in, Revista "O Occidente" nº 1088 de 20 de Março de 1909
O livro "Auroras" que aparece no rodapé deste poema de José Boavida Portugal - que eu saiba - não faz parte do acerbo bibliográfico deste autor, pelo que, ou não o publicou ou os poemas terão sido encerrados numa outra publicação.
José Boavida Portugal entre as atribuições de funcionário público, conseguiu preencher o seu tempo livre como articulista do extinto jornal "República" e como assistente da Associação da Classe dos Trabalhadores de Teatro, tendo-se ligado em 1913 a uma revista efémera de crítica "Teatro" que deu guarida literária a Fernando Pessoa, um jovem que então se afirmava.
Como não cabe aqui uma resenha mais profunda desta personagem que foi apanhada pelo vento republicano do seu tempo, não deixa no entanto, de ser curioso, que tenha pertencido à direcção de "O Jornal" um órgão de uma imprensa alinhada com o sistema monárquico perfilhando a ditadura de Pimenta de Castro e onde colaboraram figuras como: Alfredo Pimenta, Almada Negreiros, Bulhão Pato, António Correia de Oliveira e Fernando Pessoa.
Teve a honra de ter feito parte da Comissão que organizou, por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa, em 1925 a homenagem da cidade ao Poeta Gomes Leal, de quem herdou o estro que nesta composição "OS TEUS BEIJOS" de um forma burilada e romântica, como o tempo impunha, tece os louvores apaixonados de quem sente nos beijos trocados com a mulher que se ama, algo que é preferencial sobre tudo o mais e a quem pede que o último suspiro da vida venha a cair nos seus lábios.
No tempo que passa muito se perdeu deste jeito de fazer poesia, pois de um lirismo convencional arreigado a uma escola literária que o inculcava como arte a utilizar na vida concreta das criaturas, passou-se a um modernismo sem escola - que deixa ao livre arbítrio de cada um - a arte de conceber poemas de difícil adivinhação de sentimentos humanos, quer seja na pureza da linguagem, como nas pureza das ideias.
"OS TEUS BEIJOS" ficam aqui como uma homenagem - fora de tempo - a José Boavida Portugal, que certeiramente, os responsáveis literários da Revista "O Occidente" souberam apadrinhar, publicando esta composição poética que de modo algum perdeu - embora o tempo tivesse passado - o cunho romântico de que deve ser feita a vida em qualquer tempo ou lugar.
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