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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Costa Cabral: uma figura do Liberalismo




António Bernardo da Costa Cabral, nasceu a  9 de Maio de 1803 em Fornos de Algodres e faleceu no dia 1 de Setembro de 1889. Foi uma  figura de grande relevo na política portuguesa do século XIX, tendo deixado o seu nome indelevelmente ligado a uma importante obra que girou em torno da consolidação constitucional no reinado de D. Maria II.

Odiado por uns, adorado e estremecido por outros, Costa Cabral não fugiu ao destino que  envolve sempre os vultos da sua estatura moral e política, para os quais a critica, tarde demais é que  encontra serenidade para os julgar.
Era pequena a fortuna dos pais. No entretanto mandaram-lhe ensinar as primeiras letras pelo abade da terra, como era costume, naquela altura e tanto o mestre como o discípulo tão bem se houveram, que aos 15 anos de idade Costa Cabral estava habilitado com os preparatórios da Universidade, para onde o pai se resolveu enfim a mandá-lo e, onde, com apenas 20 anos concluiu com distinção a formatura em Direito.
Exerce advocacia em Penela e, mais tarde em  Celorico da Beira, tendo-se envolvido na  guerra civil de então, entre absolutistas e liberais, apoiando estes. Vencido o exército constitucional e perseguido, Costa Cabral refugia-se na Galiza, passando depois a Inglaterra, à Bélgica e daí à ilha Terceira.

É um dos bravos do Mindelo.
 Organizador jurídico, não podia passar distante num momento em que de organização tanto se carecia: Por isso após o exercício de Procurador Régio na Relação do Porto, embarca novamente para os Açores (1833), como juiz da Relação daquela província. Ali viveu numa relativa tranquilidade, casando com D. Luísa Meredith Read, filha do cônsul geral de Inglaterra,  a quem  o exército liberal tanto deveu, a começar pelo seu chefe D. Pedro, que o hospedou em sua casa.

Reeleito deputado em 1836, inicia verdadeiramente a sua vida política e parlamentar. Vê com espanto anarquia do País. A destruição de Portugal por um regime enraizado por tantos séculos e que, por isso, não aceitava as ideias novas ainda mal compreendidas pela massa popular.
O país estava no extremo da desordem social, podendo esta desordem conduzir aos mais funestos resultados. Para evitá-los, só um homem de qualidades excepcionais, dotado de energia rara e de esclarecido conhecimento da multidão, poderia estabelecer o sossego e a tranquilidade sob pena de maior desprestigio para Portugal.
Costa Cabral foi o homem escolhido pelo governo e pela rainha para realizar essa tarefa que constituía um problema de todos os portugueses conhecedores da situação. A História regista como ele soube desempenhar-se de tão difícil missão, desempenhando com raro brilhantismo o lugar de Ministro do Reino.

Muitas vezes arriscou e a vida, e muitas vidas salvou também, mas com essas lutas, Costa Cabral criou os primeiros ódios; o sacrifício estava iniciado e a luta esboçava-se, mas a luta, como se viu, não atemorizou o fundador do partido cartista.
Em 1839 é-lhe confiada pela primeira vez a pasta da Justiça, onde a acção da sua personalidade se faz logo sentir, apesar do estorvo constante duma luta formidável com as oposições que, percebendo ser ele a verdadeira alma do Ministério, pouco tempo lho deixaram de sossego. Atacado como ainda não fora nenhum homem publico, nem por isso deixa de regularizar as funções do Ministério público, de melhorar a triste condição dos presos, de prover ao bem estar dos órfãos garantindo-lhes a administração dos bens, de promulgar a sua Novíssima Reforma Judiciaria, código que constituiu um Código modelar, mas o acto que mais caracteriza a sua figura histórica foi a Restauração da Carta Constitucional, em 27 de Janeiro de 1842, no Porto.

Já em Junho de 1837, Saldanha e Terceira, haviam tentado restaurar a constituição de 1826, movimento que ficou conhecido como “ A Revolta dos Marechais”, mas essa tentativa falhou, dando como resultado imediato daí a perturbação do país e o exílio do soldados.
Restaurada a Carta Constitucional, Costa Cabral organiza logo a seguir a Junta do Governo e parte para Lisboa, mas só a 10 de Fevereiro é que se publica o Decreto que restaura oficialmente a “Carta Constitucional” . A 24 desse mês  inicia-se a administração de Costa Cabral, nomeado Ministro do Reino do governo que foi até Maio de 1846.
Durante o primeiro ano do seu ministério, assinala-se: em  18 de Março é promulgado o novo Código Administrativo. O dia 16 de Julho assinala a execução de Matos Lobo, a última que se realizou em Portugal. Em 18 de Agosto o extinto convento da Boa-Hora é posto à disposição do Ministério da Justiça e nele são instalados os Tribunais de primeira instância.
Cria a Escola da Arte Dramática e manda construir o Teatro D: Maria II. Por sua iniciativa é organizado o Conservatório, a Academia das Belas Artes, o Museu da Academia, a Imprensa Nacional e a Academia Portuense de Belas Artes.
Incentiva a organização dos arquivos das Câmaras Municipais e olha com esmero para as Misericórdias e Confrarias.

O reformador, no entanto, não agradava aos “setembristas” que defendiam a Constituição de 1822 e que estiveram  no poder entre 1836 e 1842, tendo com eles alguns dissidentes cartistas, que não cessavam  de  zurzir  no “cabralismo” e, assim em 30 de Julho de 1843 assiste-se a uma sublevação em Torres Novas que acabará por um pronunciamento militar em 4 de fevereiro de 1844, dirigido pelo coronel César de Vasconcelos e José Estêvão, o notável tribuno de grande talento oratório, um e outro setembristas da ala radical, vindo tudo a acabar miseravelmente com a rendição, ás tropas do governo da praça de Almeida, ultimo reduto dos revoltosos.

Finalmente, a campanha aleivosa dos adversários que não hesitavam em desacreditar o ministro, promovendo campanhas torpes que chegaram ao ponto de o envolver em acções de entesouramento pessoal de bens públicos, quando, afinal a sua luta era contra as prevaricações à custa do tesouro – o que lhe acarretou animosidades dentro dos próprios correligionários -  toda a campanha de que foi vítima desembocou na sublevação militar no Minho, (Póvoa de Lanhoso) naquele movimento conhecido por - Maria da Fonte – e  que iniciada em Abril de 1846, provocou em 20 de Maio a queda do gabinete de Costa Cabral.
Foi um a tragédia para Portugal.
Cinco meses após a sua queda para evitar a restauração miguelista, o governo vê-se obrigado a pedir a intervenção estrangeira, 16 de Outubro de 1846. Para acudir à situação a 16 de Novembro do mesmo ano, é Costa Cabral nomeado ministro plenipotenciário e enviado extraordinário em Madrid. Mas as lutas entre os patuleias (os da pata ao léu)  e cartistas, continuavam cada vez mais acesas e o sossego não chegava nunca.
Requisitado de Madrid, foi convidado a formar ministério. Bem sabia ele a sorte que o esperava, e a ninguém ocultou o seu pesar, mas era precisa a sua direcção e por isso aceitou.

Estávamos em 18 de Junho de 1849.
Foi tremenda a luta parlamentar com o Marquês de Saldanha e  Rodrigo da Fonseca a levaram a sua oposição a um ponto nunca visto. A defesa foi excelente. Correspondeu em tudo à violência com discursos que são considerados um modelo. No ocaso da sua carreira política, a eloquência completou o grande estadista que ele era.
Mas tudo foi perdido. Aberto que estava o exemplo os pronunciamentos militares, a força predominaria sempre sobre a razão do Estado e,  por isso,  quando Saldanha pôs o seu génio militar ao serviço da causa revolucionaria, a luta tornou-se impossível. Nascia nessa luta o movimento que ficou conhecido por Regeneração e que havia de levar Costa Cabral no dia 1 de Maio de 1851 a pedir a sua demissão à rainha D. Maria II.

Não havia de cessar, porém, a sua carreira de homem público, pois é no campo diplomático que acaba por surgir. A incúria dos que o precederam no governo havia criado uma situação difícil  nas relações económicas com o Brasil. Para resolver esta questão, Costa Cabral por Decreto de 25 de Abril de 1859 foi nomeado ministro plenipotenciário junto do Imperador do Brasil.
Finda a missão e tendo ganho para Portugal o estatuto de nação mais favorecida, regressa a Portugal e retira-se até ao momento em que, a rogos de Saldanha e Rodrigues Sampaio, seus antigos inimigos políticos, é convidado a assumir a chefia uma delegação do Governo português, junto da Santa Sé, com o fim de derimir uma contenda entre Portugal e a cúria romana a propósito de uma nomeação de bispos, tendo chegado a Roma em Julho de 1870, nas vésperas da tomada da cidade pelas tropas de Victor Emanuel.

Esta embaixada de que se encarregou demonstra, exemplarmente, o carácter do homem liberal que ele foi e por cujas ideias combateu, defendendo-as enquanto diálogo racional e de respeito mútuo como normas que deviam sustentar moralmente a ideia liberal da política, aspirando à superação da tendência geral ao desacordo e fazendo o apelo à moralidade, rejeitando regras de força, criadoras de ódios e violências.
Costa Cabral bem merece ser (re) estudado pela novas gerações.

Este brilhante pugnador das ideias modernas desempenhou, ainda, a função de Ministro junto do Papa, frequentado com assiduidade as recepções no Quirinal, até que, após a morte de Pio IX, foi elevado à categoria de Embaixador  e, tendo, assistido naquela função à solenidade da investidura em 20 de Fevereiro de 1878, do Arcebispo de Perugia, Joaquim Pecci, como Papa Leão XIII, o autor da Encíclica social “Rerum Novarum”, um célebre documento da Igreja.
Por decreto de 11 de Julho de 1878 e por proposta do antigo adversário das lutas políticas, António Rodrigues Sampaio, ao grande paladino do Liberalismo foi-lhe outorgado o título nobiliárquico de Marquês.
Morta a esposa em 1885, no ano seguinte regressa a Portugal e em 1889, na companhia de uma das suas filhas partiu para a Foz do Douro, onde veio a falecer, precisamente na cidade da qual guardava tão gratas recordações


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