Em Lembrança da data
Ocorrida no ano de 2012
Contextualização Histórica deste Exemplar
Ùnico do Estilo Moçárabe Existente em Portugal
1 –Lourosa um Centro de
Crenças
nos Deuses Lusitanos
e Romanos
Por esta localidade, possivelmente, como
aconteceu em todo o território que hoje é abarcado pela Província da Beira Alta
passaram alguns povos bárbaros, como: fenícios, gregos, celtas, romanos,
suevos, alanos, godos e mouros, o que sendo um facto histórico, deixaram,
contudo, uma névoa imensa que o devir dos tempos lança sobre os acontecimentos
dos primeiros habitantes de Lourosa e, sobretudo, das suas crenças, sabido como
é, que desde tempos imemoriais o homem foi um ser dotado de convicções em algo
que está para além da sua natureza finita.
Mas há um acontecimento que é tido como verosímil:
este pedaço do território nacional, crê-se, ter sido no decorrer do domínio
romano da velha Lusitânia (1) um centro de culto não só
dos deuses lusitanos, como: Atégina; Ares Lusitani; Bandonga: Bormanico;
Cariocecus; Durbedicus; Endovélico; Mars Cariocecus; Navia; Trebaruna;
Turiacus, como dos deuses importados que os invasores trouxeram na carga das suas
crenças e que na localidade deixaram vestígios, com especial visibilidade na
actual Igreja Matriz, na qual, e ao contrário do seu interior, a arquitectura
da frontaria deste templo mostra uma nítida influência da arquitectura romana
representada no seu arco de volta perfeita.
Este pequeno preâmbulo leva-nos a concluir
que apesar de se ter como válido o ano 912 da era cristã que se encontra visível
numa lápide sobre a verga da porta para situar no tempo a edificação da Igreja
de Lourosa, pelo facto de terem sido encontrados e aproveitados para a sua
reconstrução materiais romanos visigóticos e árabes quando se efectuaram
trabalhos de restauro, este facto conduz-nos à presunção que aquele local teria
sido utilizado para a prática de cultos antigos de que é prova uma ara dedicada a Júpiter ((2) considerado o protector
do Estado romano e cujas legiões guerreiras penetraram na Península Ibérica com
a subsequente conquista deste vasto território no período entre 218 – 201 a . C., sob o comando de
Cipião no decorrer da segunda Guerra Púnica. (3) nascida das
hostilidades entre romanos e cartagineses, visando, na época, Roma desferir um
ataque a Cartago, como efectivamente veio a acontecer em Kissa (4) em 218, na luta acesa e
sem tréguas entre as duas Repúblicas pela conquista do Mideterrâneo.
Levaram a melhor os romanos tendo ocupado
quase sem resistência a região sul da Ibéria, com a expulsão dos cartagineses
após a conquista do porto ibérico – a Nova Cartago – e que hoje corresponde ao
actual município espanhol de Cartagena.
Aberto o caminho com a expulsão dos
cartagineses da orla mediterrânica os romanos não tardaram no incremento da
ocupação, tendo-se dado o primeiro confronto em terras que hoje são território
de Portugal em 187 a .C.,
a que se viria a opor Viriato nascido em 180 na povoação de Lobriga (actual
Loriga), com as consequências bem conhecidas e que levaram ao seu assassinato
em 138 a .
C.
A ocupação demorou até à queda do Império
Romano do Ocidente em 476, havendo assim
que ter em conta que nesse longo período conhecido como: romanização da Península, este facto tenha propiciado, como
aconteceu, uma profunda influência nos hábitos, costumes e construções
habitáveis – e não só - razão suficiente
que torna credível a pré-existência de um templo no mesmo local onde se veio a
edificar a actual Igreja de São Pedro de Lourosa, tendo os mestres pedreiros que habitavam esta
localidade utilizado parte dos materiais deixados pelos povos invasores para
erguerem o templo (5)
Acresce ao que dizemos, referir uma asserção
do P. Carvalho da Costa na sua Corografia Portuguesa, que aquele Monumento foi
no tempo “uma fábrica de Mouros”, o que comprova a suposição daquele local –
hoje uma Igreja dedicada ao culto cristão – ter sido uma morada de cultos aos
deuses dos povos que residiram naquela localidade onde morrem – cansados das
alturas e dos acidentes orográficos - as
últimas ondulações dos contrafortes ocidentais da Serra da Estrela.
2 – Os Visigodos na
Origem da Comunidade Moçarabe
a cujo Estilo Obedece
a Igreja de Lourosa
Decaído o poder pelo enfraquecimento do
Império Romano nos finais do século II, um acontecimento que se acentuaria no
século seguinte assinalado pela anarquia militar em que vários imperadores
lutaram entre si devido à divisão do poder e dos territórios, os povos
germânicos Vândalos e Suevos e os
Alanos, este, um povo nómada estabelecido no Cáucaso entre os rios Dom e
Cáspio, invadiram em 409 a
Península Ibérica onde implantaram reinos pós-romanos de duração efémera, tendo cabido aos Alanos a expulsão dos
últimos romanos da Lusitânia em 411 e o consequente domínio total dos Visigodos
em 585, com a derrota final imposta aos Suevos.
Por este tempo estava em curso uma profunda
crise religiosa na Igreja cristã primitiva começada em 319 por Ário, o Bispo de
Alexandria fundador de uma teoria que ficou conhecida por arianismo a qual negava a existência da consubstancialidade entre
Jesus e Deus, uma crença que foi sustentada pelos seus seguidores que a
refinaram, dizendo que Deus seria um
grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura conseguiria
revelá-lo, visto que Ele não se podia revelar a si mesmo.
O povo visigodo seguia esta crença ao tempo
em que alcançaram o apogeu em toda a Hispânia com Leovigildo, mas cujos filhos,
Hermenegildo e Recaredo, em 579 abjuraram o arianismo professado pelo pai,
possivelmente, influenciados pelo Édito de Milão (313) que há muitos anos havia
acabado com toda a perseguição à Igreja de Roma, tanto no Ocidente como no
Oriente.
Tendo-se convertido ao Catolicismo
institucionalizaram os Concílios de Toledo, tendo conseguido que no III
Concílio (589) fosse abolido o arianismo e conseguida a fusão com os hispano-romanos,
recaindo nesse mesmo ano a proclamação do Cristianismo como religião oficial da
Hispânia visigótica, pelo rei Recaredo I (586 - 601).
A conversão de Recaredo marca o início de uma
estreita aliança entre a monarquia visigoda e a Igreja cristã ibérica desenvolvida
ao longo do século VII, estando na origem de uma comunidade cristã que a
História havia de vir a registar pelo nome de moçárabes, tendo assimilado a
língua árabe durante o domínio muçulmano.
3 – O Domínio
Muçulmanos de Toda a Península
O avanço dos àrabes - ou muçulmanos - na Península Ibérica
Neste imenso território cuja ocupação começou
em 711, Lourosa é um ponto minúsculo situado a sul do alto monte de Santa Cruz.
É
uma povoação muito antiga com existência povoada desde o domínio árabe, como o
atesta a sua Igreja (6) que é uma prova do domínio
islamita que a História regista na Península quando as forças comandadas por Tarik (7) a partir de Tânger
(árabes e berberes do Magreb) atravessaram o estreito de Gibraltar e penetraram
profundamente na Península ocupando-a quase totalmente, salvo o enclave
cantábrico onde se refugiaram os cristãos e de onde havia de partir a Reconquista
Cristã.
Estes invasores tinham o islão como religião
e o árabe como língua de comunicação, mesmo os berberes. (8)
4 – O rei Ordonho II Intrometido
na História de
Lourosa e da Sua Igreja
Antes de situarmos a figura deste rei da
Galiza (910) e de Leão (914) no tempo em que a sua figura se entronca em
Lourosa em consequentemente, na sua Igreja – pelo facto de lhe ser coeva no
aspecto temporal - sabe-se que o topónimo – Lourosa - é muito anterior ao tempo do rei Afonso III, pai de Ordonho II,
não se sabendo, contudo, com alguma exactidão, a sua origem.
O que é exacto e historicamente correcto é
que em Portugal a sua actual Igreja Matriz é um reflexo, após a transferência por
Ordonho II da capital do Reino das Astúrias (Oviedo) para Leão, de que viria a suceder
a imposição de um novo estilo arquitectural - o da igreja moçárabe, - diferenciado do asturiano ou mesmo da tradição
visigótica.
Seguindo o costume das igrejas ao tempo
edificadas em Castela e Leão estas ostentavam como suportes da construção
superior os arcos de ferradura, os quais lhes davam um aspecto islâmico, que os
moçárabes viriam a empregar nos territórios submetidos ao domínio muçulmano,
onde viviam como cristãos, pois os maometanos, tolerantes, nos primeiros tempos
lhes permitiam praticar o culto a Jesus Cristo.
A Igreja, é assim, hoje – orgulhosamente - um marco que remontando ao ano de 912 faz
deste ano o primeiro dado conhecidos quanto à sua existência, um facto que a
torna coeva do tempo do rei Ordonho II (910-924).
Como apontamento histórico do clima
irrequieto que marcava aqueles recuados tempos – a que não se furtou o nosso
primeiro rei – deve referir-se que Ordonho II em conluio com os irmãos, Garcia
e Fruela e com o apoio da mãe e da nobreza, desferiram um golpe palaciano que obrigou
à abdicação do rei Afonso III, o Grande ou Afonso Magno (866-910), rei das
Astúrias, a quem se ficou a dever no tempo da Reconquista Cristã iniciada por
Pelágio em Covadonga ou Cangas de Onis (718) o repovoamento cristão até ao
Mondego com o repovoamento de Portucale (origem do termo Terra Portucalense),
Coimbra, Viseu, Lamego e Leão que viria a ser mais tarde, como já se disse a
capital do Reino que só veria o seu fim em 1230.
É nele, que no ano de 914, se oficializa o
centro oficial eclesiástico, ostentando à época a sua catedral dedicada a Santa
Maria. (9)
Este Reino surgido com a Reconquista Cristã, ocupou
até à data que assinala o seu fim, um imenso território, estendendo-se no
actual território português desde Coimbra até à linha fronteiriça que hoje nos
separa de Espanha.
5 – A Comunidade
Moçarabe
Com a invasão muçulmana de 711 surgiu esta
comunidade.
São designados por moçárabes – ou
“arabizados” - os cristãos que ficaram nas terras dos Mouros, portanto, todos
os
ibéricos que viviam sob o governo muçulmano designado por Al-Andalus. (10)
Os seus
descendentes não se converteram ao Islão, mas adoptaram elementos da língua e cultura árabe. Eram
principalmente católicos romanos de rito visigótico ou moçárabe.
Os moçárabes eram descendentes dos antigos
cristãos hipano-góticos que se tornaram falantes do árabe durante o domínio
muçulmano. Alguns eram cristãos árabes e berberes, juntamente com convertidos
muçulmanos ao cristianismo os quais, na qualidade de falantes do árabe, se
sentiam à vontade entre os moçárabes originais.
O moçárabe constituiu uma língua românica
extinta na Península Ibérica.
Segundo se crê, na actualidade, apenas setecentas famílias moçárabes conservam vivo
rito católico mais antigo da Península Ibérica
Poucas
tradições persistiram à passagem dos séculos com a intensidade da comunidade
moçárabe, que mantém viva a liturgia de origem hispano-goda desde que as suas
terras estiveram sob domínio muçulmano. Na actualidade, a comunidade é formada
por cerca de 700 famílias, a maior parte das quais de Toledo, Espanha.
Moçárabe
(do árabe musta´rab, arabizado) denomina a pessoa, família, cultura e arte
ibéricas que conservaram a sua identidade nos reinos árabes da Península.
As
famílias que hoje em dia formam a comunidade moçárabe estão perfeitamente
integradas na comunidade eclesial, embora no passado tenham gozado de grande
autonomia, com líderes próprios mesmo a nível administrativo.
Uma
das particularidades mais notáveis para quem se cruza com a liturgia moçárabe é
a música, materializada no canto. Apesar de tudo, ainda hoje não se conseguem
encontrar as chaves que permitam ler as melodias originais, escritas num
conjunto de acentos graves e agudos similares ao canto gregoriano.
Outra
singularidade do rito é que grande parte do mesmo é em Latim. A ordem da missa
também é diferente, dado que a saudação da paz é antes da consagração e o Credo
é rezado depois, enquanto no rito latino é ao contrário.
A
comunidade conta com um ramo social, a Irmandade de Cavaleiros e Damas
Moçárabes, onde as pessoas são admitidas aos 16 anos após uma cerimónia
presidida pelo Arcebispo de Toledo, primaz de Espanha. (11)
6 – A Igreja Moçárabe
de Lourosa
No século IX Lourosa era já uma terra libertada do poder mourisco
Num tempo em que a Reconquista Cristã sacudia os invasores para sul, a
cidade de Coimbra já libertada do poder mourisco havia formado com povoações
situadas a norte - entre as quais se
encontrava Lourosa - uma forte comunidade moçárabe, tendo como centro territorial
a cidade do Mondego que era naquele recuado tempo um importante entreposto
comercial entre o norte recristianizado pelo avanço da e o sul que ainda continuava sob o domínio dos
mouros que só viria a ter o seu epílogo
com a sua expulsão definitiva de Portugal em 1249 e de Espanha em 1492, com a
conquista de Granada, donde se infere que o domínio dos mouros na Hispânia durou quase oito séculos.
É neste contexto histórico que aparece a
primitiva Igreja de Lourosa, um facto que levou o historiador Damião Peres, na
sua História de Portugal – ed. de Barcelos, vol. 1, pág. 448 e seg, - a referir
que em 912 o território de Lourosa era já domínio dos cristãos.
Com a devida vénia, pela sua importância e
rigor de análise do pormenor a partir do site:
http://sigillum-militum-christi2.blogspot.com/2011/03/igreja-mocarabe-de-sao-pedro-de-lourosa.html,
transcreve-se ipsis-verbis uma bela e
pormenorizada descrição deste templo, cuja génese remonta aos tempos pré-românicos
e configura um legado da tolerância religiosa transmitido pelos islamitas.
Planta
longitudinal, regular, composta por nártex, corpo de três naves, transepto
saliente e cabeceira tripartida, coincidindo o exterior com a organização
interna.
Volumes
articulados dispostos horizontalmente, com cobertura em telhado de duas águas
no nártex, nave central, braços do transepto e capela-mor e em uma água sobre
as naves laterais e absidíolos, continuando estes a cobertura exterior da
capela-mor.
Fachada
principal orientada, organizada em três corpos, sendo o central o único a dois
registos; primeiro registo (corresponde ao nártex), saliente, definido por
largo arco de volta perfeita, inserindo-se as aduelas numa moldura; telhado em
empena triangular, assente em dois modilhões sem decoração; segundo registo do
corpo central recuado, com ajimez axial, moldurado, definindo o telhado uma
empena triangular; corpos laterais simétricos e lançados no prolongamento
lateral do segundo registo do corpo central, definindo o telhado uma linha
oblíqua descendente; ao centro de cada corpo, uma porta de arco recto, mais
baixa e de vão menor que a do arco principal.
Fachadas
laterais N. e S. simétricas, compostas por quatro corpos, correspondentes ao
nártex, corpo do templo (com alçado das naves laterais e, mais recuado, o da
nave central), transepto e cabeceira; a dois registos, definem-se os alçados da
nave central e o corpos do transepto; corpos do nártex sem qualquer elemento
divisor, assim como o das naves laterais, sendo estes os mais baixos, com
telhado suportado, nos ângulos, por um modilhão de rolo; corpos do transepto
com arco de descarga de volta perfeita sobre lintel recto, harmonicamente
dispostos no alçado e, no segundo registo, uma pequena fresta, rasgada
verticalmente; corpos da cabeceira correspondentes aos absidíolos (de menor
altura e profundidade) e à capela-mor, todos sem elementos divisores.
Fachada posterior organizada em cinco corpos, correspondentes às paredes fundeiras da capela-mor, dos absidíolos e da nave central e ao alçado nascente dos braços do transepto, divisão que tem correspondência em altura; capela-mor com uma fresta rectangular aberta a meia altura e telhado em empena triangular; absidíolos igualmente com uma fresta, mas de menor amplitude e linha de telhado oblíqua; alçados do transepto sem qualquer decoração; nave central com ajimez axial, de perfil idêntico ao da fachada principal e telhado definindo uma empena triangular.
Fachada posterior organizada em cinco corpos, correspondentes às paredes fundeiras da capela-mor, dos absidíolos e da nave central e ao alçado nascente dos braços do transepto, divisão que tem correspondência em altura; capela-mor com uma fresta rectangular aberta a meia altura e telhado em empena triangular; absidíolos igualmente com uma fresta, mas de menor amplitude e linha de telhado oblíqua; alçados do transepto sem qualquer decoração; nave central com ajimez axial, de perfil idêntico ao da fachada principal e telhado definindo uma empena triangular.
INTERIOR:
espaços diferenciados em nártex, corpo, cruzeiro, braços do transepto e
cabeceira. Nártex rectangular protegido por grade de ferro; porta principal do
templo com lintel recto, sobrepujado por arco de descarga de volta perfeita.
Corpo do templo tripartido, com arcarias de aduelas rusticadas e molduradas
sobre saiméis de grandes dimensões, comuns a duas arcarias, e colunas
cilíndricas de bases e capitéis idênticos, sem decoração; suporte para
baptistério no topo O. da nave lateral N., composto por base circular irregular
escavada na rocha e um pequeno canal para águas; marcas da iconostase a
anteceder o cruzeiro.
Cruzeiro rectangular, separando-se da nave central por uma secção de parede sem arcarias, e dos braços por arcos diafragma em ferradura. Braços do transepto rectangulares, com cinco acessos, três interiores (para o cruzeiro, naves laterais e absidíolos) de idêntica configuração, em arco em ferradura, e dois exteriores (os virados a N. e a S.), de lintel recto com arco de descarga de volta perfeita, e duas pequenas portas voltadas a O., de vão recto, semelhante às dos alçados O. das naves laterais.
Cruzeiro rectangular, separando-se da nave central por uma secção de parede sem arcarias, e dos braços por arcos diafragma em ferradura. Braços do transepto rectangulares, com cinco acessos, três interiores (para o cruzeiro, naves laterais e absidíolos) de idêntica configuração, em arco em ferradura, e dois exteriores (os virados a N. e a S.), de lintel recto com arco de descarga de volta perfeita, e duas pequenas portas voltadas a O., de vão recto, semelhante às dos alçados O. das naves laterais.
Cabeceira
tripartida, não inter-comunicante, com arco triunfal em ferradura e espaços
rectangulares, sendo o da capela-mor mais largo e profundo. Pavimento homogéneo
em lajes de granito, à excepção de uma secção da nave central a anteceder o
cruzeiro, de madeira, sobre os restos de uma necrópole.
Como já se disse a Igreja de Lourosa aponta o
ano de 912 como o da sua construção – como o atesta uma lápide – tendo sofrido
várias obras de manutenção e restauro como:
em 1188 a
reforma de toda a parte alta da nave, logo a seguir à zona dos arcos englobando
os do cruzeiro. No século XIV são executadas obras com vestígios nas fortes
colunas monocilíndricas da nave e nos séculos XV, XVI e XVIII, são feitas novas
obras nas capelas na zona da cabeceira e com a colocação do púlpito no arco
médio e elevação do arco da capela-mor com a renovação dos suportes do
coro-alto.
No século XX foram executadas obras de
restauro de grande amplitude, das quais as fotos que se apresentam. (12)
As primeiras investigações provaram que nesta Igreja
se
ergue adentro da área de um cemitério bárbaro
Perspectiva dos arco primitivos desde
o ângulo noroeste do
transepto, para as naves
Depois da restauração – perspectiva da Igreja
internamente
Perspectiva geral da Igreja depois de
restaurada
Ao fundo o campanário em sua nova posição
A Igreja de S. Pedro de Lourosa foi classificada como Monumento
Nacional pelo Decreto 2445, DG 118, de 14-06-1916.
7 - A Importância da velha Igreja
Bem conhecida nas redondezas a Igreja de S.
Pedro de Lourosa impunha-se à admiração geral, distinguindo-se pela imposição
do seu estilo arquitectónico contra outros Templos pré-românicos setecentistas,
como:
-
Igreja de São Pedro de Balsemão, Lamego.
-
Igreja de Santa Maria de Meijinhos, Lamego.
- Igreja de São Amaro, Beja.
- Capela Funerária de São Fructuoso de
Montélios, Braga.
- Ermida de S. Gião, Nazaré.
Sobre todas elas, a Igreja de S. Pedro de
Lourosa apresentava-se altaneira, ostentando na edificação final a cultura
moçarabe caracterizada pela utilização de arcos de ferradura que lhe davam a
nobreza das linhas mais ampliadas que as do semicírculo, uma novidade na
arquitectura da época no território que viria a ser – mais tarde – parte
integrante de Portugal.
Não o podemos dizer com verdade, mas este
facto por não ter sido de forma alguma despiciendo, naturalmente, foi decisivo
para a aura desta construção ao gerar naquela época, um facto que ultrapassava
a função eclesial da Igreja.
E tanto assim foi, que pelos motivos já
apontados, ao tempo, fidalgos abastados chegaram a ter tribuna própria de onde
assistiam os actos litúrgicos.
Este episódio é asseverado por José Fontinha
Pereira (13) ao assinalar que tendo o Piódão pertencido durante
vários séculos à freguesia religiosa de Lourosa – localidades separadas por
cinco léguas - alguns naturais daquela
localidade, hoje considerada “aldeia histórica”, ali se deslocavam para tomar
assento na sua tribuna, concluindo o autor que era a Lourosa que o
povo do Piódão ia à Missa, fazer casamentos, baptizados e enterrar os seus
mortos. (14)
Foi tal o entrosamento histórico que segundo
o mesmo autor, ainda hoje existe em Lourosa uma casa denominada: “Casa do
Piódão”.
8 – Alguns
Acontecimentos Coevos
·
Na
cadeira de S. Pedro sentava-se o Papa Anastácio III (911-913). Deve-se-lhe no
seu breve magistério o pedido de apoio para a evangelização do continente
europeu.
·
Em
Córdoba, Espanha, os remanescente da dinastia omíada que incumbiu Tarik do
comando da invasão muçulmana fundam um
califado sob o comando de Abd al-Rahman III proclamando-o Califa de
Córdova e governante de todos os Mouros na Peninsula Ibérica (914)
·
Construção
da Abadia de Cluny, em França.
·
Na
Rússia é criado o Grã-ducado de Kiev.
·
A Mesopotâmia e a Síria estão sob o domínio
assírio de Assur-Dan II.
·
Afonso
III, rei das Astúrias (848-910) manda edificar o actual tempo de Santiago de
Compostela, dando-se início às peregrinações que atingiram um brilho imenso
logo a partir da primeira década do século IX.
·
Carlos
III “O Simples”, rei de França, (898-922)
cede parte do território francês aos Normandos (911) donde veio a resultar a actual
Normandia.
·
Decadência
da civilização Maia, a mais sofisticada e bela do Novo Mundo antigo.
·
23 de
Novembro de 912 – nasce Oto I da Germânia, imperador do Sacro Império Romano.
·
Nasce
(912) Minamoto, futuro Samurai e
importante figura da história do Japão.
·
23 de
Novembro de 912, nasce Otão I, que viria a ser: Sacro Imperador
Romano-Germânico.
·
Falece
em 912, Abdallah ibn Muhammad, sétimo emir de Córdoba.
·
11 de
Maio de 912, falece Leão VI de Bizâncio.
·
Fim do
Império carolíngio em 911, com a morte de Luís, o Jovem.
·
Tomada
de Garigliano (Itália) em 915,
a última colónia muçulmana.
9 – Datas
Assinaláveis Directa ou Indirectamente
Relacionadas com
Lourosa e a sua Igreja
entre os séc. XII a
XXI (15)
Cronologia:
1119, 13 de Maio - Doação de
Lourosa à Sé de Coimbra, feita pela Condessa D. Teresa;
1121, 8 de Fevereiro - D.
Gonçalo Pais, bispo de Coimbra, doa Lourosa ao presbítero Osório, "com a
obrigação de este edificar, plantar e povoar" (BARROCA, 2000, vol.2, t.1:
33);
1132, 2 de Novembro - D. Afonso
Henriques coutou a povoação;
1188 - Inscrição apontada como
indicadora da reforma românica *1;
1258 - Nas Inquirições, Lourosa
é referida como propriedade da Ordem do Hospital;
1282, 14 de Agosto - primeira
referência à comenda de Oliveira do Hospital como pertença da Ordem do
Hospital;
1347, 6 de Fevereiro - primeiro
foral da localidade, passado pelo Bispo de Coimbra*2;
Séc. XV-XVI - datação provável
de quatro fragmentos de inscrições, alguns associados a uma capela de São
Martinho, que terá existido "para a parte da cabeceira" (GONÇALVES,
1980: 43, 50);
1514, 12 de Setembro - foral
manuelino;
Séc. XVI - construção de um retábulo maneirista, de que apenas se conhecem fragmentos (PESSANHA, 1927: 67);
1677 c. - Instituição da Capela
de Nossa Senhora da Piedade, por Simão Tavares e Susana de Bárquia;
Séc. XVIII, primeira metade (prov.) - campanha de obras *3; existência de uma capela dedicada aos Mártires, de difícil localização (GONÇALVES, 1980: 51);
1811, Março - ataque
napoleónico, com incêndio e destruição de imagens, pedras de ara e capelas
privadas (CAETANO, 1989: 30);
1909 - Primeiras fotografias,
da autoria de Marques de Abreu *4;
1911, Agosto - Visita de
Vergílio Correia;
1911, Outubro - Visita de
Joaquim de Vasconcelos; Data da primeira tentativa de reconstituição do plano
original *5;
1912 / 1916 - picagem de
paredes, pondo a descoberto arcos em ferradura e outros elementos de aparelho;
1916, Maio - segunda tentativa
de reconstituição do plano original, por José Pessanha *6; primeira aproximação
da igreja de San Pedro de la Nave *7;
1919 - Terceira tentativa de
reconstituição do plano original, por Manoel Gómez Moreno *8;
1929, Abril - criação da DGEMN;
1929, Novembro - Primeiro
projecto de José Vilaça *9;
1929 - Início das sondagens
arqueológicas na cabeceira, com vista ao restauro;
1930 - Visita de José Vilaça à
Galiza (Santa Comba de Bande; San Miguel de Celanova; San Pedro de Rocas);
1930, 1 de Junho - Discurso
solene diante da igreja, com o objectivo de se iniciar o restauro *10;
1930 - Baltazar de Castro
alarga a área de sondagem e encontra outros alicerces na zona da cabeceira;
conclusão pela não adequação do projecto de Vilaça; Baltazar de Castro fica
encarregue de apresentar novo plano;
1931 - arranque das obras; 1931
- conclusão de que as propostas de Baltazar de Castro não correspondiam à
totalidade dos alicerces originais;
1931, Junho - Segundo projecto
de José Vilaça *11;
1931, 28 de Julho - envio de
cópia do projecto a Manoel Gómez Moreno, para parecer;
1931, 2 de Agosto - Resposta de
Gómez Moreno, com indicações e propostas pontuais*12;
1931, Setembro - Projecto
definitivo de José Vilaça *13;
1931, 22 de Setembro - João de
Moura Coutinho, debatendo-se com problemas no restauro de São Frutuoso de
Montélios, convida Manoel Gómez Moreno a visitar Portugal;
1931, 11 de Outubro - Carta de
Gómez Moreno a Vilaça dando conta do convite de João de Moura Coutinho; Ruptura
entre Marques de Abreu e Baltazar de Castro;
1931, Dezembro - Publicação do
projecto definitivo de José Vilaça;
1932, Março / Abril - Baltazar
de Castro ainda não havia apresentado o plano de restauro;
1932 - Data constante das
plantas e alçados do projecto de Baltazar de Castro *14;
1934 - Monografia de Aguiar
Barreiros, criticando erros do restauro, em particular as cérceas;
reconstituição do possível arco triunfal original *15;
1938, 30 de Janeiro -
Presidente da Junta de Freguesia de Lourosa queixa-se a Baltazar de Castro pelo
lamentável estado do pavimento, em consequência da chuva que ultrapassa o
telhado;
1948 - Direcção de Serviços de
Lisboa da DGEMN pede à 4ª secção os desenhos e plantas para publicação do
Boletim de Restauro;
1952 - António Nogueira
Gonçalves propõe a existência de uma torre sobre o cruzeiro;
1953, 25 de Outubro - Homenagem
da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital a Joaquim de Vasconcelos, realizada
em Lourosa;
1953, 23 de Novembro - Fausto
Lopes da Silva dá conta à DGEMN de que o pároco havia vendido um número incerto
de imagens;
1966, 15 de Novembro - Pároco
de Lourosa reclama obras;
1992 - Manuel Luís Real
reconstitui hipoteticamente o friso de arquinhos cegos da torre cruzeira;
2002 - nova proposta de
reconstituição do projecto original *16.
Elucidações das notas a que o texto cronológico alude:
*1 - Praticamente desconhecida.
Admite-se que possa ter sido uma reforma estrutural e não decorativa, incidindo
sobre as partes altas e sobre a organização espacial pré-românica: supressão da
tribuna ocidental; supressão da iconostase; nova configuração da cabeceira, que
terá passado a ser escalonada e quadrangular; destruição da torre cruzeira;
adossamento de uma torre campanário à secção N. do nártex, ou prolongando o
corpo da igreja, suprimindo-se também o nártex, que passou a estar integrado no
corpo (FERNANDES, 2002: 217 e 220 - 227);
*2 - Apesar de Tarquínio Hall
equacionar um foral anterior, cujo conteúdo e data se desconhece (HALL, 1993:
50);
*3 - Diversos trabalhos no
interior do templo, com renovação de capelas e construção de um coro alto, de
madeira. Terá sido nesta altura que se reformulou parte da cabeceira, hipótese
ainda não inteiramente provada;
*4 - Informação de VASCONCELOS,
Outubro de 1911: 78. Esta data é contrariada pelo próprio Marques Abreu (1930:
140), que dá a Primavera de 1811 como a das primeiras fotografias. PESSANHA,
1927: 76 indica que a data da visita de Marques Abreu é 1908;
*5 - Planta igual à de São
Pedro de Balsemão, com três naves e cabeceira de dependência única,
quadrangular. Diferia pelo maior prolongamento do corpo e pelo menor
comprimento da capela-mor (em oposição às proporções de Balsemão);
*6 - Corpo de três naves
(reduzido a metade do comprimento da proposta de Vasconcelos), transepto
saliente e cabeceira tripartida escalonada de dependências quadrangulares, com
a capela-mor mais larga e mais comprida que os absidíolos. Não coincidência da
cabeceira com os muros existentes: arco triunfal situado mais a nascente;
redução dos braços do transepto a um/quarto e desenho de dois absidíolos a
ladear a capela-mor;
*7 - Então datada de época
visigótica, embora hoje se equacione uma cronologia em plena primeira metade do
Séc. X;
*8 - Corpo de três naves como
proposto por Pessanha, antecedido por nártex de duplo compartimento (o central,
mais largo e correspondendo à nave central e uma escadaria a N. dando para uma
eventual tribuna superior); transepto e cabeceira idênticos aos propostos por
Pessanha, com a adição de uma iconostase a separar a nave central do cruzeiro;
*9 - Manutenção do corpo de
três naves escalonado proposto por Pessanha; nártex de compartimento único correspondente
à largura da nave central e de altura idêntica à das naves laterais; ausência
de transepto; cabeceira tripartida quadrangular, não saliente, com capelas
intercomunicantes; pequeno presbitério a E. da capela-mor, de dimensões muito
reduzidas e com acesso através de um arco em ferradura de menor vão que o
triunfal. Ajimez axial sobre o nártex, no prolongamento da fachada principal;
iluminação lateral da nave central através de três frestas harmonicamente
dispostas e das naves laterais por duas frestas e por porta no tramo mais
próximo da cabeceira; iluminação E. através de três janelas correspondentes aos
três volumes (presbitério, capela-mor e nave central);
*10 - Discurso de Marques de
Abreu. Estiveram presentes Alfredo Magalhães (Ministro das Obras Públicas),
Henrique Gomes da Silva (Director Geral da DGEMN), Baltazar de Castro (Director
dos Monumentos Nacionais do Norte), Manuel de Aguiar Barreiros e José Vilaça;
*11 - Nártex maior que no
primeiro projecto; manutenção do corpo em três naves, com acrescento de uma
sacristia a N., sensivelmente com as mesmas proporções que as naves laterais;
transepto saliente; iconostase a separar a nave central do cruzeiro (de dois
andares, o primeiro de tripla arcada e o segundo com três janelas em arco em ferradura
harmonicamente dispostas em relação aos vãos inferiores); cabeceira tripartida
e escalonada, quadrangular; colocação da torre sineira no prolongamento N. da
fachada O. da sacristia, com ligação através de um arco em ferradura inventado;
inexistência de frestas laterais na nave central, mas duas em cada alçado das
naves laterais; inexistência de vãos de iluminação nos topos superiores do
transepto; arco triunfal inserido em alfiz; capela-mor com telhado de três
águas;
*12 - Recusa do local da torre
e da construção de uma sacristia; recusa em construirem-se novas aduelas
rusticadas; supressão de janelas nas naves laterais; colocação de aximezes nos
braços do transepto; configuração tripartida da janela da cabeceira, à maneira
asturiana;
*13 - Em relação ao anterior,
supressão da torre, arco em ferradura e sacristia; colocação do altar a meio da
capela-mor e não adossado à fachada E.; alteração do segundo registo da
iconostase, passando a ter três séries de três arcos em ferradura; supressão de
vãos de iluminação nas naves; colocação de aximezes nos torpos do transepto;
capela-mor com telhado de duas águas; maior abertura do arco triunfal e
supressão do alfiz que o envolvia; janela tripartida na fachada E. da
capela-mor;
*14 - Nártex de compartimento
único, maior que o proposto por Vilaça; manutenção do corpo de três naves;
transepto saliente com arcos diafragma a separar o cruzeiro dos braços e estes
das naves laterais; cabeceira tripartida escalonada e quadrangular, de
capela-mor e dius absidíolos muito pequenos. Inexistência de solução a dar à
iluminação E. da capela-mor e da nave central; ajimez no alçado O. da fachada
principal; arco do nártex com aduelas inseridas numa moldura; arco da porta
principal e das portas do transepto de volta perfeita, com lintel recto;
inexistência de frestas nos alçados laterais; recusa de um museu no narthex;
abandono da iconostase;
*15 - Composto por colunas
classicizantes, com grandes impostas de rolos, material fotografado por Marques
Abreu e ainda visível no local na altura do restauro;
*16 - FERNANDES, 2002: Igreja
de planta longitudinal, antecedida por nártex de duplo compartimento em altura
(com dependência térrea e tribuna superior dando directamente para a nave
central), mas planimetricamente correspondendo à nave central. Corpo tripartido
em naves de três tramos, separadas entre si por arcarias de tripla arcada em
ferradura, com iluminação lateral para a nave central, através de janelas de
arco em ferradura harmonicamente dispostas nos alçados e axialmente em relação
ao fecho de arco das arcarias formeiras. Cruzeiro separado da nave central
através de uma iconostase, de que se desconhece a configuração. Braços do
transepto separados das naves laterais e do cruzeiro através de arcos-diafragma
em ferradura. Cruzeiro rectangular com cobertura em madeira e abundante
iluminação, através de quatro (ou dois) ajimezes integrados ao centro do friso
de arcos cegos que decorava a torre cruzeira. Cabeceira tripartida, mas de
configuração desconhecida, aceitando-se a forma escalonada actual ou, ao invés,
de parede nascente única, correspondendo a uma maior profundidade dos
absidíolos. Em altura, nártex e nave central deveriam estar à mesma altura,
apenas superada pela torre cruzeira, espaço volumetricamente mais proeminente;
naves laterais e braços do transepto mais baixos que a nave central; cabeceira
desconhecida, sendo de aceitar uma gradação volumétrica entre capela-mor (mais
elevada) e absidíolos;
10 – Notas Finais
1 – Visitei a Igreja de São Pedro de Lourosa em
1984, levando por companhia um saudoso Padre e meu ilustre amigo, que Deus já lá tem.
Na altura fez de meu cicerone e deu-me com a
proficiência da sua vasta cultura eclesial um retrato fiel deste precioso e
único Monumento.
Foi uma aula de História, de um tempo em que
Portugal ainda não existia e que eu recebi dentro daquela velha Igreja, olhando
as pedras antigas que pareciam falar enquanto o Padre José Vicente discorria e
embelezava aquele momento com a sua ilustre palavra, cujo eco enchia o velho
templo enovelando-se nos arcos em ferradura e subindo em timbres, que hoje são
uma saudade, até se esbateram no mais alto da sua nave central.
Foram achegas que guardei, logo ali, de
memória e, depois – num tempo breve – as retive e ampliei em letra que se visse
para memória futura.
De tal
forma o fiz que pesem, embora, todos os defeitos, serviram em grande parte para
a elaboração deste trabalho, muito longe de pensar que o labor literário da
altura que teve – a meu pedido, por se tratar de um templo cuja história o meu cicerone conhecia muito bem -
o parecer carinhoso daquele ilustre Amigo, viria a ter expressão no ano em que se comemoram os 1100 anos da construção da Igreja de São Pedro de Lourosa, tendo-se-lhe
guardado mesmo com as obras de restauro que se fizeram o aspecto da
arquitectura moçarabe que chegou até aos nossos dias para honra e glória dos
homens bons que respeitaram aquela jóia e, que hoje, o querem continuar a
fazer.
2 - Todas as datas inseridas neste documento (a
partir do séc. V) foram colhidas na “Tábua Cronológica da História de Portugal.
Transcrição da Cronologia da História de Portugal, in Dicionário de História de
Portugal, Dir. Joel Serrão, Porto, Livraria Figueirinhas, Lisboa, volume VI,
1985.
3 - As fotos que se apresentam são da autoria
do arqueólogo Manuel de Aguiar Barreiros, ano de 1934 e que com toda a vénia se
reproduzem neste documento pela importância histórica de que se revestem.
(1) - A
Lusitânia provém de “lusitani”, povo provavelmente de origem celta, das
palavras “lus” e “tanus”, “tribo dos lusus”. Terá sido fundada no ano 900 a . C., logo muito antes da
invasão de Roma. Abarcava o território desde o Tejo à costa cantábrica, tendo a
Ocidente o Atlântico e a Oriente as terras de tribos célticas. Quando em 29 a .C. foi criada por Augusto
a província Lusitânia, o limite ao norte passou a ser o Douro e ao sul
ultrapassou o Tejo, anexando grande parte da Estremadura, Alentejo e Algarve e
a oriente ocupou parte das terras dos célticos. Apesar de as fronteiras da
Lusitânia não coincidirem com as de Portugal de hoje, os povos que aqui
habitaram são a base etnológica dos portugueses do centro e sul. Desde épocas
remotas que esta faixa territorial foi ocupada pelo homem.
(2) - Na mitologia
romana Júpiter é o pai do deus Marte. Assim, Júpiter é o avô de Rómulo e Rémulo
os lendários fundadores de Roma. Júpiter é filho de Saturno e Cíbele
(3) - A Segunda Guerra Púnica é o mais conhecido
dos confrontos bélicos acontecidos no quadro das Guerras Púnicas entre as duas
potências que então dominavam o Mediterrâneo ocidental: Roma e Cartago. A
contenda acostuma datar-se desde 218
a .C., data da declaração de guerra de Roma após a
destruição de Sagunto, até 201
a .C., em que Aníbal e Cipião acordaram as condições da
rendição de Cartago. Foi através da vitória neste conflito que Roma começou sua
grande expansão.
(4) -
Trata-se de um local que os
alguns historiadores identificam com Guissona, na actual província de Lérida.
(5) - Aliando a um fundo visigótico elementos
árabes, a matriz de Lourosa encontra-se, por isso mesmo, integrada no estilo
moçárabe; que é tal, à míngua de características bem definidas, o qualificativo
que se convencionou dar a todas as igrejas conservadas ou edificadas pelos
cristãos da Espanha que viviam sob o domínio muçulmano. (1n, "A igreja de
São Pedro de Lourosa" - Manuel de Aguiar Barreiros, 1934
(6) - in, Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira, vol. 15 – pag. 514
(7) - Tarik foi um general muçulmano que liderou a
conquista visigótica da Hispânia em 711 sob as ordens do califa omíada Al-Walid
I.
(8) - Os berberes eram – como ainda hoje - um conjunto de povos do Norte de África que
falam línguas berberes, da família de línguas afro-asiáticas.
(9) - P. Miguel de Oliveira, in Fátima, Altar do
Mundo-vol.I, pág. 39
(10) - Al-Andalus foi o nome dado à península Ibérica pelos seus
conquistadores islâmicos do século VIII, tendo o nome sido utilizado para se
referir à península independentemente do território politicamente controlado
pelas forças islâmicas.
(11) - in, Agência Ecclesia – 30 de Abril de 2011.
(12) - As imagens e legendas abaixo são excerto
das Estampas do livro "A igreja de São Pedro de Lourosa do arqueólogo
Manuel de Aguiar Barreiros, editado em 1934
(13) - in, Livro PIÓDÃO, de José Fontinha Pereira - pág. 87.
(14) - Idem,
ibidem, pág. 88.
(15) - in, blogue SIGILLUM MILITUM CHRISTI – 7 de
Março de 2011 - (fonte: IHRU)
gostei de ler. Cada um teve a sua aula de história e conta o que lhe contaram. Eu que sou descendentedos de um dos primeiros povoadores de Lourosa após de 1836, e com historia de familia e nao do padre Vicente. Os poucos documentos existentes deixam muitas lacunas onde os inventores fazem a sequência da sua historia.
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