Pesquisar neste blogue

sábado, 2 de dezembro de 2017

"Canção" - Um poema de Guerra Junqueiro



Fac-simile captado na revista "O Occidente" de 1 de Junho de 1878
..........................................................................................................

No ano em que este poema foi  publicado tinha Guerra Junqueiro 28 anos e havia terminado o curso de Direito, em Coimbra havia apenas cinco, depois de ter desistido do curso de Teologia por não sentir o chamamento de Deus para a vida religiosa.

Esta "CANÇÃO" denota já em cada um dos seus versos o ardor combativo deste grande inconformado com o andar social e político do seu tempo e que viria a fazer dele um dos grandes obreiros da queda da Monarquia trinta e dois anos depois, mas tendo já no acervo da sua obra literária a publicação em 1874 do poema "A MORTE DE D. JOÃO" onde o protagonista resume na sua pessoa tudo o que havia de doentio na sociedade, como o tédio, a indiferença, a falta de carácter que andava à solta nos cafés, nos teatros, na literatura, nas Igrejas e, sobretudo, nas consciências.

Eis, porque, quatro anos depois este poema - "CANÇÃO" - não trouxe uma qualquer canção romântica ou de embalar  um qualquer amor, dizendo até, "Quer durmam, muito embora, os pálidos amantes / Que andam contemplando a lua branca e fria", para no terceiro verso num tom resoluto e combativo declarar: "Levantai-vos heróis, e despertai, gigantes!", para explanar no resto do poema todo o seu lado do lutador social que foi contra tudo o que ele via de mesquinho numa sociedade que ele queria renovar com o seu afã libertário e no qual não faltou o seu apregoado anti-clericalismo que bebeu até à última gota na "Velhice do Padre Eterno", um livro de que se viria a arrepender na velhice, como se sabe.

Sou daqueles que entendo perfeitamente Guerra Junqueiro e o seu sentir pátrio nesta "CANÇÃO" de guerra e tenho pelo grande Poeta de Freixo de Espada à Cinta uma estima muito especial pela sua poesia realista, inconformista e lírica - bem dentro do tempo que viveu - mas não deixo de o censurar por ter levado longe demais a sua aversão à Igreja, que se é certo ele combateu na figura do Padre, não deixou de a molestar naquilo que nela existe de mais puro: os seus fundamentos onde estão bem fundos os ideais de Deus que Ele queria ver plasmados em todos os homens.

Esquecendo isso, convicto que Deus ajustou com ele as críticas que ele fez à sua Igreja, que é regida por homens - nem todos são Santos - convido os meus leitores a leram esta "CANÇÃO" e desfrutarem nela a beleza do composição poética, a métrica irrepreensível e o sentido guerreiro que ele lhe deu e que veio a culminar com a implantação da República Portuguesa, certo que o grande Poeta que lhe sobrevivei treze anos, nem todos terão sido de gáudio para ele, que esteve na sua génese pelo poder da sua escrita empolgada.

Sem comentários:

Enviar um comentário