Neste Dia de Finados
As Coisas Transitórias
Irmão,
nada é eterno, nada sobrevive.
Recorda isto, e alegra-te.
A nossa vida
não é só a carga dos anos.
A nossa vereda
não é só o caminho interminável.
Nenhum poeta tem o dever
de cantar a antiga canção.
A flor murcha e morre;
mas aquele que a leva
não deve chorá-la sempre...
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Chegará um silêncio absoluto,
e, então, a música será
perfeita.
A vida inclinar-se-á ao poente
para afogar-se em sombras
doiradas.
O amor há-de ser chamado do seu
jogo
para beber o sofrimento
e subir ao céu das lágrimas ...
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Apanhemos, no ar, as nossas
flores,
não no-las arrebate o vento que
passa.
Arde-nos o sangue e brilham
nossos olhos
roubando beijos que murchariam
se os esquecêssemos.
É ânsia a nossa vida
e força o nosso desejo,
porque o tempo toca a finados.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Não podemos, num momento,
abraçar as coisas,
parti-las e atirá-las ao chão.
Passam rápidas as horas,
com os sonhos debaixo do manto.
A vida, infindável para o
trabalho
e para o fastio,
dá-nos apenas um dia para o
amor.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Sabe-nos bem a beleza
porque a sua dança volúvel
é o ritmo das nossas vidas.
Gostamos da sabedoria
porque não temos sempre de a
acabar.
No eterno tudo está feito e
concluído,
mas as flores da ilusão terrena
são eternamente frescas,
por causa da morte.
Irmão, recorda isto, e
alegra-te.
Rabindranath Tagore,
in "O
Coração da Primavera"
.....................................................................................................................
Neste Dia de Finados esta letra cantante de uma harmonia que penetra a nossa alma, tem neste poema de Tagore - AS COISAS TRANSITÓRIAS - um lugar de eleição, não só por nos fazer meditar de como a vida é, efectivamente, um trânsito breve sobre a face da Terra, como, é por ser assim, que as flores da ilusão terrena / são eternamente frescas - como diz o Poeta - ou seja, como a morte nunca recuará perante a vida que temos, é nossa obrigação nunca deixar que murchem as flores e manter viva a ilusão de as levar naquele dia de sombras, frescas, tal como as recebemos.
E assim, por causa da morte / Irmão, recorda isto e alegra-te... porque as nossas vidas enquanto vivemos têm de ser flores eternamente frescas, na certeza que depois dela, na morada eterna tudo está feito e concluído... e o que nos espera é apenas o aroma que deixámos no Mundo das flores que recebemos, as tais que são eternamente frescas.
Sem comentários:
Enviar um comentário