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domingo, 16 de novembro de 2014

Paraísos... ou prisões sem grades?



"Às vezes, é preciso perder o Paraíso para encontrar a liberdade essencial que só o conhecimento permite." Pereira Coutinho , João (in, Citador)


O paraíso que a gravura sugere, aparentemente, está abandonado. o que parece dar razão ao autor da frase que se postou em rodapé.

Efectivamente, por muito lindo que seja o paraíso onde se vive,se o homem restringe o seu viver localizando-o sempre num mesmo local idílico e se esquece, que há um mundo e, nele, existem os paraísos - que podem acontecer - dos encontros com a História que se escreve em dada dia na diversidade dos dons, o que acontece é o advir da monotonia e os esbater da beleza, por maior que ela seja no paraíso onde vivemos.

Eis, porque, é preciso, por vezes, deixar o aconchego do remanso letárgico para se achar a liberdade - que o pensador chama de "essencial" no meio da amálgama dos outros homens - na certeza que esta é uma conquista que se adquire e não algo que se possui por um qualquer legado acidental ou de uma qualquer herança.

É, por isso que Clarice Lispector, um dia declarou: Não estou à altura de ficar no paraíso porque o paraíso não tem rosto humano, o que prova que os verdadeiros paraísos só se encontram onde vivem as pessoas na diversidade dos modos, enquanto os outros, os que construímos como fortalezas - embora rodeadas de toda a fulgurância dos meios e das artes de todas as espécies - são prisões sem grades que cedo ou tarde, num dia qualquer deixam de ter encanto, porque lhes falta o humanismo da multidão com os seus barulhos, mas também, com as suas harmonias!

Se pensarmos, depois, no poema épico de John Milton "Paraíso Perdido" Adão tomou a decisão consciente de comer o "fruto proibido" e preferiu ser expulso do Paraíso acompanhando a mulher, do que viver sem ela e, de acordo, com a leitura que o autor nos proporciona - ao arrepio do relato bíblico -  Adão abandonou o lugar de bem estar de mãos dadas com a companheira, porquanto o ficar ali era ter ficado isolado de um mundo que o próprio Deus lhe proporcionou e, onde ele - dizemos nós - podia e devia ser um construtor de paraísos terrenos, gregários e não isolados, esquecido que ficou para sempre o Paraíso Perdido, que era divino e ele adulterou.

Que esta história ficcionada que o génio de Milton deixou à Humanidade nos sirva, especialmente àqueles que se deixam acorrentar nos paraísos que constroem - e que a foto documenta - em vez de se libertarem e virem ao encontro dos paraísos onde vivem as pessoas com os seus dons, costumes em até, com os seus defeitos.

Tudo isto é melhor que viver num paraíso qualquer, mas fugido do mundo... com medo que o mundo o descubra!



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