, tal como hoje acontece em muitas partes do Mundo que não estando já sob a escravidão social do Império de Roma, vivem escravizados por falsos profetas que lhes apregoam evangelhos falsos, com a agravante de lhe extorquir os dízimos, o que não acontece, no tempo actual com a verdadeira Igreja que prega aos homens o único Evangelho válido, precisamente, aquele de que falou S. Paulo aos habitantes da Galácia.
Infelizmente, a Galácia do tempo do Apóstolo, concluímos pelas suas palavras, era um povo suceptível à aceitação de outros evangelhos, tal como hoje acontece em muitas partes do Mundo que não estando já sob a escravidão social do Império de Roma, vivem escravizados por falsos profetas que lhes apregoam evangelhos falsos, com a agravante de lhe extorquir os dízimos, o que não acontece, no tempo actual com a verdadeira Igreja que prega aos homens o único Evangelho válido, precisamente, aquele de que falou S. Paulo aos habitantes da Galácia.
Até as vacas podem voar!
Todos vimos e percebemos que com o "Simplex" numa nova versão, António Costa ao dar à ministra da Presidência do seu governo Maria Manuel Leitão Marques uma vaca a voar, fez uma alegoria... arvorando-se com aquele brinquedo em alguém para o qual nada é impossível...
Se pensarmos bem, António Costa tem toda a razão.
Perdeu as eleições, mas governa Portugal - não importa se bem ou mal - pelo que, para ele, até as vacas podem voar... e como o "Simplex" é o "Simplex", como se viu no acordo estabelecido com os estivadores, para simplificar, não pode haver mais emprego no Porto de Lisboa sem o acordo do Sindicato, pelo que, de nada nos surpreendeu o acordo.
E viva o "Simplex"!
Mas não se pode admitir que o maior porto de Portugal Continental tenha sido aprisionado pelo Sindicato dos estivadores...mas teve de se fazer o impossível para acabar com a greve, porque as vacas até podem voar com este governo.
E, por isso... viva o "Simplex"!
Perdeu as eleições, mas governa Portugal - não importa se bem ou mal - pelo que, para ele, até as vacas podem voar... e como o "Simplex" é o "Simplex", como se viu no acordo estabelecido com os estivadores, para simplificar, não pode haver mais emprego no Porto de Lisboa sem o acordo do Sindicato, pelo que, de nada nos surpreendeu o acordo.
E viva o "Simplex"!
Mas não se pode admitir que o maior porto de Portugal Continental tenha sido aprisionado pelo Sindicato dos estivadores...mas teve de se fazer o impossível para acabar com a greve, porque as vacas até podem voar com este governo.
E, por isso... viva o "Simplex"!
sábado, 28 de maio de 2016
Portugal dividido - podia e devia ser saudável - mas não é. Falta civismo democrático!
http://economico.sapo.pt/
......................................................................................................
Embora sem qualquer saudosismo político, usou-se nesta "postagem" um velho Mapa de Portugal para lembrar as palavras do Presidente da República ditas recentemente em Ílhavo e que são perfeitamente o retrato do País político, em que o assalto ao poder criou na outra parte o que era inevitável, ou seja, a desconfiança dos intervenientes espúrios que puseram em movimento uma inevitável crispação, escusada, se não fora o apetite do poder conseguido de qualquer jeito.
Como conciliar, agora, os dois países que habitam Portugal, levando em conta a opinião do Presidente da República?
Muito difícil, porque, de um lado a esquerda, a ela mesmo diz possuir toda a bondade, enquanto do outro lado, a direita, é a incarnação do mal e, por isso, enquanto subsistir esta anormalidade comportamental, Portugal está divido em 2 partes antagónicas, que poderiam ser - como devim ser - democraticamente saudáveis, mas que o não são, porquanto falha o essencial: o diálogo comprometido com Portugal enquanto sobra - e por demais - o tacitismo partidário dos jogos de sombra que se instalaram, sobremaneira, após as eleições legislativas de 4 de Outubro de 2015.
A ambição do poder causou estragos nas mentalidades políticas e não se vê maneira de chamar à razão os que ganhando, perderam e os que, por artes e manhas, tendo perdido, ganharam, pelo que, ou se muda o cenário ou Portugal vai de mal a pior... e eu penso - e como eu - muitos milhões de portugueses, Portugal está primeiro e merecia mais respeito.
Não sabemos é quando os do "jogo rasteiro" entenderão isto e, os outros, entenderão, que é possível das nódoas voltar a haver o jogo limpo das democracias que merecem ter este nome, coisa que ainda não aprendemos...
Alguns - poucos - não deixam!
Alguns - poucos - não deixam!
A última refeição da Rainha D. Amélia em solo de Portugal!
Foto de Maio de 2016 da casa da Rua Paroquial (Ericeira)
Voltada para a Rua Paroquial, bem perto da Igreja de S. Pedro - a Igreja Matriz da vila da Ericeira desde 1530 - esta casa típica na garridice do azul e do branco, conforme atesta a lápide colocada num dos seus alçados virado para o Largo da Vila pela "Liga dos Amigos da Ericeira" em 5-10-1990, levou-me a pensar que aquela data a todos os títulos histórica, não apenas assinala a queda abrupta e sanguinária da Monarquia, a mando da Carbonária e da Maçonaria, como ali, naquele local, a Instituição local da "Liga de Amigos" em 1990, não teve qualquer pejo em lembrar o evento, para que constasse que a Rainha deposta, antes de descer a rampa da Praia dos Pescadores - onde embarcou para o exílio forçado - tomou ali uma refeição.
A última em solo de Portugal!
Conheço a Ericeira há muitos anos, terra onde vou sempre com agrado, pois desde os meus tempos infantis, aquele local, conjuntamente com o da Praia de S. Julião, onde costumava passar férias - o que aconteceu durante muitos anos - marcaram indelevelmente, e para sempre, a minha lembrança.
Naquele dia recente em que os meus olhos deram com a lápide colocada bem à vista de quem passa, fiquei a pensar que aquilo que ela assinala e que, sobremaneira, mais me impressionou não foi o ter sido ali a última refeição tomada em Portugal pela Rainha D. Amélia, foi antes, o facto histórico que ceifou a vida de seu marido e a de um dos seus filhos às mãos cruentas de um novo regime que para se implantar não tinha o direito de assassinar vidas.
Por isso, a I República, com um começo assassino não podia acabar em triunfo, tendo tido a sorte que merecia, dando razão ao povo que, avisadamente diz o mesmo por palavras quase iguais: "Quem mal começa, mal acaba".
E foi com este pensamento na ideia que naquele dia percorri as ruas, ruelas, travessas e largos da Ericeira, encantado de me perder num canto para me achar logo a seguir, como aconteceu na Igreja de Santo António, que o povo local também conhece por "Capela da Boa Viagem" fronteira à Praia dos Pescadores, levando sempre comigo a lembrança da Rainha D. Amélia que dali partiu e donde nunca mas voltou, numa viagem forçada que a fúria dos homens proporcionou sem honra nem glória, que não fosse a do momento do desvario político que implantou um regime que muitos não souberam merecer.
Também, por isto, a Ericeira é um lugar mítico.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Uma intromissão na poesia de Alfredo Guisado
fac-simle da ilustração e poema "Vôo"publicado
pela revista "O Occidente" de 30 de Janeiro de 1914
A manter a moldura do "fac-simile" - lindíssimo - a leitura do soneto "Võo", fica algo imprecisa e ele bem merece ser lido pela beleza da forma e do sentimento. Por isso, aqui fica como homenagem ao Poeta do Modernismo, colaborador do "Orfeu", de seu nome completo Alfredo Pedro de Meneses Guisado, nascido em Lisboa, na Praça D. Pedro IV. (Rossio).
VÔO
Voei em mim, voei. Meu vôo se
perdeu
Num fatigante abraço. Um beijo
que me deste
Me conduziu a um mundo, a um
mundo de além-Eu.
Onde voei sem ti, onde tu me
perdeste.
Há quantos anos já!... Há
quantos anos foi!...
Lembro-me que lutei co'um vento
de agonia
Uma ilusão perdida, um fenecer
do dia,
E lembro-me que fui da minha
vida herói.
Ó mãe do meu amor sempre p'ra
mim perdida!
Eu sinto-me cansado, eu vivo
numa vida
Onde não canta a Alma, onde não
sei viver!
Quando passaste em mim, um
beijo me deixaste
Na sombra do meu peito, em Dor o
emolduraste...
Ó ilusão de mim! Ó névoa do meu
Ser!
Íntimo. Profundo. Eis aqui plasmado um sentimento lídimo e muito belo. Daqueles que não têm medida que não seja a de quem sente o que escreveu, pertencendo esta poesia àquelas sobre as quais apetece tirar o chapéu e agradecer. Foi o que fiz.
Alfredo Guisado, filho de pais galegos, proprietários do célebre restaurante lisboeta "Irmãos Unidos", local onde se reunia o grupo do "Orpheu", responsável pela introdução em Portugal do Modernismo nas artes e nas letras, pela proximidade - mas sobretudo pela sua arte - não pode fugir ao convívio de literatos como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e pintores, como Amadeo de Sousa Cardoso.
Daí que, tenha colaborado, logo a partir do primeiro número da revista "Orpheu" com uma série de sonetos, que mais tarde vieram a ser incluídos num dos seus livros; "Ânfora".
Lembrança da sua meninice, o BALOIÇO é um soneto encantador, onde perecem estar vivos os momentos vividos na terra natal de Pias, uma aldeia da Província de Pontevedra, em Espanha, onde nasceu em 1891, e que, pelo desenrolar do pensamento, até parece que na cadência como ele o desenvolve, faz baloiçar todos os que têm o prazer de ler a formosura dos versos pouco rebuscados, mas que na sua singeleza nos dão a lembrança dos nossos próprios brinquedos da infância:
BALOIÇO
Na minha quinta, em pequeno,
Tive um inquieto baloiço
Que ainda o vejo sereno
E nele os meus gritos oiço.
Longas horas baloiçava
Meu frágil corpo menino.
E ora subia ou baixava
Num constante desatino.
Nesse baloiço, à distância,
Chama por mim minha infância
E eu chamo p’lo que passou.
E sem haver quem me oiça
O baloiço me baloiça
Entre o que fui e o que sou.
LUME
Apagou-se, por fim, o incerto
lume,
que, em volta do meu ser, ainda
ardia,
e o velho alfange, de inquietante
gume,
cortou o voo que meu sonho erguia.
Apagou-se, por fim, o lume
incerto…
e fiquei-me entre as urzes,
hesitante,
no local que pr’a o além era o
mais perto
e pr’a voltar a mim o mais
distante.
Abandonada, então, essa charneca,
vestida de silêncio, árida e seca,
rodeou-me a minha alma sonhadora.
Afastei-me. Acabei por me perder:
sem poder atingir o que quis ser
e sem poder voltar ao que já fora.
1913 - Rimas da Noite e da Tristeza, Alfredo Pedro Guisado
1914 - Distância, Alfredo Pedro Guisado
1915 - Elogio da Paisagem, Pedro de Meneses
1916 - As Treze Baladas das Mãos Frias, Pedro de Meneses
1917 - Mais Alto, Pedro de Meneses
1918 - Ânfora, Pedro de Meneses
1920 - A Lenda do Rei Boneco, Pedro de Meneses
1921 - Xente d'aldea (em galego), Alfredo Pedro
Guisado/Pedro de Meneses
1927 - As Cinco Chagas de Cristo, Alfredo Pedro
Guisado/Pedro de Meneses
1969 - Tempo de Orpheu, Alfredo Pedro Guisado
1974 - A Pastora e o Lobo e outras histórias. Contos para as
crianças, Alfredo Pedro Guisado
in, Wikipedia
segunda-feira, 23 de maio de 2016
Uma lembrança de Bulhão Pato
Privei de perto, profissionalmente, com um descendente do poeta Bulhão Pato e. hoje, lembrado-o - por vezes, infelizmente, é muitas vezes, sob o peso da morte que nos lembramos dos que foram nossos companheiros em cima do chão da vida - recordei-me do amigo que Deus lá tem e do seu amor ao seu celebrado ascendente, de que ele falava sempre com o enlevo próprio da estima familiar que lhe merecia a insigne memória do célebre autor da "Paquita".
Foi o bastante para me levar a vasculhar o acervo dos meus velhos alfarrábios até descobrir na velha e conceituada revista "O Occidente" a homenagem póstuma ao poeta, feira pela revista que deixo aqui, na gravura e na captação do texto escrito, como recordação ao ilustre homem de letras que foi Bulhão Pato e, com muita saudade, lembrando o meu velho companheiro de profissão, homem que muito estimei mas que a vida e a distância física separou de um convívio regular.
Gravura da revista "O Occidente" de 30 de Agosto de 1912
Explicitação da nota (1) inserta no texto
"Paquita" foi o seu livro de poesia mais celebrado.
Iniciou a sua carreira literária em 1850 como o livro "Poesias de R.A. de Bulhão Pato" a que se seguiu "Versos de Bulhão Pato" em 1862 e em 1886, o poema "Paquita", todos eles merecedores de grandes encómios por parte de Alexandre Herculano, tendo-se-lhe seguido em 1867 as "Canções da Tarde"; em 1870, as "Flores Agrestes"; em 1871 as "Paisagens" - em prosa - em 1873, os "Cânticos e Sátiras", em 1881 o "Mercador de Veneza" a que se seguiram outras publicações, como "Sátiras", Canções e Idilios" e o "Livro do Monte" de grande impacto na imprensa da época, como a revista "O Occidente" de 15 de Dezembro de 1896.
Esta intrusão em Bulhão Pato, fruto da amizade que o destino proporcionou com um seu familiar, foi uma escavação no passado, mas se constituiu para mim um exercício de proveitosa leitura, foi feita com a "enxada" que possuo e, com ela, fui ao mais fundo da história que pude fazer.
Se ela for proveitosa para quem tiver a paciência de a ler, penso que a lembrança do homem que nasceu em Bilbau e onde sua mãe, fruto das desavenças políticas do tempo faleceu "cravada de balas", fazendo que seu pai retirasse em 1837 para Portugal para ser educado no Colégio do Quelhas e, depois, no Colégio dos Nobres, escolas educacionais que muito ajudaram a desenvolver o literato que havia em Bulhão Pato, a ponto de fazer dele um amigo de grandes e ilustres escritores, como Almeida Garrett, Rebelo da Silva e Latino Coelho e Alexandre Herculano que lhe prefaciou o livro "Paquita" que começa assim, a primeira sextilha, com a grafia do tempo:
Vale a pena, só por estes seis versos que nos dão a imagem poética do que ele esceveu ir em busca do Livro e lê-lo, na certeza que não haverá ninguém que goste de poesia escorreita que o ponha de lado sem chegar ao fim
Fica feito o convite.
Canto primeiro
Virgem d' olhos azues, pallida e
triste,
Se esta palavra—adeus— banhada
em pranto
Nalgum lance cruel já
proferiste;
Se impia mão te roubou ao doce
encanto
Do teu primeiro affecto para
sempre,
Virgem d' olhos azues, ouve este
canto.
Vale a pena, só por estes seis versos que nos dão a imagem poética do que ele esceveu ir em busca do Livro e lê-lo, na certeza que não haverá ninguém que goste de poesia escorreita que o ponha de lado sem chegar ao fim
Fica feito o convite.
sábado, 21 de maio de 2016
Dois poemas do Conde de Monsaraz
in, revista "O Occidente" de 20 de Outubro de 1906
De seu nome de baptismo António de Macedo Papança foi
agraciado com o título nobiliárquico de 1ºVisconde e depois 1ºConde de Monsaraz
em 1890 pelo rei D. Carlos, que assim quis distinguir este advogado, político,
par do Reino e poeta, natural de Reguengos de Monsaraz, (Alentejo) cuja obra
literária de pendor naturalista demonstra um nacionalismo sadio que ele viveu e
sentiu nas charnecas e nos montados da sua terra, onde o povo, o divinal
crepúsculo dos horizontes e as vistas dos sobreiros e das giestas em flor lhe
deram a inspiração graciosa do lirismo alentejano que lhe guarda um lugar de
destaque entre os seus mais lídimos representantes
O Conde de Monsaraz foi um palaciano e um lavrador e como
prova da sua poesia naturalista que ele soube encontrar nas coisas e pessoas da
sua terra deixou como um pai extremoso, em forma de recado - ou ralhete amigo -
este exemplo dirigido às Moças de Bencatel, uma localidade vizinha da sua terra
natal.
Ó moças de Bencatel,
não vos zangueis se vos ralho:
muito amor, pouco trabalho;
pouco trigo,muito mel;
- fiai-vos no que vos digo
e não fiqueis mal comigo,
ó moças de Bencatel -
para vós, para a lavoura,
tomai tento, melhor fora
muito trigo, pouco mel.
Vejo terras de pousio,
que andaram sempre lavradas,
todas cobertas de flores;
mais quando chegar o frio
e passarem os calores,
e as chaminés apagadas
e as camas sem cobertores,
mal irá às namoradas
e pior aos lavradores.
Funçanatas e derriços.
cantigas e pasmaceiras,
fazem fugir aos serviços
e faltar às sementeiras:
eis porque estão os cortiços
abarrotados de mel
e estão desertas as eiras,
ó moças de Bencatel.
Como abelhas, as cantigas,
por entre moitas e brejos,
fabricam favos de beijos
nas bocas das raparigas,
e os mocetões das aldeias,
sem canseiras nem cuidados,
largam ancinhos e arados
para crestar as colmeias...
Ó moças de Bencatel,
vós tendes as bocas cheias...
Acautelai-vos , senão
haveis de ficar sem mel,
sem maridos e sem pão!
in, «Musa Alentejana»
Com outro pendor, mas bem demonstrativo da sua poesia regional
de usos e costumes do seu tempo, O SENHOR MORGADO é um outro exemplo acabado da
sua lira que bem merece a nosso apreço, tendo em conta que naquele tempo o
"morgado" sendo o dono do então chamado "morgadio", era a
figura que contrariava o empobrecimento das famílias devido as partilhas
sucessivas e, desse modo, era o ramo principal que mantinha operante o estatuto
económico-social de um dado pedaço de terra.
Foi assim, que o viu e cantou o Conde de Monsaraz:
O senhor morgado
Vai no seu murzelo,
Todo empertigado.
É um gosto vê-lo,
Próspero anafado,
Véstia alentejana,
Calça de riscado:
Homem duma cana!
Vai, todo se ufana
De ir tão bem montado
E ela na janela...
Seja Deus louvado!
O senhor morgado
Vai nas próprias pernas,
Todo bambeado;
Tem palavras ternas
Para cada lado.
Quando passa, sente
Que é temido e amado;
Fala a toda a gente,
Topa um influente:
“Sou um seu criado...”
Eleições á porta,
Seja Deus louvado!
O senhor morgado
Vai na sege rica
Todo repimpado:
Ai que bem lhe fica
O chapéu armado,
E a comenda ao peito,
E o espadim ao lado!
Que homem tão perfeito!
Deputado eleito,
Muito bem votado,
Vai para o Te-Deum,
Seja Deus louvado!
Deixou-nos uma preciosa obra literária de onde ressaltam os
seguintes livros:
Crepusculares, 1876;
Catarina de Ataíde, 1880;
Telas Históricas: I - O Grande Marquês;
Telas Históricas: II - A Lenda do Jesuitismo, 1882;
Obras de Macedo Papança, Conde de Monsaraz; Poesias,
1882-1891;
Do último Romântico, Páginas Soltas, 1892;
Benvinda (poema dramático em 5 actos), 1903;
Musa Alentejana, l908;
Lira de Outono (colectânea póstuma), 1952;
Obras (3 vols.), 1957-1958
Uma lembrança de Bocage
.............................................................................................................................
Que eu me lembre em 2005 não se homenageou oficialmente a memória de Manuel Maria Barbosa l'Hedois du Bocage, ou o poeta Bocage, como a História da Literatura Portuguesa deu a conhecer ao público aquele que foi um eminente homem da poesia nacional.
Infortunadamente, viveu numa época de crise nacional extremamente penosa, com uma economia frágil e com o ouro que vinha do Brasil a esvair-se no luxo à rédea solta duma corte gastadora a que acrescia a delapidação do erário público que se sumia nas despesas da marinha e do exército, e nas quais o Estado subvertendo as reformas do Marquês de Pombal se afundava, esquecido de um povo indigente a sofrer da sua impotência política.
Foi pensando neste povo - de que ele fazia parte e se sentia acorrentado pelo poder instituído - que num brado de amor à Liberdade presa nos desvarios da corte e, dos que, perto dela a serviam que o seu estro destemido, num certo dia deixou escrito para a posteridade estes dois sonetos que são um hino de amor às classes sofredoras que mantinham os luxos e asfixiavam a Liberdade, cujos ecos, embota ténues pela censura estatal, apesar de tudo, iam chegando a Portugal.
Pensando em tudo isto - e na ausência que entre nós, não raro, se faz hoje dos grandes vultos da História de Portugal, que modestamente - eu que apenas me represento a mim mesmo - lembro a notícia de 1905 da revista "O Occidente" que não deixou passar em branco o centenário da more do Poeta, fazendo através de um seu colaborador - Ramos Coelho - a homenagem merecida àquele que foi o vulto maior da poesia portuguesa do seu tempo.
Infortunadamente, viveu numa época de crise nacional extremamente penosa, com uma economia frágil e com o ouro que vinha do Brasil a esvair-se no luxo à rédea solta duma corte gastadora a que acrescia a delapidação do erário público que se sumia nas despesas da marinha e do exército, e nas quais o Estado subvertendo as reformas do Marquês de Pombal se afundava, esquecido de um povo indigente a sofrer da sua impotência política.
Foi pensando neste povo - de que ele fazia parte e se sentia acorrentado pelo poder instituído - que num brado de amor à Liberdade presa nos desvarios da corte e, dos que, perto dela a serviam que o seu estro destemido, num certo dia deixou escrito para a posteridade estes dois sonetos que são um hino de amor às classes sofredoras que mantinham os luxos e asfixiavam a Liberdade, cujos ecos, embota ténues pela censura estatal, apesar de tudo, iam chegando a Portugal.
Liberdade, onde estás?
Quem te
demora
Liberdade, onde estás? Quem te
demora?
Quem faz que o teu influxo em
nós não caia?
Porque (triste de mim!) porque
não raia
Já na esfera de Lísia a tua
aurora?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que
desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e
trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos
devora!
Eia! Acode ao mortal, que, frio
e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a
vontade,
E em fingir, por temor, empenha
estudo.
Movam nossos grilhões tua
piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e
tudo,
Mãe do génio e prazer, oh
Liberdade!
Liberdade querida e suspirada
Liberdade querida e suspirada,
Que o Despotismo acérrimo
condena;
Liberdade, a meus olhos mais
serena,
Que o sereno clarão da
madrugada!
Atende à minha voz, que geme e
brada
Por ver-te, por gozar-te a face
amena;
Liberdade gentil, desterra a
pena
Em que esta alma infeliz jaz
sepultada;
Vem, oh deusa imortal, vem,
maravilha,
Vem, oh consolação da
humanidade,
Cujo semblante mais que os
astros brilha;
Vem, solta-me o grilhão da
adversidade;
Dos céus descende, pois dos Céus
és filha,
Mãe dos prazeres, doce
Liberdade!
...................................................................................................................
Pensando em tudo isto - e na ausência que entre nós, não raro, se faz hoje dos grandes vultos da História de Portugal, que modestamente - eu que apenas me represento a mim mesmo - lembro a notícia de 1905 da revista "O Occidente" que não deixou passar em branco o centenário da more do Poeta, fazendo através de um seu colaborador - Ramos Coelho - a homenagem merecida àquele que foi o vulto maior da poesia portuguesa do seu tempo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)