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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Um conto com base na Parábola "A dracma perdida"



Gravura captada com a devida vénia de "Sementinha Kids"


No Hospital, o ilustre homem de Deus com o seu sorriso aberto, denunciador da magnanimidade do trato humanista que lhe iluminava o rosto e que lhe havia granjeado a simpatia de todos os que tiveram a felicidade de ter privado com ele, quer fosse nos trabalhos de ordem eclesial, como nos seculares, abeirou-se da cabeceira do doente que conhecera de perto e pelo olhar que lhe deu, onde ia direito e amoroso o cumprimento e o desejo das melhoras de saúde, fez sobressaltar o enfermo, onde cresceu pela inesperada visita o dom de Deus que chegava ali, na troca cúmplice dos olhares de duas pessoas que se estimavam mutuamente.

Na mesa de cabeceira do doente estava como sinal e suporte da Fé "A Bíblia de Jerusalém", um precioso Novo Testamento em cujas folhas, por vezes, o rodapé da explicação do texto bíblico supera em tamanho o original de inspiração divina, o que se traduz, por isso, numa ajuda preciosa para o leigo.

O homem de Deus pediu ao doente o Livro divino e deu em folheá-lo até encontrar o trecho narrado por S. Lucas (15, 8-10) onde se encontra a Parábola de "A dracma perdida" que vem na sequência de uma outra "A ovelha perdida"

E leu, pausadamente: 

Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a encontrar? E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida.’ Digo-vos: Assim há alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se converte.

Depois, pastoralmente, a sua voz serena em cuja melodia havia influxos etéreos, tendo em mente, que aquele doente, enrolado nalgumas dores e no desconforto de se sentir hospitalizado, embora o conhecesse como um homem de fé, era preciso que apesar dos contratempos a que o corpo abatido estava sujeito, a fé continuasse intacta, ou seja, que Deus, permitisse que a dracma perdida - uma das dez, de que fala a Parábola, podendo simbolizar uma pequenina perda de fé - não fosse a causa de arrastar com ela as nove que ficaram intactas e, que, com a que se perdera constituíam a unidade da crença em Deus, que tinha de continuar viva, por cima de todos os escolhos.

Para tanto, como fez a mulher da Parábola era preciso acender uma Luz, varrer o ferro-velho que o sofrimento podia causar e continuar firme em Deus, que por fim há-de fazer que se encontre a saúde pedida que se havia de recuperar ali, na cama do Hospital,  e que mais não era que a "dracma perdida" que sempre acontece, hoje ou amanhã na vida de todos nós.

E depois, o que vem?

Como aconteceu coma mulher da Parábola, com a alegria da fé reposta na "dracma" encontrada, todo o doente perfaz de novo a sua fortuna - ou seja, a fé em plenitude - simbolizada nas "dez dracmas" que sendo toda a riqueza da personagem bíblica, tem assim, de ser entendida e, daí, a convocação, como ela fez, dos familiares e dos amigos a quem se pede que se alegrem com ele. 



Acabada a hora da visita regulamentar o homem de Deus despediu-se com o mesmo sorriso com que chegara e foi-se embora, o que não aconteceu com as suas palavras, porque ficaram vivas, a martelar suavemente no doente o seu sentido profundo que teve o dom de deixar que naquela enfermaria tivesse descido um perfume da dialéctica humana, mas com a diferença de trazer associada, a base do divino que existe em todos os homens, mas mais viva na voz de quem, ali, representava por direito adquirido a Palavra incarnada do Verbo de Deus.

O doente ficou a pensar que era um homem de fé, mas sentindo que andava perdido no meio da dor um pequeno nada, ou seja, das "dez dracmas" que era o todo da sua fé, uma delas resvalara e urgia encontrar a décima parte do todo, ou seja, a "dracma" que se perdera.
E foi, daí, que ele entendeu que era preciso acender de novo a Luz da Fé e procurar em todos os cantos - ainda que, no meio da dor - o que era preciso para refazer a unidade em cujo centro faz a sua moradia o Deus Eterno que se compraz em habitar o coração de cada homem.


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