Igreja da Várzea em Alenquer
onde foi depositado em 1574 o corpo de Damião de Goes
Gravuras em homenagem ao IV centenário do nascimento de Damião de Goes
publicadas no nº 834 da Revista "O Occidente" de 28 de Fevereiro de 1902
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Damião de Goes nasceu na Quinta do Barreiro, propriedade da família, em Alenquer num dia incerto do mês de Fevereiro de 1502
Sobre esta figura está tudo dito e a sua lembrança, hoje, neste modesto "blog" serve, apenas, para reavivar - que se me perdõe a imodéstia - desse português que pela sua ciência e muito saber honrou Portugal, em primeiro lugar como diplomata, funções que abandonou em 1533 para se dedicar ao estudo do humanismo reformador que Lutero encabeçava, tendo contactado de perto o famosos Erasmo de Roterdão, que viria a ser seu mestre nos estudos e nos seus escritos, actividades que ele refinou em Pádua, junto de outros humanistas de renome.
Não cabe aqui - até por falta de conhecimentos sustentados - um amplo estudo do humanismo, cuja escola se julga ter surgido na Europa no século XIV e durou por todo o século seguinte, tendo apanhado em pleno a acção de Damião de Goes até ao surgimento do Renascimento, mas tanto bastou para que algumas das obras que publicou beliscando o clero português, no seu regresso definitivo a Portugal em 1545, por causa delas não tenha escapado às garras do Tribunal do Santo Ofício de que se livrou nos três anos seguintes, para logo a seguir, honrando o seu saber, tenha merecido a honra de ser nomeado guarda-mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo e, possivelmente, com os dados de que passou a dispor ter escrito, a mando do Cardeal D. Henrique a crónica oficial do reinado de D. Manuel I.
Foi o cabo dos trabalhos... pois, este trabalho, apesar do rigor historiográfico, ao ter desagradado a algumas famílias da nobreza, valeu-lhe de novo em 1571 a firme oposição do Santo Ofício, num tempo em que já não tinha a protecção do Cardeal-Rei, se viu sujeito a um novo Processo, até ter aparecido morto - ao que parece, assassinado - na sua casa de Alenquer em 1574, tendo sido enterrado na Igreja de Santa Maria da Várzea e, mais tarde - em 1940 - transferido para a Igreja de São Pedro de Alenquer,com o curioso epitáfio tumular de Damião de Góis, escrito pelo
próprio em 1560, cerca de quinze anos antes da morte, com o busto e o texto em
latim: "Ao maior e óptimo Deus. Damião de Goes, cavaleiro lusitano fui
em tempos; corri toda a Europa em negócios públicos; sofri vários trabalhos de
Marte; as musas, os príncipes e os varões doutos amaram-me com razão; descanso
neste túmulo em Alenquer, aonde nasci, até que aquele dia acorde estas
cinzas."
Como remate desta lembrança histórica de um grande homem, dir-se-á, que o poder instituído. na época de Damião de Goes - o poder secular e laico entrecruzado com o eclesial cometido à Igreja - que graças a Deus tem hoje a sua acção bem distinta da do Estado, não costuma perdoar a quem não segue os ditames dos mais poderosos, um facto que estando hoje mais esbatido, não deixa ainda de ter prebendas a mais, advindas desse mesmo poder secular e laico que continua a existir e a manter as suas garras sobre os que o não possuem...
Um defeito humano que as Democracias ainda não conseguiram debelar e, penso, jamais o conseguirão...
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