O Pensador (detalhe)
August Rodin, autor desta famosa estátua ao comentar a sua obra destacava a
importância de seus detalhes por serem imagens do todo que ele cinzelou e sobre eles disse assim:
“O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa
não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas
distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus
braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados”
Depois de ler o poema - EU AINDA NÃO ENCONTREI O QUE PREGUEI - sinto que as autoras, de um certo modo, desanimadas devem ter sentido em si mesmas algo parecido com a descrição que Rodin fez da sua obra, sobretudo no modo pensativo daquele dorso em que, não só o cérebro pensava mas todo o resto do corpo fazia o mesmo, pensando-se ambas pensativas e a sofrer de desânimos interiores que deixaram bem expressos na sua poesia.
Atrevo-me a dizer que foi isto que aconteceu.
Mas, porque é tempo de Natal - tempo de amor por todas as criaturas - prossigamos a jornada da vida continuando, como diz o poema, na procura de pregar - "o que preguei" - por não haver outro modo e por sabermos que nunca faltarão ouvidos moucos, mas que apesar de tudo, sempre ouvem algo do que é dito, agora, logo, amanhã ou depois!
Semear é a tarefa do lavrador.
E todos somos lavradores de uma palavra de bem!
E todos somos lavradores de uma palavra de bem!
EU AINDA NÃO ENCONTREI
O QUE PREGUEI
Eu caminhei de um lado a outro…
Atravessei continentes…
Procurei nas aldeias distantes…
E também no centro das
metrópoles…
Mas ainda não encontrei o que
preguei…
Procurei no sorriso da criança…
Ou na consciência do adulto…
Em cada vulto… Um indulto…
Uma esperança…
Mas ainda não encontrei o que preguei…
Viajei… Naveguei…
E novamente solucei…
Pelo que não encontrei…
Uma paz em uníssono…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Voltei em silêncio…
Vi tantas guerras… Tanto
calafrio…
Tanta morte anunciada em vida…
Vestida de Midas…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Vasculhei as cidades…
Vi tanta desigualdade…
Mesas cheias, frutas importadas…
Árvores coloridas, tão
iluminadas…
Enquanto em tantas casas falta
O pão de cada dia…
Morrendo de fome tantos Josés e
Marias…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Percorri todos os distritos…
Vi crianças pedindo esmolas…
Crianças sem escolas…
Rostos contritos… Pais aflitos…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Procurei por todas as ruas…
Vi tantas almas nuas…
Adolescentes drogados,
abandonados…
Idosos nas calçadas jogados…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Fotografei cada coração…
No lugar da alegria e do perdão
Só enxerguei mágoa e tristeza…
Vi muita dureza e aspereza…
E ainda não encontrei o que
preguei…
Ainda não encontrei o que
procurei…
Um eco constante a cada ano…
Que ressoa aos meus ouvidos…
Vem-me o desânimo…
Os ideais de fraternidade…
Irmãos dêem-se as mãos…
Não fiquem na contramão do amor…
Semeando angústia e dor…
Porque o que preguei…
Foi à festa da libertação…
A igualdade entre os homens
Sem discriminação…
O direito à vida…
Toda gente por mim foi redimida!
Porque o que preguei…
Foi o direito a conscientização…
A luta para extinguir o mal…
E o desejo de um mundo ideal…
Porque o que preguei…
Foi o grito de protesto a
opressão…
O dia a dia lutando com ardor…
Para a morte da miséria…
Para a ressurreição do amor…
Eu preguei a paz… O respeito… O
amor…
E como nada disso
Entre os homens encontrei…
Continuo procurando o que
preguei…
Carmen Cecília & Carmen
Vervloet
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