in, revista "O Occidente" de 1 de Setembro de 1879
Desenho do natural de João Pedro Monteiro
Desenho do natural de João Pedro Monteiro
.........................................................................................
Recordo-me...
Era, então, um adolescente que tinha o hábito de passar pelas ruas da cidade de Lisboa e fixar o que nelas havia de "estranho" ao ambiente vulgar da arquitectura urbana.
Num certo dia fixei o olhar e a atenção num lavadouro público junto aos arcos da Rua Gualdim Pais, mas com frente para a Rua de Xabregas, e ver nele, atarefadas as lavadeiras na sua árdua tarefa, onde não faltavam algumas cantigas, e risadas e, pelo meio, o "bate-que-bate" da roupa nas pedras alvas que se inclinavam para dentro do largo tanque.
Ao pé, havia um tanque onde os animais cavalares iam beber água e a chamada "Fonte de Xabregas" um motivo arquitectónico simples e similar a muitos outros que então havia em muitos locais da cidade e sempre identificados pelas letras CML, como obra da pertença da edilidade lisboeta.
Correu o tempo e, hoje, aquele local da minha lembrança de "menino e moço" fez que tomasse conhecimento que naquele mesmo local esteve implantada até 1860 a "Fonte da Samaritana", cujo desenho se reproduz, e tendo sido mandada edificar pela Princesa D. Leonor da Casa de Avis e depois Rainha pelo seu casamento com o primo direito, o rei D. João II, tendo a obra sido executada em 1508, quando a Rainha tendo enviuvado em 1495 se recolheu ao Paço de Xabregas.
A Fonte, situou-se encostada à Igreja da Madre de Deus, junto do rio Tejo, como parte integrante do abastecimento de água ao mosteiro e à população local, ate que em 1700 - segundo se crê por abuso das freiras que em detrimento do povo lhe subtraiam água, por ordem camarária foi transferida aquela fonte um pouco mais para norte, junto a um terreiro contíguo ao Palácio do Marquês de Nisa.
Naquele tempo a Palavra de Deus reflectida neste passo importante da vida da pregação de Jesus - reflectindo neste exemplo - ocupou na via pública um espaço catequético e se, se pode, e com razão, admitir que a Igreja vivia muito fechada sobre si mesma, vivendo de uma autoridade que fugia, por demais, dos tempos apostólicos, a lembrança pública deste passo de Jesus junto ao poço de Jacob e o seu diálogo com aquela mulher de Samaria - um dos mais belos que o Novo Testamento refere - foi, seguramente, um motivo espiritual que dignificou o autor daquele nicho e respectiva fonte neste local da cidade de Lisboa, onde se situava, bem perto o "Paço Real de Enxobregas", de que hoje nada resta.
Crê-se que, com as obras da via férrea naquele local, no ano de 1854, a obra deixou de existir, tendo sido trasladada para o "Museu das Janelas Verdes", estando agora no "Museu da Cidade" no Campo Grande, em Lisboa, fazendo parte do acervo escultórico da Câmara Municipal de Lisboa, não havendo no local onde a obra esteve instalada durante 352 anos qualquer indicação que a situe naquele local.
Julga-se, porém, que o terreiro para onde a deslocou D. Francisco Sousa Coutinho está identificado na foto que se apresenta e onde se colocou a legenda que a acompanha.
Num certo dia fixei o olhar e a atenção num lavadouro público junto aos arcos da Rua Gualdim Pais, mas com frente para a Rua de Xabregas, e ver nele, atarefadas as lavadeiras na sua árdua tarefa, onde não faltavam algumas cantigas, e risadas e, pelo meio, o "bate-que-bate" da roupa nas pedras alvas que se inclinavam para dentro do largo tanque.
Ao pé, havia um tanque onde os animais cavalares iam beber água e a chamada "Fonte de Xabregas" um motivo arquitectónico simples e similar a muitos outros que então havia em muitos locais da cidade e sempre identificados pelas letras CML, como obra da pertença da edilidade lisboeta.
A Fonte, situou-se encostada à Igreja da Madre de Deus, junto do rio Tejo, como parte integrante do abastecimento de água ao mosteiro e à população local, ate que em 1700 - segundo se crê por abuso das freiras que em detrimento do povo lhe subtraiam água, por ordem camarária foi transferida aquela fonte um pouco mais para norte, junto a um terreiro contíguo ao Palácio do Marquês de Nisa.
Perspectiva captada do Google Earth, vedo-se acima do plano dos arcos do viaduto a parte superior do Palácio do Marquês de Nisa com frente para a Rua Gualdim Pais
Do ponto de vista escultórico a "Fonte da Samaritana" aludia ao bem conhecido episódio bíblico que relata o encontro de Jesus com a mulher de Samaria junto ao poço de Jacob e de cujo diálogo resultou a famosa frase de Jesus:“Quem beber da água que eu lhe der libertar-se-á terá vida eterna“.Naquele tempo a Palavra de Deus reflectida neste passo importante da vida da pregação de Jesus - reflectindo neste exemplo - ocupou na via pública um espaço catequético e se, se pode, e com razão, admitir que a Igreja vivia muito fechada sobre si mesma, vivendo de uma autoridade que fugia, por demais, dos tempos apostólicos, a lembrança pública deste passo de Jesus junto ao poço de Jacob e o seu diálogo com aquela mulher de Samaria - um dos mais belos que o Novo Testamento refere - foi, seguramente, um motivo espiritual que dignificou o autor daquele nicho e respectiva fonte neste local da cidade de Lisboa, onde se situava, bem perto o "Paço Real de Enxobregas", de que hoje nada resta.
Crê-se que, com as obras da via férrea naquele local, no ano de 1854, a obra deixou de existir, tendo sido trasladada para o "Museu das Janelas Verdes", estando agora no "Museu da Cidade" no Campo Grande, em Lisboa, fazendo parte do acervo escultórico da Câmara Municipal de Lisboa, não havendo no local onde a obra esteve instalada durante 352 anos qualquer indicação que a situe naquele local.
Julga-se, porém, que o terreiro para onde a deslocou D. Francisco Sousa Coutinho está identificado na foto que se apresenta e onde se colocou a legenda que a acompanha.
Sem comentários:
Enviar um comentário