Disse Pascal, que a natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de
Deus e defeitos que mostram que é apenas a imagem, donde ao olhar a beleza desta imagem, eu, seguindo o conceito do antigo matemático - e brilhante pensador - não posso deixar de concluir que ela é um espelho perfeito que nos mostra a imagem de Deus-Criador.
E não vejo que volta que se possa dar para negar tal evidência.
No poema "Quando Vier a Primavera" que se transcreve o que o heterónimo de Fernando Pessoa nos diz é que no rolar de cada Primavera - o homem pode já ter morrido - mas a força e a beleza das árvores e das flores repetir-se-ão, porque a sua realidade dispensa a sua presença física para continuar a maravilhar todos aqueles que cedem à cegueira das sua arrogâncias a beleza de se deixarem maravilhar... porque mesmo que teimem em não acreditar as flores florirão da mesma maneira.
E isto é assim, porque o Deus-Criador não deixará de se mostrar a cada geração de viventes.
Quando Vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na
Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem
importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de
amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir
senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja
certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não
gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se
quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda
dele.
Não tenho preferências para quando já não
puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas
Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Sem comentários:
Enviar um comentário