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terça-feira, 26 de abril de 2016

Um quadro marítimo de Almada Negreiros

in, "Revista Olisipo" - já extinta - nº 43 de Julho de 1948
 Boletim do grupo "Amigos de Lisboa"


Há dias, os meus olhos pousaram encantados sobre este quadro  de Almada Negreiros, que entre nós e com toda a justiça é considerado o símbolo da arte moderna portuguesa, para além do que ele assumiu como poeta, escritor, pintor e escultor, que a morte levou aos 77 anos, no mesmo quarto do Hospital de São Luís dos Franceses, onde morreu em 1935, Fernando Pessoa, como se os dois génios se tivessem juntado no momento da partida para o Além, no mesmo espaço.

Desconheço - se é que existe - o local onde se encontra este belo trabalho que em boa hora a Revista do grupo "Amigos de Lisboa" publicou e acima se reproduz, mas nela existe, patente, a sua fonte de inspiração que foi buscar à faina do mar muitos dos seus mais belos trabalhos, onde a geometria das formas se compraz em nos dar, como aqui se espelha o labor marítimo das artes da pesca e o seu fruto que parece saltar nas mãos do pescador e da varina.

Percebe-se que por detrás  do pictorismo do humano está visível na gironada de oito triângulos pretos e brancos da época de 1940 da Câmara Municipal de Lisboa, o que pressupõe que este trabalho de Almada Negreiros teve como fim último a edilidade lisboeta, ou até, para o grupo dos "Amigos de Lisboa".

Fica esta dúvida que agradeço, alguém possa fazer luz sobre ela.

E fica, rendido e agradecido, o meu penhor de gratidão pelo homem que soube pela sua arte ganhar o direito à admiração dos seus semelhantes e só não é hoje, devidamente enaltecido, porque os republicanos não lhe perdoam o seu pendo monárquico e a sua aproximação ao Estado Novo, de que é exemplo o seu cartaz de 1933 - VOTAI A NOVA CONSTITUIÇÃO - ainda que, nunca tenha subordinado a sua arte à política.

É uma pena que a República não dê o devido realce a Almada Negreiros, porque, infelizmente, a sua cultura não se dá bem com a cultura que ele protagonizou, como se a arte não tivesse implícita a igualdade dos valores e tivesse de ser lida ou vivida consoante os caprichos políticos que, quer queiram quer não, se tornam obtusos quando esquecem artistas como foi Almada Negreiros, não o dando a conhecer como ele merece às camadas mais jovens, a começar pela Escola dos primeiros anos.

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