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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Conceição

Pintura de Pieter Paul Rubens 
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O dogma da Imaculada Conceição ou da Senhora da Conceição foi um dos grandes diferendos que opôs Alexandre Herculano ao Padre Barros Gomes com quem trocou uma variadíssima correspondência polémica a partir do seu recolhimento campestre, em Vale de Lobos no ano de 1876- tinha ele 66 anos   - e que foi publicada no "Tomo 1" das suas "CARTAS" e da qual ressalto uma parte da terceira carta onde o historiador - um cristão da velha escola, como ele diz numa carta anterior,  que não aceitou, de todo, o Concílio Vaticano I - dizendo, o seguinte, em resposta ao seu opositor:
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V. Ex.* diz que eu protesto, em nome da razão, contra o procedimento dos bispos que se submeteram ás decisões do concilio do Vaticano ou as sustentaram. Não, Ex.mo Senhor. Sirvo-me da razão para protestar, em nome da tradição, contra dogmas de nova fabrica. Protesto, porque me lembro do preceito do apostolo S. Pedro, segundo o qual devo estar habilitado para expor os motivos da minha crença, e eu não o estou para dizer em que ela se fundaria se admitisse o imaculatismo e o infallibilismo ; protesto contra doutrinas que eram erros enquanto não passaram das discussões dos teólogos, mas que se converteram em heresias formais desde que se proclamaram como artigos de fé.
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Neste dia em que a Igreja cristã católica honra a Mãe de Deus na sua Imaculada Conceição, e tendo sido Alexandre Herculano um alto defensor de um cristianismo da era apostólica, a que acrescentou uma razão que nunca deixou de beber na Fonte daquela era - mas parecendo ter omitido que a Virgem que pressupunha "a cheia de graça" já assim era considerada em Isaías e Miqueias - o que nos faz alguma impressão o "dogmatismo" de Herculano, que sendo um profundo historiador, parece ter-se nublado no seu espírito o sentido que Nossa Senhora exerceu na alma crente do povo quanto ao enraizamento da sua espiritualidade e no que ela representava na História de Portugal de que ele foi um erudito escritor.

Atentemos nos três parágrafos que se seguem - tomando como fonte inspiradora que muito agradecemos -  um texto do Rev. Padre Francisco Couto, publicado pela "Agência Ecclesia" no passado dia 6 de Dezembro:

Na revolução de 1383-1385, Lisboa viu-se cercada até Setembro de 1384, tendo-se travado durante este período a batalha dos Atoleiros - 6 de Abril de 1384 - que foi ganha por D. Nuno Àlvares Pereira, com a eleição subsequente do Mestre de Avis para Rei de Portugal, seguindo-lhe a 15 de Agosto do ano seguinte - dia da Assunção de Nossa Senhora -  a batalha de Aljubarrota, também sob a chefia do Condestável do Reino de que resultou a consolidação da revolução.

Três séculos depois, D. João IV - no tempo em que o Movimento da Restauração o aclamou Rei de Portugal - ao lembrar aqueles dois momentos vividos por Portugal no século XIV - sentiu ali a presença de Nossa Senhora, como já havia acontecido aquando da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, onde houve lugar para a realização de uma Festa em honra da Imaculada Conceição.

D. João IV, conhecedor de que a Igreja de Nossa Senhora do Castelo em Vila Viçosa havia sido fundada por D. Nuno Àlvares Pereira e à qual ofereceu a Imagem da Virgem Padroeira, com aquele gesto reconheceu a mística que desde a fundação do Reino sempre havia levado Portugal à vitória - e a ver-se livre dos seus inimigos exteriores - tendo como força espiritual Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa a quem deu o título de Rainha de Portugal - e à qual ofereceu a sua coroa de Rei que nunca mais foi usada até ao fim da Monrquia - e cuja espiritualidade foi assim assumida pelos intelectuais que na Universidade de Coimbra defenderam o dogma da Imaculada Conceição.

A deposição da coroa do Rei D. João IV
in, "Agência Ecclesia"

Foi tão relevante esta devoção popular dos portugueses à Imaculada Conceição que durante alguns séculos o dia 8 de Dezembro foi celebrado como "DIA DA MÃE", um dia que transcende o "Dia Santos" dos católicos e que sendo um feriado religioso, é, ao mesmo tempo celebrativo da cultura, da tradição e da espiritualidade que mora bem fundo na alma portuguesa que a Bula "Ineffabilis Deus" do Papa Pio IX, de 8 de Dezembro de 1854. ouvido todos os Bispos do mundo. definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria.

Muito longe de ser um capricho religioso este dogma é o resultado de tudo quanto a Igreja viveu até àquela data - incluindo a de hoje - apoiado nos Doutores da Igreja e na sua forma de intérpretes da Sagrada Escritura.

Uma das provas lemo-la hoje, no Livro do Génesis, Cap. 3, versículo 15: "Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça" , bastando , apenas um pouco de bom entendimento para aquilatarmos de que mulher se fala aqui, para concluirmos que se trata de Nossa Senhora, aquela que desde a primeira aurora dos tempos fazia parte do planos do Deus Eterno: Aquela mulher era já ali "a cheia de graça", "a bendita entre todas as mulheres", a nova Eva, cuja descendência - Jesus Cristo - incarnava o Bem, tendo na serpente o lado oposto. o demónio e a certeza que a vitória estaria do primeiro lado contra o segundo.

Se aquela mulher que um dia havia de nascer não fosse IMACULADA o anjo Gabriel não teria dito: "Ave, cheia de graça. O Senhor é convosco", porque não havia nela a plenitude como Deus lha deu e, logo, com esta salvação o que o Anjo deixou claro é que nela estava excluído o pecado original, porquanto, na voz do Anjo está a verdade luminosa de Deus se exaltar com a Virgem antes desta ter concebido, pois Jesus Cristo - Filho de Deus - não podia nascer se nela estivesse o pecado original, donde podemos concluir que Nossa Senhora foi concebida IMACULADA, livre da mancha de Eva e de todos os seres humanos que lhe são posteriores.

A concluir, dir-se-á que o diferendo que opôs Alexandre Herculano ao Padre Barros Gomes - sobre o imaculatismo e o infabilismo - poderia ter levado um caminho diferente se não fora o abandono que ele fez do Concílio Vaticano I, mantendo-se fiel aos ensinamentos da sua juventude católica, onde parece, ter faltado a Luz do Antigo Testamento, logo no primeiro dos seus Livros.

Deus Omnipotente e Misericordioso entendeu, certamente - as "certezas" do grande vulto das Letras Portuguesas - e tê-lo-á acolhido no seu seio, porquanto, ele foi um interrogador fiel aos seus princípios religiosos de que nunca abdicou.

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