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terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sigo o meu caminho!




O Norte é o meu caminho!



É longo o caminho, eu sei!

Mas mais longo é o meu sonho de aventura, de tal modo, que olho o caminho que parece não ter fim e sigo a meio da estrada da vida para ver quem passa ao meu lado, de ambos os lados do caminho e, ainda que me queiram sugerir outros caminhos: "vem por aqui"... sigo determinado o meu caminho!

Enganam-se os que olhando os meus braços caídos podem pensar que eles significam algum desalento pela jornada, quando, afinal, o que eles querem dizer é, que, um e outro acompanham o ritmo compassado dos passos que vou dando!

Nestes passos levo um rumo.
Sei o caminho e sei por onde vou e, ainda, que me digam para escolher outro caminho não me desvio do meu, levando na mente como um sino a badalar o Cântico Negro de José Régio, como um motivo de encorajamento em todos os passos que vou dando, sem medo da lonjura dos caminhos e dos vendavais, mesmo daqueles que a mim mesmo possam ter causado alguns passos mal dados.

De pouco importa. Eu sigo por onde me diz Deus, que é este o meu caminho.
Não posso ter outro.
Tenho o meu Norte e não sei de outro caminho!



Cântico Negro


 "Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
 Estendendo-me os braços, e seguros
 De que seria bom que eu os ouvisse
 Quando me dizem: "vem por aqui!"
 Eu olho-os com olhos lassos,
 (Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
 E cruzo os braços,
 E nunca vou por ali...

 A minha glória é esta:
 Criar desumanidade!
 Não acompanhar ninguém.
 - Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
 Com que rasguei o ventre à minha mãe

 Não, não vou por aí! Só vou por onde
 Me levam meus próprios passos...

 Se ao que busco saber nenhum de vós responde
 Por que me repetis: "vem por aqui!"?

 Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
 Redemoinhar aos ventos,
 Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
 A ir por aí...

 Se vim ao mundo, foi
 Só para desflorar florestas virgens,
 E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
 O mais que faço não vale nada.

 Como, pois sereis vós
 Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
 Para eu derrubar os meus obstáculos?...
 Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
 E vós amais o que é fácil!
 Eu amo o Longe e a Miragem,
 Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 Ide! Tendes estradas,
 Tendes jardins, tendes canteiros,
 Tendes pátria, tendes tectos,
 E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
 Eu tenho a minha Loucura !
 Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
 E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

 Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
 Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
 Mas eu, que nunca principio nem acabo,
 Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
 Ninguém me peça definições!
 Ninguém me diga: "vem por aqui"!
 A minha vida é um vendaval que se soltou.
 É uma onda que se alevantou.
 É um átomo a mais que se animou...
 Não sei por onde vou,
 Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'


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