Natal...
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Sempre que leio este poema de Fernando Pessoa, sabendo que a sua província foi o Chiado e seus arredores admiro este retrato provinciano que seu estro poético pintou e ao fixar-me na última quadra e no seu último verso, humanamente comovo-me pela realidade vivencial que ele expressa deste modo: - Do lar que nunca terei - uma afirmação que neste tempo de Natal ao pensar no aconchego do meu lar, aquilo que este verso me diz é a grande verdade ali plasmada, porque lar, foi algo que ele não teve para si.
Leio isto e sinto a dor de Fernando Pessoa!
Leio isto e fico a pensar no retrato autêntico que ele pintou desta província imaginada em que tudo é verdade, quer seja o pormenor da neve que cai fora dos lares aconchegados, quer o facto de na reunião das famílias o seu sentir profundo guardar os sentimentos passados de memórias que ficam vivas de geração em geração e, depois, a expressão pessoal do Poeta, que foi também uma verdade - Coração oposto ao mundo - que foi assim que ele viveu, contra um mundo que não soube entender o seu génio durante o tempo que Deus lhe deu.
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