O ouro
Era uma vez um rei, que, tendo achado no seu reino algumas
minas de ouro, empregou a maior parte dos vassalos a extrair o ouro dessas
minas; e o resultado foi que as terras ficaram por cultivar, e que houve uma
grande fome no país.
Mas a rainha, que era prudente e que amava o povo, mandou
fabricar em segredo frangos, pombos, galinhas e outras iguarias, todas de ouro
fino; e quando o rei quis jantar mandou-lhe servir essas iguarias de ouro, com
que ele ficou todo satisfeito, porque não compreendeu ao princípio qual era o
sentido da rainha; mas, vendo que não lhe traziam mais nada de comer, começou a
zangar-se. Pediu-lhe então a rainha, que visse bem que o ouro não era alimento,
e que seria melhor empregar os seus vassalos em cultivar a terra, que nunca se
cansa de produzir, do que trazê-los nas minas à busca do ouro, que não mata a
fome nem a sede, e que não tem outro valor além da estimação que lhe é dada
pelos homens, estimação que havia de converter-se em desprezo, logo que ouro
aparecesse em abundância.
A rainha tinha juízo.
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A este grande homem das Letras Portuguesas, um transmontano de gema que ficou conhecido literariamente por Guerra Junqueiro e que os seus pais sonharam destiná-lo para abraçar a carreira eclesiástica - que longe estavam de tal vir a acontecer! - deve a Literatura Portuguesa o inestimável trabalho "CONTOS PARA A INFÂNCIA" cuja aparição ao público resultou do facto de Portugal - em meados do século XIX - se encontrar social e economicamente num estado deplorável, mercê de uma política fraudulenta levada a cabo por homens corruptos, para os quais as crianças de pouco ou nada contavam e, por isso, eram relegadas para um abandono social e cultural
Constatando esse facto, o tema das crianças é uma constante em toda a produção literária de Guerra Junqueiro, por causa do seu esquecimento a vários níveis, e isto bastou na sua consciência para ele lhes ter dado a importância da sua formação integral, tendo em conta a construção de um Portugal mais consentâneo com a Europa.
Embora muitos dos contos deste livro não sejam integralmente da sua autoria, mas sim, adaptações de contos tradicionais da sua Província transmontana, e outros, o que Guerra Junqueiro nos legou foram flores de amor para as mães recitarem à noite no momento de adormecerem os seus filhos, constituindo, para além de importantes meios pedagógicos de formação mental das crianças, um motivo que levou o feliz autor a falar deste modo no Prefácio do livro:
Constatando esse facto, o tema das crianças é uma constante em toda a produção literária de Guerra Junqueiro, por causa do seu esquecimento a vários níveis, e isto bastou na sua consciência para ele lhes ter dado a importância da sua formação integral, tendo em conta a construção de um Portugal mais consentâneo com a Europa.
Embora muitos dos contos deste livro não sejam integralmente da sua autoria, mas sim, adaptações de contos tradicionais da sua Província transmontana, e outros, o que Guerra Junqueiro nos legou foram flores de amor para as mães recitarem à noite no momento de adormecerem os seus filhos, constituindo, para além de importantes meios pedagógicos de formação mental das crianças, um motivo que levou o feliz autor a falar deste modo no Prefácio do livro:
A alma de uma criança é uma gota de leite com um raio de luz.
Transformar esse lampejo numa aurora, eis o problema.
A mão brutal do pedagogo áspero, tocando nessa alma, é como se tocasse numa rosa.
Para educar as crianças é necessário amá-las. As escolas devem ser o prolongamento dos berços. Por isso, os grandes educadores como Froebel, têm uma espécie de virilidade maternal.
Eis, porque, nestas reflexões a abrir a Obra dedicada aos mais pequenos, o grande homem das Letras Portuguesas não desdenhou de escrever para elas estes ramalhetes de flores olorosas, pondo em cada um deles a sua alma de Poeta e de pedagogo, num tempo em que, em Portugal, poucos se importaram das crianças abandonadas por um Poder obsoleto, ridículo e coxo de valores sociais.
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