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terça-feira, 5 de dezembro de 2017

"Tarde vos amei"...



Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!

Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu lá fora a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me
sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo,
e eu não estava convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria
se não existisse em Vós.

Porém chamaste-me
com uma voz tão forte
que rompestes a minha surdez!
Brilhastes, cintilastes
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes perfume:
respirei-o, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos,
e agora tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi no desejo de vossa paz.

Agostinho de Hipona
(Argélia 354 - 430)
As Confissões, Livro X, 27-38
Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina
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Podemos supor ao mirar a gravura que Santo Agostinho de pena na mão e estando rodeado de livros - como o autor da tela o viu e retratou e de olhos virados para Deus, de que disse: TARDE VOS AMEI - naquele tempo este filósofo cristão já empossado como Bispo de Hipona, meditava nas suas célebres CONFISSÕES, que são, seguramente, um dos Livros maiores de toda a Literatura Universal, porque nele está, sem rodeios e sem respeitos humanos, a mais viva, saliente e profunda análise do grande convertido, hoje elevado à honra de "Doutor da Igreja".

Neste poema, Santo Agostinho, sintetiza de uma forma admirável a sua dor humana:

Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu lá fora a procurar-Vos!

Neste mês em  que vamos no caminho da escuta e do silêncio que é preciso fazer para que entendamos em toda a plenitude o sentido do Natal que se aproxima, que o Deus Eterno que vive dentro de cada criatura seja por ela procurado dentro de si mesma.

Esqueçamos, como Santo Agostinho, todo o tempo perdido, buscando fora o Mistério que vive dentro de nós.

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