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terça-feira, 20 de maio de 2014

Alma Serena (Fernanda de Castro)



"Há triunfos que só se obtêm pelo preço da alma,
mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo.
Tagore , Rabindranath



Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro, 
in "Ronda das Horas Lentas"




Ler e meditar Fernanda de Castro é um momento puro, daqueles que nos fazem falta, sobretudo, agora, em que parece, o mundo deixou de ter poetas, mas letristas de canções estridentes que voam como pássaros fugitivos nas asas de um vento norte qualquer.

Na "Ama Serena" o que encontramos é um momento de Paz em que a poetiza deixa perceber o momento que vive. Depois de ter encontrado o caminho, ficam prejudicadas todas as demais rotas de aventura, porque em cima do caminho encontrado tudo torna mais fácil de entender aquilo que falta para cumprir a jornada da vida e, ainda, que seja mais difícil a subida, esta torna-se fácil porque se conhece o rumo.

Tão fácil - se torna - o difícil verso obscuro!

Ou seja, interpretando o sentir de Fernanda de Castro, o que ela nos quer dizer é que, mesmo aquilo que nos possa parecer mais difícil ou menos claro, desde que não passemos escondidos, mas à vista de tudo e de todos, cada criatura se parece com a raiz posta na terra num desejo de dar frutos ou ser água corrente, daquela que se pode beber.

Que sejamos assim. 
Água feita um canto erguido ao sol e para toda a gente.


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