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terça-feira, 14 de novembro de 2017

Cântico 4 do Livro Bíblico "Cântico dos Cânticos"


"Cântico dos Cânticos"
Óleo sobre tela de Gustave Moreau (1826-1898)
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O Livro Bíblico "Cântico dos Cânticos" é um poema de amor dividido em oito partes de cariz lírico, percorrendo através dele, o seu autor - o rei Salomão - todo o colorido de um idílio expresso num cântico de amor, qualidades essas que lhe garantiram pela pureza do trato e dos sentimentos nobres um lugar nas Sagradas Escrituras, que leva a que este Livro seja considerado pela elegância literária como das mais preciosas páginas da poesia hebraica.

Deve ser visto neste Livro o amor mútuo entre Deus e o seu povo, ao invés do moderno racionalismo que tem tentado despojá-lo dessa auréola divina, com o propósito inconfessado de o reduzir a amores profanos, o que, infelizmente, para a devida compreensão deste Livro, não raro têm surgido barreiras que, de modo algum, se coadunam com aquilo que ele exprime, tendo tido o seu autor o propósito de com este Cântico fortalecer  os espíritos no amor ao culto severo e puro dos seus antepassados, precavendo os seus súbditos contra a sedução da deslumbrante civilização pagã, ao descrever nos seus castos amores a fidelidade do povo eleito ao seu Deus.

O Cântico - ou Cântico dos Cânticos como foi traduzido literalmente do hebraico - é uma parábola em que podemos acentuar os seguintes ensinamentos:
  • Embora os cenários e o seu matiz sejam configurados com o real do dia a dia, não é obrigatório que as personagens assim o sejam, porquanto:
  • Devemos sentir correspondência entre as coisas narradas e o que se quer significar com elas de acordo com a finalidade que o seu autor estabeleceu, sem contudo ser obrigatório que ela se estenda a todos os particulares narrados, tendo-se em conta que muitas  coisas ali expendidas, servem apenas, para um ornamento literário que tem como causa a fé em Deus uno e trino.
Postas as coisas, assim, leiamos o nº 4 do "Cântico dos Cânticos":
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1.- Tu és bela, minha querida, tu és formosa! Por detrás do teu véu os teus olhos são como pombas, teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo impetuosas pela montanha de Galaad,

2. - Teus dentes são como um rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do banho; cada uma leva dois (cordeirinhos) gémeos, e nenhuma há estéril entre elas.

3. - Teus lábios são como um fio de púrpura, e graciosa é tua boca. Tua face é como um pedaço de romã debaixo do teu véu;

4. - Teu pescoço é semelhante à torre de Davi, construída para depósito de armas. .Aí estão pendentes mil escudos, todos os escudos dos valentes.

5. - Os teus dois seios são como dois filhotes gémeos de uma gazela pastando entre os lírios.

6. - Antes que sopre a brisa do dia, e se estendam as sombras, irei ao monte da mirra, e à colina do incenso.

7. - És toda bela, ó minha amiga, e não há mancha em ti.

8. - Vem comigo do Líbano, ó esposa, vem comigo do Líbano! Olha dos cumes do Amaná, do cimo de Sanir e do Hermon, das cavernas dos leões, dos esconderijos das panteras.

9. - Tu me fazes delirar, minha irmã, minha esposa, tu me fazes delirar com um só dos teus olhares, com um só colar do teu pescoço.

10. - Como são deliciosas as tuas carícias, minha irmã, minha esposa! Mais deliciosos que o vinho são teus amores, e o odor dos teus perfumes excede o de todos os aromas!

11. - Teus lábios, ó esposa, destilam o mel; há mel e leite sob a tua língua. O perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano.

12. - És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada.

13. - Teus rebentos são como um bosque de romãs com frutos deliciosos; com ligústica e nardo,

14. - Nardo e açafrão, canela e cinamomo, com todas as árvores de incenso, mirra e aloés, com os balsámos mais preciosos.

15. - És a fonte de meu jardim, uma fonte de água viva, um riacho que corre do Líbano.

16.- Levanta-te, vento do norte, vem tu, vento do sul. Sopra no meu jardim para que se espalhem os meus perfumes. Entre meu amado no seu jardim, prove-lhe os frutos deliciosos." 
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Prova esta leitura do poema bíblico que homens e mulheres foram criados física e espiritualmente para viverem segundo as lídimas leis do amor humano e que, apesar das nossas falhas em amar aquele ou aquela que é um jardim fechado e sendo o caso da mulher, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma noite selada, para o poeta Salomão concluir emocionadamente: És a fonte do meu jardim, uma fonte de água viva, um riacho que corre do Líbano, donde nos é permitido concluir que o Deus Eterno projectou para os seus filhos o êxtase e a satisfação humanas, celebrando-as através de Salomão, filho do rei David, casa de onde provém Jesus Cristo.

Este Livro - há quem sustente esta ideia - terá sido escrito em honra de um casamento real atendendo ao facto de ser comum em Israel a escrita da poesia romântica que se distinguia de não honrar deuses e  em que  a infidelidade  dos esposos era um tema comum, pelo que o contraste é evidente no "Cântico dos Cânticos" onde se celebra o amor fiel, razão que levou a dar-se a este Livro bíblico aquele nome, por ser o cume dos cânticos, onde o humano se mistura com o divino, e em que a esposa não é só celebrada neste poema, como acontece no nº 6 e no "retrato do esposo" que lemos no "amor inquebrantável" como ela se exprime, relativamente ao seu esposo no nº 7, expressões em que o amor puro, longe das orgias do paganismo. é uma forma de celebrar o Deus Eterno.

De certo modo, o Cântico dos Cânticos" pretende que o homem e a mulher retomem o Jardim perdido de Éden, pela descrição paradisíaca em que se assenta o amor sexual humano, num tempo em que o pecado existe no Mundo que temos, tendo em conta que a sexualidade monogâmica e heterossexual  é um dom da Criação estabelecendo uma plena igualdade entre os seres opostos que fazem do amor uma necessidade humana, na qual os dos seres sexuais opostos necessitam um do outro para estabelecerem uma unidade em todos os aspectos da sua intimidade, devendo a sexualidade ser entendida como uma dádiva sadia que alegra a vida.

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