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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Afinidades entre duas torres vizinhas



Torre da chaminé de uma Padaria da Estrada de Benfica
e em frente, 
a Torre da Igreja de Nossa Senhora do Amparo 


Como são bem diferentes, estruturalmente, estas duas Torres... e, no entanto, como são bem parecidas nos alimentos que dão... ainda que sejam de naturezas diversas!



A torre onde se estrutura a chaminé da padaria da Estrada de Benfica que fica defronte da Igreja de Nossa Senhora do Amparo - mais alta que os prédios vizinhos por imposição da lei - dá o pão que sustenta o corpo, alimento que alguns entendidos sustentam ter surgido na Mesopotâmia e, depois, se espalhou por todo o Mundo.

Sobre o seu papel importante na comunidade que serve, porque todos o sentem, abrange, desse modo, todos os que na padaria - que não podia existir sem ela - vão comprar o pão, alimento a que, antigamente, era dispensado um hábito de educação cívico-religiosa que se efectivava no acto de o não o voltar ao contrário sobre a mesa da refeição, ou seja, com a parte que esteve pousada no "lar do forno "(1)  voltada para cima.
Se tal acontecesse, punha-se o pão na posição devida, em homenagem a quem o semeou e o recolheu da terra, tendo-se em conta que foi naquela posição esforçada - tantas vezes - mas sempre olhando o Céu de Deus que o homem o cultivou, tal como o pão, foi voltado para o céu do forno (2) que se coseu para o alimentar e, sobretudo, porque o pão se tornou - pela acção de Jesus - um símbolo espiritual.

Aqui, há, com efeito, essa simbologia, mas que não devia ser esquecida, porque os povos que esquecem os símbolos, perdem valores, sejam eles quais sejam.
Coisas de outros tempos que revelavam o respeito religioso que havia e onde não era estranha a lembrança agradecida pelo trabalho de quem produzia este alimento fundamental, bem espelhado na Oração do Pai-Nosso, quando oramos, pedindo a Deus: o pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Sinónimo de vida e de trabalho, o pão faz parte da nossa cultura milenar, onde se pensa, chegou pelo ano 250 a. C., tendo feito parte da atitude esmoler da Rainha Santa Isabel que tinha o hábito de distribuir pães aos pobres.



A torre fronteira dá uma outra espécie de pão, de um sabor único que não sendo um alimento do corpo,o é da alma, que depois de o ter provado jamais o abandona.
Este pão espiritual que já se tinha feito presente no Antigo Testamento, tornou-se mais presente - e para sempre - no Novo Testamento, enquanto Obra do Lavrador único que se chama Jesus de Nazaré.

Vejamos como os seus Apóstolos apresentam o pão que Ele nos dá:


Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (Mt 4, 4)

E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. (Mt 26, 26)

E Jesus, conhecendo isto, disse-lhes: Para que arrazoais, que não tendes pão? não considerastes, nem compreendestes ainda? tendes ainda o vosso coração endurecido? (Mc 8, 17)

E, comendo eles, tomou Jesus pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. (Mc 14, 22)

E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus. (Lc 4, 4)

E, ouvindo isto, um dos que estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado o que comer pão no reino de Deus. (Lc 14, 15)

E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do pão. (Lc 24, 35)

Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer o pão do céu. (Jo 6, 31)

 Disse-lhes, pois, Jesus: Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu. (Jo 6, 32)

Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo. (Jo 6, 34)

Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão. (Jo 6, 35)

E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. (Jo 6, 35)

Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. (Jo 6, 41)

Eu sou o pão da vida. (Jo 6, 48)

Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre. (Jo 6, 58)

Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? (1 Co 10, 16)

Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. (1 Co 10, 17)

 Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.(1 Co 11, 26)

 Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.(1 Co 11, 27)

É este o pão que se evola da Torre da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, de Benfica.
Pão não semeado na terra, mas no coração do homem.
Pão sagrado, alimento da alma!
Mas foi o pão - alimento do corpo - que Jesus dignificou, porque tendo-o tomado na Última Ceia, o partiu, o abençoou e distribuindo-o aos seus discípulos, disse: Tomai e comei; este é o meu Corpo,  (Mt 26, 26) querendo significar com isso que o pão consistente feito de muitos milhares de grãos de trigo, personifica a Igreja una, assente na multiplicidade dos seus elementos.



E assim temos, como se torna possível a afinidade entre a Torre que nos dá o pão, enquanto alimento do corpo - que Jesus dignificou - e a Torre da Igreja que nos dá o pão espiritual, alimento da alma.
E que não se julgue, fora de propósito, o velho ensinamento de não se voltar em cima da mesa o pão ao contrário e pô-lo de seguida a direito, por haver nesta atitude um profundo respeito pela dignidade que o pão representa: o Corpo Sagrado de Jesus.
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(1) - superfície do forno que serve de base ao depósito do pão para ser cozido
(2) - céu do forno: a parte abobada da superfície superior.

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