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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Folhas mortas...


Há dias ao passar por uma das matas de Lisboa, contemplativo daquela Natureza vegetal que morria ao findar o ciclo em que foi vida e constituíra com a sua verdura parte do pulmão do arvoredo e ajudara a tornar o ar mais saudável, fixei-a nesta imagem contra o imaculado azul do Céu e numa reflexão rápida, lembrei um velho poema - NOCTURNO - que revi logo que possível e em que o autor, falando de árvores. diz assim numa das quadras:

Destroços sem vida
De vidas incalmas.
Evolam-se os corpos
Só ficam as almas.

Porque motivo falou assim o poeta?

Porque ele viu com o seu pensamento fixado na dicotomia - como ele sentiu - que existe entre as árvores e os homens e, foi por isso e com toda a razão do seu agudo espírito de observação destas duas Naturezas distintas, que ele viu relação entre as duas ao dizer - evolam-se os corpos - ou seja, as folhas mortas cumprido que foi o seu destino exalam-se, e assim é a vida humana quando morre - a vida evola-se, exala-se, desaparece - e no dizer do poeta ao referir-se às árvores - só ficam as almas - e aqui, o que temos é que ficam vivos os troncos - as "almas" - que hão-de reverdecer numa nova Primavera.

Assim acontece com as almas dos homens quando estas se apartam do corpo que morre - sendo pó como é - ao passo que as almas não morrem, por serem os "troncos" invisíveis que sobem para o seio de Deus para reverdecerem em todas as "Primaveras" do Céu.

Ao Poeta é concedida esta liberdade de pensamento, pois como diz uma célebre cantiga não há machado que corte a raiz ao pensamento, e neste passo o autor deste - NOCTURNO - usou a sua liberdade no melhor sentido, ou seja, para nos fazer sentir o Mistério de ficarem as almas, porquanto,  só os corpos se finam.

in, ÁRVORE - Folhas de Poesia - Outono de 1951

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